CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 13 A 19 DE MARÇO DE 2014
CULTURA EM CIRCUITO
PG 6
CADEIRA DE BALANÇO
Por Carlinhos Alves Corrêa
Carlinhos é jornalista
e colunista social
ERAUMAVEZMARIANA
ILUSTRECUIABANO
Falar do ilustre cuiabano Dr.
Gervásio Leite é ver uma Cuiabá
mais intelectualizada no perfume do
romantismo, acima de tudo cultural.
Este cidadão de quem nos honra
falar foi aluno do Liceu Cuiabano,
fez o curso de Direito no Rio de
Janeiro. Na época, o seu cotidiano
era ler bons livros, entre eles
“Memórias Póstumas de Brás
Cubas”, “Os Maias” e “Também o
CisneMorre”, deAldous Huxley.
Um homem de visão futurística,
com seus projetos literários,
fundou, comRubens de Mendonça
e João BatistaMartins deMelo, a
revista Pindorama. Dr. Gervásio
Leite sempre teve umdenominador
comum: a literatura. Recebeu
convite do Interventor Dr. Julio
Müller para exercer o cargo de
promotor do Estado. Segundo o
ilustre cuiabano: “O sonho
terminava, começava a realidade”.
Ele trabalhou no jornalismo durante
muitos anos, inclusive em “O
Estado de Mato Grosso”, onde teve
uma brilhante fase lançando um
suplemento literário, no processo de
criação intelectual que ele usava.
Alémdisso, foi advogadomilitante
(um dos melhores), deputado
estadual, professor universitário,
desembargador, em tudo o que fez
deixou seu nome marcado com
letras de ouro. Asua participação
ativa em peças teatrais comAlberto
Addor,Anna da Costa Pinheiro,
Leônidas Mendes e outros projetou
luz nas artes cênicas, no estado. De
qualquer modo, Dr. Gervásio nunca
abandonou o romantismo. O talento
e o profissionalismo do Dr.
Gervásio Leite, bem como os seus
escritos deixarammarcas nas
nossas instituições culturais.
BATEOSINO
Me lembro quando as opções
dominicais eramdo tipo obrigação:
assistir a Santa Missa no Largo do
Rosário e na Catedral do Bom
Jesus, a distância da Rua Vila
Maria, no bairro do Baú, até o
Largo da Matriz era chão. O bom
mesmo era ver a “Preta”, que
irradiava alegria com a criançada da
época na PraçaAlencastro. No
bate-sino para dar uma fugidinha
para sapear o centro urbano da
capital, que despertava um
batimento no coração para assistir a
SantaMissa celebrada por padre
Jonel Benedito ou Firmo Pinto
Duarte.Amoçada do bairro Baú
arrasava quarteirão com a sua
beleza, os moços davammil voltas
no jardim, apreciavam um bom
filme no Cine Tropical, Cine Teatro
Cuiabá ou mesmo dava uma ida ao
Bar do Beto. Na Cuiabá festeira, as
opções eram tantas para o lazer da
juventude aos domingos!Vejamos:
o jantar dançante do Clube D.
Bosco, a delícia do sorvete de coco
do Seror, ouvir retreta no Jardim
Alencastro ou tomar um chope no
Bar Pinheiro ou do Bugre, depois de
uma boa despertada das batidas dos
sinos, que nos elevavam com os
nossos compromissos com Deus.
