EDIÇÃO IMPRESSA - 482 - page 11

CIRCUITOMATOGROSSO
PANORAMA
P
G
3
CUIABÁ, 3 A 9 DE ABRIL DE 2014
ARQUITETURA
Centro tem grande
legado histórico
Apesar do inestimável valor cultural, arquitetônico e histórico, revitalização não sai do
papel por conflito entre poderes
ORIGEM
(IVENS CUIABANO SCAFF
– DO LIVRO KYVAVERÁ)
Lontra brilhante, em guarani
Boes, gente de cá
Diziam Kyvaverá
Bandeirantes dizendo Cuiavrá
O tempo adocicou
Dizemos Cuiabá.
BUCÓLICO
(Antonio Carlos Lima- Toninho
do livro A! PÔ! CÁ! ALI! Psiu!)
A água baixou
Pra longe das casas
Pantanal transbordou
Numa enchente de asas!
Jogo de empurra retarda revitalização
Os poderes
públicos – sobretudo
da esfera municipal e
estadual –
protagonizaram um
conflito durante muitos
anos em relação ao que
deveria ser feito com o
patrimônio histórico da
cidade, segundo o
arquiteto e professor da
Universidade de Cuiabá
(Unic) José Antônio
Lemos, em entrevista
ao
Circuito Mato
Grosso
.
José Lemos
destaca que, além de o
imóvel necessitar de
características
marcantes de
determinada época para
ser tombado, além da
técnica, precisa ter
vinculação com a
cidade, dando exemplo
de um prédio onde
tenha acontecido algo
marcante. Mas lamenta
o jogo político que
permeia a discussão,
sobretudo numa cidade
com quase 300 anos como
Cuiabá, que tem exemplos
de arquitetura que valem a
pena ser tombados.
“Assisti, durante
muitos anos, a mais um
conflito do que uma
tentativa de acordo entre
os poderes. Vi muitas
vezes o município querer
fazer um serviço, mas aí o
Estado não entrava em
acordo e vice-versa. Acho
lamentável, pois, no caso
de Cuiabá, temos imóveis
que datam do século
XVIII que poderiam ser
tombados e
revitalizados, não apenas
pelo seu estilo mas
também pelo vínculo
que têm com a cidade”,
diz ele.
De acordo com o
arquiteto, um dos
investimentos mais
urgentes que deveriam
ser feitos seria o
rebaixamento da fiação
dos postes do Centro
Histórico, tendo em
vista que essa é uma
condição primordial
para a realização de um
“trabalho superficial”.
Afirmando que outros
imóveis
contemporâneos
também deveriam
receber o tombamento,
o professor
universitário relata que,
ao longo dos anos, os
investimentos públicos
foram insuficientes para
cumprir tal demanda.
Diego Fredericci
O Centro Histórico de
Cuiabá aos poucos
começa a ser ‘invadido’
por pessoas que
acreditam em sua
revitalização e apostam na
valorização de um espaço
há bem pouco tempo
ocupado por dependentes
químicos, traficantes e
casas de prostíbulo e
jogatina.
O fotógrafo
profissional Rai Reis e o
publicitário João
Manteufeul, o João
Gordo, são exemplos de
profissionais antenados.
Já estão devidamente
instalados no entorno da
Praça da Mandioca, o
principal reduto cultural e
popular da capital mato-
grossense, localizada
justamente entre os
antigos casarões da região
central.
Esse movimento
natural de revitalização do
centro, bem marcante nos
295 anos de Cuiabá, vem
de encontro ao valor
arquitetônico e histórico
do local, como bem
descreve a doutora em
Teoria e História da
Arquitetura e Urbanismo e
professora da
Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT)
Luciana Mascaro:
“Prédios e construções
antigas não são itens
isolados que formam o
patrimônio histórico de
uma localidade, pois o
traçado urbano e a
paisagem que
proporcionam
determinado ponto
também compõem a
história e a cultura de
uma região”, observa
Luciana.
Para a especialista,
uma edificação isolada
não apresenta o mesmo
valor histórico e cultural,
em termos qualitativos,
do que um conjunto,
dando o exemplo do
Conjunto Arquitetônico,
Urbanístico e Paisagístico
do Centro Histórico da
Cidade de Cuiabá, e seu
traçado urbano, que
remonta ao início da
colonização da região, no
século XVIII. Ela diz
ainda que esses espaços
são também fonte de
conhecimento.
“Temos no Centro
Histórico aquele traçado
urbano, das ruas, que
permanece original desde
o início da cidade. Esse
traçado é muito
importante. Uma
edificação isolada talvez
não tenha o mesmo valor
em termos qualitativos,
por isso que o Conjunto
Arquitetônico do Centro
Histórico de Cuiabá possui
relevância. Esses fatores,
além da paisagem,
possuem um valor
histórico e cultural, além
de ser fonte de saberes
daquela época”, diz ela.
Ela afirma também
que o patrimônio de uma
região tem fundamental
importância na identidade
e no sentimento de
pertencer a uma
localidade que recai sobre
as pessoas. “A edificação
tem seu valor histórico e
cultural, e ela também é
um documento que
transmite saberes. O
patrimônio tem um
sentimento de identidade.
Se você não conhece nada
da sua história, fica
parecendo que não existe
nada lá atrás. Mas, a
partir do momento em que
você conhece, forma
laços muito mais
facilmente, cria vínculos
com aquilo. Se você não
entende, não sabe o que é
aquilo, não atribui valor e
fica fragilizado em sua
autoestima”, afirma ela.
Foto: Mary Juruna
Alguns casarões são sinônimo de abandono e
descaso com o patrimônio histórico cuiabano
Outros são resguardados por seus proprietários
e ainda usados para exploração do comércio
A Praça da Mandioca reúne diferentes tribos,
que agora ocupam o espaço antes marginalizado
O local se transformou num importante reduto de
manifestações culturais da Capital
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