CIRCUITOMATOGROSSO
PANORAMA
P
G
2
CUIABÁ, 13 A 19 DE MARÇO DE 2014
CONSTRUÇÃO CIVIL
Copa não beneficiou empresas locais
Apesar de novas oportunidades, indústria queixa-se da falta de integração entre empresas locais e Copa do Pantanal
Diego Frederici
Os megaeventos, a
exemplo da Copa do Mundo,
são caracterizados pela
grandiosidade em relação a
público, tecnologia e
impactos políticos e
econômicos que recaem
sobre cidades, unidades
federativas e,
consequentemente, todo o
país. Uma das indústrias que
mais se beneficiam dessas
oportunidades singulares é a
construção civil, tendo em
vista que a demanda por
novos projetos de
infraestrutura aumenta
consideravelmente.
“Nenhum setor cresce
sem a indústria da construção
civil. Mas lamentamos que as
empresas de fora, com o aval
do governo, não tenham
utilizado o conhecimento e a
experiência que já tínhamos
da região. Poderíamos
contribuir e ajudar”. O
desabafo é do presidente do
Sindicato das Indústrias da
Número de construções
habitacionais cresceu 250%
A Copa do Mundo, por
outro lado, ajudou os
cuiabanos a sonhar com a
casa própria, pois nos
últimos quatro anos o
quantidade de unidades
lançadas na Capital e em
Várzea Grande, na região
metropolitana, foi de 3,5 mil
por ano. O número
representa um salto de mais
de 250%, tendo em vista
que até 2009 – ano em que
as cidades-sede foram
escolhidas – esse valor não
chegava a mil imóveis.
A informação é do
presidente do Sindicato das
Empresas de Compra,
Venda, Locação e
Administração de Imóveis
Residenciais, Comerciais e
Condomínios de Cuiabá e
Várzea Grande (Secovi-
MT), Marco Pessoz.
Para o representante
dos empresários do setor
imobiliário, a influência da
Copa do Mundo nos
negócios foi importante para
colocar Cuiabá em destaque
nacional, na medida em que
um evento desse porte,
reunindo nações de todo o
2013 bateu recorde
de financiamentos
De maneira geral, o
mercado imobiliário não
tem queixas do ano de
2013, que representou um
recorde em
financiamentos. Nada
menos do que 529,8 mil
unidades foram
financiadas em todo o
Brasil, movimentando um
valor que superou R$
109,2 bilhões – aumento
de 32% em relação a
2012, quando o montante
registrado para a aquisição
de propriedades foi de R$
82,8 bilhões, somando
453,2 mil imóveis,
segundo a Associação
Brasileira das Entidades de
Crédito Imobiliário e
Poupança (Abecip).
Outro fator que pode
ter contribuído para esse
aumento foi a alteração do
valor-teto para
financiamentos
residenciais utilizando
recursos do Fundo de
Garantia do Tempo de
Serviço (FGTS) que,
desde setembro de 2013,
subiu de R$ 500 mil para
R$ 650 mil na maioria das
unidades federativas –
salvo São Paulo, Rio de
Janeiro e Distrito Federal,
cuja importância-limite
para investimento é de R$
750 mil.
Pessoz também exalta
o número de
empreendimentos
comerciais lançados em
Cuiabá e Várzea Grande
nos últimos anos. Ele
aponta que, até 2010, os
dois municípios
registravam apenas um
lançamento a cada quatro
anos. Hoje, a realidade é
diferente. “No período de
2011 e 2012, doze
empreendimentos
comerciais foram
lançados. Tudo em menos
de dois anos. Houve uma
explosão da área
comercial”, analisa.
mundo, jogou os holofotes
sobre a capital mato-
grossense. Segundo ele,
tornou-se possível divulgar
a cidade e Mato Grosso
como um todo, dizendo ser
um “Estado próspero”.
Ele destaca algumas
mudanças que, na sua
opinião, foram positivas.
“Para nós foi um fator
muito positivo. Acho que o
nível de infraestrutura que
podemos atingir demoraria
mais de cinquenta anos para
alcançarmos não fosse o
evento. Muitas empresas de
nível nacional vieram para
cá. O momento
macroeconômico também
foi favorável”, diz.
Os negócios
imobiliários emMato
Grosso estão fazendo
corretores e empresários
rirem à toa. Só no ano
passado R$ 437 milhões
foram financiados apenas no
Estado, para o programa do
governo federal
Minha
Casa, Minha Vida.
Ao todo,
a demanda por esse tipo de
crédito aumentou 123%.
Construção do Estado de
Mato Grosso (Sinduscon),
Cezário Siqueira Gonçalves
Neto. Ele reconhece que a
Copa gerou euforia em
virtude da visibilidade que o
evento pode trazer e a
consequente elevação do
padrão de qualidade de
serviços e produtos. E a
construção civil, por ser
uma indústria de base que
viabiliza outros tipos de
negócios, recebe os
benefícios diretos que
eventualmente ocorrem,
mas também pode sair
prejudicada por uma gestão
ineficiente do poder público.
