CUIABÁ, 3 A 9 DE ABRIL DE 2014
Por: Rafaela Souza
Uma cidade que nasceu na beira do rio,
que t rouxe a t ravés das suas águas pessoas de
várias partes do mundo, que quando neste
chão pisaram não quiseram mais ir embora e
foram então construindo a história no coração
do Brasil. Assim é Cuiabá. Na região do
Por to, que não t em esse nome por acaso, a
Cidade Verde recebia pelas águas do rio
Cuiabá várias embarcações e a bordo vinham
mercadorias, ‘paus-rodados’ e curiosos.
Os moradores do Por to, um dos ba i r ros
mais antigo da capital mato-grossense,
re l embram os t empos das fes t as de santo e
carnava i s , dos barcos que a t racavam à be i ra
do rio e da amizade entre as famílias
tradicionais.
Personagens, que nasceram e vivem no
Porto há 80 anos, falam do carinho pela
cidade que ao longo dos anos sofreu muitas
mudanças. E citam desde a enchente de 1974,
que marcou a mudança de muitas famílias para
out ras regiões da c idade , a t é a aber tura de
avenidas que apontava a modernização de uma
Cuiabá caracterizada por ruas de
paralelepípedo.
Descendente de libaneses, Olga José
Marabac, 87 anos, mostra entre lágrimas a
saudade dos t empos em que o Por to era
realmente um porto, e que a liberdade e a
amizade eram comuns na cuiabania.
“Não sabíamos o que era dormir de janela
fechada , todos se conhec i am e se
respeitavam. Os jovens eram educados
rigorosamente e não havia essa violência que
há hoj e . O Por to era mui to boni to, mas os
governantes foram abandonando nossa região
ano após ano, e agora se i que vou mor rer e
não vere i meu Por to bom de viver como foi
um dia”, lamenta.
Não muito distante da casa de Olga vive
Eurídice Pereira, 80 anos, mais conhecida
como Baianinha, por causa da sua tradicional
loja de produtos religiosos. A facilidade de
lidar com o comércio ela herdou do pai, e
depois repassou para os filhos. E foi lidando
todos os dias com os clientes que Baianinha
presenciou e participou de muitas mudanças
na regi ão. E hoj e vê com bons olhos o
crescimento da capital.
“Na minha juventude, minhas irmãs e eu
participávamos de muitas festas,
principalmente a tradicional lavagem de São
Benedito, na beira do rio, e do carnaval.
Cuiabá era uma cidade alegre e sempre com
muitas festas”, lembra a ex-comerciante e
agora aposentada.
Dos momentos ma i s saudosos vêm os
core tos , com os mús i cos que de ixam os
passeios à beira do rio ainda mais românticos.
“Era muito legal os músicos reunidos no
Por to, e e l es sempre tocavam o que pedí amos ,
e , escondidos dos pa i s , os casa i s namoravam
à noite”, revela.
Mas apesar de o tempo ter alterado muitos
costumes e cenários marcantes, Baianinha vê
com bons olhos essas mudanças em Cuiabá:
“O Por to não é ma i s como ant es , mas esse
crescimento de Cuiabá tem sido muito bom,
pois a cidade estava precisando”.
Porto da Saudade...
Especial Cuiabá 295 anos
Olga José Marabac
Eurídice Pereira