CIRCUITOMATOGROSSO
PANORAMA
P
G
2
CUIABÁ, 3 A 9 DE ABRIL DE 2014
295 ANOS
A exemplo de 70,
Cuiabá muda de cara
As transformações no trânsito e nos logradouros são bem-vindas aos cuiabanos, mas
responsáveis por grandes transtornos
(Dunga Rodrigues - do livro Crônicas Cuiabanas)
...Um hábito muito radicado nesta terra, já pela
dificuldade de transporte, ja pela economia com
fretes, era ficar à espreita de quem fosse viajar,
para merecer um favorzinho, de levar uma
encomenda. E quando o viajante abria a
fisionomia, esperando que lhe dessem apenas um
embrulhinho, que não lhe tomasse lugar nas
malas, aparecia o pedinte com um verdadeiro
trombolho debaixo dos braços, tornando lívido o
amigo solícito que se dispusera a prestar um
favor...
-Não se tapa o passado, goteira-o
por entre dentes.
(SILVA FREIRE do Livro
PRESENÇA NA AUDIÊNCIA DO
TEMPO)
- tá certo, mas... e se ele não lhe
der trela, como vai ficar você,
nessa
patxão
de fogo?!
- Viro a canoa na cara dele,
fétcho
o
catxão
e morro!
(SILVA FREIRE do Livro
PRESENÇA NA AUDIÊNCIA DO
TEMPO)
Por: Rafaela Souza
Cuiabá completa 295
anos neste mês de abril
revivendo a década de
70. A cidade literalmente
de cabeça para baixo por
conta de obras
grandiosas e a população
vivendo um misto de
expectativa por um salto
de desenvolvimento e
também de aflição por
conta dos grandes
transtornos,
especialmente no
trânsito. Com um
diferencial: Cuiabá hoje
é sede da Copa do
Mundo.
E nunca um ano de
Copa foi tão aguardado
pela população cuiabana
como 2014. Não só pela
expectativa de ver o
Brasil em campo, mas
também para usufruir de
todos os benefícios
prometidos à sede da
Copa do Pantanal.
Enquanto torcedores
seguem em contagem
para o início do
Mundial, toda a
população segue o
desafio diário – que
começou há cinco anos
– de enfrentar
congestionamentos de
quilômetros de distância,
acordar de 20 minutos a
1 hora mais cedo, passar
sobre viaduto, por baixo
de trincheira, ao lado de
A década de 70 foi um
divisor de águas
Serviços básicos de saúde, educação e
segurança, com o novo perfil de Cuiabá, já não
atendiam tantas pessoas que vieram em busca de
oportunidade para crescer. De acordo com o
historiador Aníbal Alencastro, a década de 70 foi
um divisor de águas.
“Os problemas de transporte, saúde e
educação começaram nesse período, pois a capital
não estava preparada para receber tantas pessoas.
Os governantes não deram atenção a essas
estruturas, e até hoje o mesmo suporte que tinha
para a população de 70 tem agora para essa
década”, diz Alencastro.
O historiador lembra que nos anos 70, muitas
obras foram marcantes, como a construção da
Avenida Rubens de Mendonça, a escolha do local
que hoje é a Grande Morada da Serra,
popularmente conhecida como CPA.
“Aquele foi um período de obras como está
sendo agora, e um momento importante, pois a
população pedia por isso. Cuiabá, apesar desses
dois momentos de crescimento, ainda tem um
grande problema: é uma cidade inchada, pois o
aumento de pessoas é desproporcional ao
desenvolvimento”, lembra Aníbal.
Para o historiador cuiabano, descendente de
família tradicional e que viveu momentos
memoráveis de Cuiabá, o grande problema da
cidade é a ‘politicagem’ a favor do crescimento de
poucos. “Eu lamento muito que uma cidade tão
carinhosa com quem chega de fora, onde as
pessoas se conhecem e se respeitam, acaba
sofrendo gestões seguidas nas mãos de políticos
que não pensam no conforto da população”.