Para explicar sua
argumentação, o presidente
cita um estudo publicado
pela Ernst & Young – uma
das maiores empresas de
auditoria do mundo – em
parceria com a Fundação
Getúlio Vargas (FGV),
publicado em 2010, que
apontou que a Copa tem
potencial de investimentos
diretos no país de mais de
R$ 142 bilhões. Ainda de
acordo com o levantamento,
3,6 milhões de empregos
serão gerados por ano,
aumentando a renda da
população emmais de R$ 63,4
bilhões e assim impactando
diretamente o mercado de
consumo interno.
Cesário Siqueira,
contudo, queixa-se que o
volume de recursos pouco
beneficiou as companhias do
Estado, afirmando que “nem
20% deles foram gastos com
empresas daqui”. Ele exalta os
profissionais e organizações
da região que “agiram de
maneira profissional e positiva
ante os desafios que se
desenhavam para a viabilidade
do evento”. No entanto, para
Cezário, o governo deixou
escapar a oportunidade de
adquirir conhecimento e
assimilar tecnologias de fora
que foram empregadas em
Cuiabá e região.
“Empresas vieram aqui,
aplicaram tecnologia e depois
que o contrato acabar elas irão
embora. Quem irá dar
manutenção nessas obras
depois? Sempre que
precisarmos, iremos buscá-la
fora do Estado?”, diz.
Mas nem tudo são
críticas para a área, segundo
o empresário da construção
civil. A demanda por mão de
obra está alta e os salários
tiveram aumento
considerável nos últimos
anos. “O salário dos
trabalhadores na construção
civil aumentou quase cem
por cento nos últimos
quatro anos”, afirma.
Foto: Mary Juruna
Foto: Diego Frederici
Foto: Mary Juruna
Foto: Diego Frederici
Da assessoria
O bairro Jardim
Vitória, localizado na
região norte de Cuiabá,
carece de infraestrutura
desde sua criação. Para
regularizar o
abastecimento de água na
região, a concessionária
de água e esgoto da
Capital, de CAB Cuiabá,
iniciou no bairro o
Programa de
Padronização do
abastecimento com a
implantação de novas
redes de distribuição de
água, substituições e
instalação de hidrômetros
e ramais. Mais de 500
ligações já foram
padronizadas e à medida
que o trabalho avança pelo
bairro, as ligações
irregulares ou
clandestinas, que retiram
a pressão necessária para
que a água chegue às
casas, vão sendo
retiradas.
A concessionária
começou a trabalhar no
bairro Jardim Vitória no dia
08 de janeiro, iniciando os
Programa de padronização vai regularizar
abastecimento no Jardim Vitória
serviços pela Rua Zero. Já
foram implantados 600
metros de rede nova, em
locais que não possuíam
um metro sequer de rede
de água e substituição de
mais 3.048 metros de
rede. As substituições
ocorreram por conta do
material aplicado (redes,
ramais e conexões) de
forma improvisada e fora
do padrão de execução,
realizadas pelos próprios
moradores.
O programa de
padronização do sistema
de abastecimento é uma
das principais ações da
empresa para adequar as
ligações e sistema de
distribuição de água
naqueles bairros que
sofrem com a
intermitência para tornar o
fornecimento mais
eficiente.
Antes de iniciar as
obras em um bairro, a
CAB Cuiabá realiza um
diagnóstico sobre a região
que será trabalhada. Em
seguida, é feito o projeto
de modelagem hidráulica,
que é a definição da
melhor forma de
abastecimento de água
naquela região. Em campo
as equipes da
concessionária fazem a
troca ou nova instalação
de materiais (tubulações,
conexões, caixas de
proteção e hidrômetros), já
dentro do padrão adotados
pela concessionária.
Quando necessário, é
feito prolongamento da
rede para atender os
imóveis que não estavam
ligados ao sistema de
abastecimento e em
algumas situações, o
abastecimento é reforçado
com a ampliação da rede
de água e do sistema de
bombeamento. O
Programa de
Padronização envolverá no
total 100 bairros da
cidade. Com a adequação
de todo o sistema, o
abastecimento torna-se
mais eficiente e a
população passa a receber
água com pressão e
vazão, em níveis
satisfatórios.
Copa de 2014 movimentou indústria da construção civil, mas
demanda deve se estabilizar nos próximos meses
Para o presidente do
Sinduscon, Cezário Siqueira
Gonçalves Neto, profissionais
e empresas locais poderiam
contribuir mais com o
conhecimento da região
Quantidade de unidades residenciais lançadas nos últimos
quatro anos foi de 3,5 mil unidades em média, segundo o
presidente do Secovi-MT, Marco Pessoz
Aumento do valor-limite de financiamentos comutilização dos
recursos do FGTS pode ter aumentado a procura pela casa própria