ESCALDADOCUIABANO
Quando se fala de “Escaldado”,
nos lembramos do exímio cozinheiro
conhecido por Noêmio, com a sua
criatividade deu o novo sabor na
criação deste prato, quebrando tabus
das residências das famílias
cuiabanas. Oescaldado doNoêmio
era omais saboroso da capital, era
servido noBar Barra Limpa, que
ficava no tradicional bairroBaú
Sereno.As más línguas diziamque
este prato levantava defunto, depois
de umas boas suadas nas casas de
mulheres dos prazeres. Nos cabarés
do Baú, servia-se o revirado, e com
o passar do tempo o escaldado
entrou na moda. Este prato tinha um
valor nutritivo, para dar sustento às
moças que trabalhavamnas noites
longas, tudo era preparado no
capricho pelas cafetinas. Lá pelo
Ribeirão do Lipa, o escaldado de
Madalena era famoso na época, o
seu empreendimento era visitado por
homens influentes emdiversos
segmentos da vida pública. O
preconceito era tanto por parte de
algumas famílias abastadas, no seu
cardápio o escaldado estava de
fora, porque prato servido na Zona
do BaixoMeretrício. Hoje, o
escaldado é referência pra muita
gente boa, sendo o prato da
madrugada, a “energia da noite”.
Dizem que é afrodisíaco. Os
políticos e gente da sociedade que
gostavam de pular cerquinha
diziam: “Quemnunca comeu
escaldado do Noêmio nunca foi
boêmio”.
INCLUSÃO LITERÁRIA
Por Clóvis Mattos
Clóvis é historiador e
Papai Noel nas horas vagas
Trecho do livro
“Desde o início da gravidez,
Marcus e Rebeca sonharam com
uma menina e ficarammuito
contentes quando, ao fazer o
ultrassom com 16 semanas de
gestação, puderam constatar que
Mariana estava chegando.
A gravidez foi tranquila, sem
intercorrências indesejadas, como
ameaça de aborto, descolamento
de placenta, internações e tantas
outras. Rebeca havia se preparado
para a gestação e o nascimento de
Mariana. Ela e Marcus leram
muito, fizeram cursos para pais,
buscando informações e
conhecimentos sobre esse
momento tão importante na vida de
um casal. Tais informações e
conhecimentos os ajudaram,
principalmente para estaremmais
seguros e menos ansiosos nos
primeiros meses de vida de
Mariana. O tornar-se pai foi um
pouco angustiante para Marcus.
Ele não estava entendendo o que
lhe acontecia internamente. Via-se
muito preocupado, ansioso e com
medo de alguma coisa lhes
acontecer: como a filha ficaria?
Pensava em seus pais, mas agora
eles já estavammuito velhos e
precisavam de cuidados. Já não
conseguiriam cuidar de Mariana
como cuidaram dele no passado.
Essas preocupações estavam
tirando o sono de Marcus, que
tentava esconder da mulher.
Rebeca – no momento tão
envolvida com a espera e os
preparativos do nascimento de
Mariana – não percebeu a
preocupação do marido”.
Aobra
Era uma vez Mariana…
é uma
narrativa leve de situações
profundas acerca das relações entre
pais e filhos. O relacionamento de
um casal, o planejamento de filhos,
a gestação, nascimento e
crescimento das crianças são
abordados com a naturalidade
legítima das questões atuais e com
o conhecimento científico da
Psicanálise e da Psicologia.Aautora
não faz ummuro alto separando
ciência de ficção: ela passeia à
vontade num chão e noutro. O
resultado é um livro de leitura
saborosa, em que o leitor pode
seguir a trama verossímil de uma
história, sorrir e se entristecer com
uma personagem e, ao mesmo
tempo, aprender com o narrador de
um romance alguns modos de ver,
vivenciar e, por vezes, superar os
conflitos que ocorrem no convívio
familiar.
Aautora
Rosa Graciela de Campos
Lopes, mato-grossense nascida em
Rosário Oeste. Psicóloga graduada,
desde 1993, pela Universidade de
Cuiabá (Unic). Em2009, concluiu
seuMestrado emPsicologia da
Saúde pelaUniversidadeCatólica
DomBosco (UCDB), emMato
Grosso do Sul. Seu trabalho
acadêmico baseou-se em dados
empíricos buscados no cotidiano de
sua clínica, na acolhida e escuta
regular e constante de crianças,
jovens e adultos.