Mas, olhando para o futuro, Aníbal Alencastro
vê através das obras uma cidade mais confortável
e acredita que muita coisa irá melhorar. “Estamos
em um momento novo, o meu período já passou,
agora são os jovens que vão construir uma nova
história e essas obras melhorarão com certeza o
cotidiano de quem trabalha, quando ficarem
prontos”, conclui Aníbal Alencastro.
Dos anos 70 para cá,
Cuiabá registrou dois
momentos distintos e de
grande transformação. Em
1974 uma enchente abalou
a capital mato-grossense.
Bairros foram
completamente destruídos
e outros construídos às
pressas para alojar os
desabrigados. Ruas e
avenidas foram abertas.
E o segundo grande
crescimento está se dando
agora com as obras da
Copa mudando o cenário
da cidade.
Em 1974 as águas do
rio Cuiabá invadiram as
casas ribeirinhas de
bairros como Porto e
Praeirinho. Muita gente
precisou se mudar. A
construção da Avenida
Beira Rio também
colaborou para essa
alteração na paisagem. Ao
mesmo tempo, o Centro
Político Administrativo
(CPA) e o bairro com o
mesmo nome estavam
surgindo, o que levou
muitas pessoas para a
região norte de Cuiabá.
Avenidas largas,
carros e muitos migrantes
começaram a ocupar a
Cidade Verde, e junto os
cuiabanos começaram a
conhecer entorpecentes
nunca aqui vistos. As
pessoas começaram a
adotar um novo ritmo de
vida e a violência também
ganhou novos e tristes
índices na Capital, agora
mais populosa e agitada.
Boom! A população de
Cuiabá cresceu 112%
nessa década.
ACapital deMT emduas grandes fases
obras intermináveis e de
outras que ainda
parecem um sonho.
E quem um dia
pensou que a avenida
mais charmosa da
cidade, a Rubens de
Mendonça, que era
tomada por árvores, um
canteiro central largo,
agora era um espaço
tomado por tratores,
pois por ali tem a
promessa de passar o
‘minhocão’?, ops!, o
Veículo Leve sobre
Trilhos (VLT)?
E não dá pra deixar
de citar a Arena
Pantanal. O estádio
padrão Fifa ocupou o
lugar do querido Verdão,
que presenciou vários
partidas clássicas, mas
que precisou ir ao chão
por não atender às
necessidade de uma
população que mais uma
vez se multiplicou, e
agora ainda iria receber
visitantes.
A Avenida Miguel
Sutil, que foi construída
em 1995 pelo governador
Dante de Oliveira, foi
considerada uma obra
ousada à época, e até
desnecessária para
Cuiabá por seu porte e
custo. Porém, quem diria
que em menos de 20
anos ela já seria
considerada obsoleta a
ponto de não suportar o
fluxo de carros, e várias
obras tomarem conta dos
seus 14 km de extensão.
Mas todo esse ritmo
acelerado para preparar a
‘casa’ para os jogos da
Copa não foi está tão
célere quanto planejado.
Atrasos tomaram conta
das manchetes dos
jornais e obras que
deveriam ser entregues
com seis meses de
antecedência ainda
estavam em meio ao
caos que se instalou,
deixando a cidade
tomada pelo estresse.
Ruas esburacadas,
desvios intermináveis e
inviáveis, trânsito lento,
obras inauguradas e
ainda inacabadas e
outras desmoronando.
Obras, crescimento
vertical e jogos do
Mundial, esses serão os
grandes marcos de
Cuiabá nos seus 295
anos. A cidade do
coração da América do
Sul agora tem uma nova
estética e um novo ritmo
de vida.
Foto: Mary Juruna
Foto: Mary Juruna
Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Mary Juruna
Viaduto em construção na Avenida da Rubens de
Mendonça, conhecida como Avenida do CPA
Amesma Avenida Rubens de Mendonça passando por
intervenções em 2014 para receber o VLT
A Avenida Tenente-Coronel Duarte
recebendo asfalto na década de 70
E em 2014 em meio ao trânsito frenético e
grandes intervenções de mobilidade