CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ,
13 A 19 DE MARÇO
DE 2014
POLÊMICA
P
G
7
HOSPITAL DE CÂNCER
Ala paralisada por falta de custeio
Hospital não dispõe de recursos para bancar espaço que poderia ser utilizado no diagnóstico precoce de câncer de mama
Diego Frederici e
Rafaela Souza
O câncer é uma
doença que ainda causa
temor em algumas
pessoas, tanto que, não
raro, até evitam falar do
assunto. Estigmas e
preconceitos à parte, com
o diagnóstico precoce
essa enfermidade pode ser
superada, e muitas vezes
até mesmo evitada,
dependendo do estilo de
vida das pessoas, como
alimentação saudável e
prática de exercícios
físicos. Referência no
Estado para o combate
desse mal, o Hospital de
Câncer (HCAN), na
capital, sofre com a falta
de recursos de custeio e é
obrigado a deixar uma ala
inteira para atendimento
fechada.
Dados do Hospital de
Câncer apontam que no
período de 2007 a 2011 o
câncer de mama teve a
segunda maior incidência
nas mulheres no Estado,
com 732 casos
verificados. A variação da
doença perde apenas para
o câncer de colo de útero
que, no mesmo intervalo
Com
infraestrutura pronta
para o atendimento
para mulheres que
desejam se prevenir
ou realizar o
tratamento contra
câncer nos seios, o
HCAN tenta buscar
cooperação para
viabilizar o espaço,
que conta com
máquinas de altíssima
tecnologia,
recorrendo, inclusive,
aos governos, em
busca de parceiros
que queiram fazer
parte do projeto. No
entanto, governo do
Estado e município de
Cuiabá, onde o
hospital está
instalado, não
parecem otimistas em
relação ao salto no
atendimento da doença
que o espaço pode
proporcionar à
população.
Apesar de ter
ajudado a construir o
espaço, o atual
governo estadual, que
disponibilizou R$ 1,68
milhão, não se
interessou em bancar
o custeio da ala do
HCAN. Por meio da
assessoria, a
Secretaria de Estado
de Saúde (SES)
justifica que o
Em Rondonópolis
pacientes denunciam que
a prefeitura do município
cortou todas as passagens
das pessoas que fazem
tratamento no Hospital do
Câncer de Barretos, SP, e
acionam o Ministério
Público Estado (MPE)
para intervir no caso.
De acordo com o
coordenador do Centro de
Apoio para Pacientes com
Câncer de Rondonópolis,
Valdir Correa, são 750
pessoas que necessitam
do auxílio para se
deslocar até Barretos e
com esse corte da
passagem muitas pessoas
não conseguirão ir por
conta própria.
“Entre essas pessoas,
há pacientes que
necessitam viajar
anualmente,
semestralmente e até todo
mês, mas muitos que
foram até a prefeitura não
O
Circuito Mato
Grosso
entrou em
contato com a secretária
de Saúde do município,
Marilde Ferreira, que
negou o corte das
passagens e informou
que na verdade a
secretaria está fazendo
uma triagem até que o
processo licitatório para
compra de novas
passagens seja
concluído.
“Anualmente
gastamos R$ 900 mil em
passagem para os
pacientes com câncer
para todo Brasil e só
para Barretos são
direcionados R$ 300 mil.
Como o volume de
pacientes que precisam
Estado e município
saem pela tangente
hospital está ligado ao
município de Cuiabá,
que é quem repassa
parte dos recursos
destinados ao
tratamento de
pacientes
diagnosticados com
câncer.
O município da
capital, por sua vez,
afirma que repassa
todo o dinheiro público
que compete ao HCAN
por meio de recursos
do Sistema Único de
Saúde (SUS), ao qual a
unidade de saúde é
credenciada.
Na opinião do
oncologista Rogério
Leite, deveria ser
obrigação do governo
prover recursos de
custeio para a ala,
tendo em vista que “há
dinheiro público
envolvido” e que “a
maioria dos pacientes
que recorrem ao HCAN
é atendida pelo SUS”.
“Não podemos
arcar com mais essa
despesa, pois o
Hospital de Câncer já
possui deficit de mais
de R$ 600 mil por mês.
Há dinheiro público
envolvido, então
deveria ser
responsabilidade do
Estado custear as
despesas”, diz.
Pacientes de Roo
acionam MPE
conseguiram o recurso, a
única resposta é que o
Executivo está sem verba
e sem previsão para
disponibilizar de novo a
ajuda”, diz Valdir que
também depende do
tratamento.
Para acelerar uma
posição por parte da
Secretaria Municipal de
Saúde (SMS), os
pacientes que necessitam
do beneficio entraram
com um pedido no MPE
solicitando além do
esclarecimento por parte
da prefeitura, um prazo
para que as passagens
fossem liberadas.
“O tratamento que
essas pessoas precisam
não tem aqui no Estado,
pois os tipos de câncer
são considerados raros,
então estamos falando de
uma situação de extrema
urgência”, destaca
Correa.
Licitação deve levar
dois meses pra acontecer
se deslocar é muito
grande e necessitam de
acompanhantes, a verba
está chegando ao fim e
por isso requisitei que a
minha equipe analisasse
bem os casos antes de
liberar a passagem,
enquanto a verba deste
ano não chegar”, explica
Ferreira.
Ainda segunda
Marilde Ferreira, o
processo licitatório para
compra de novas
passagens já foi
encaminhado para a
prefeitura há mais de
uma semana, contudo o
processo burocrático
poderá levar até dois
meses para ser
concluído.
de tempo, registrou 955
novas ocorrências. A
maioria dos pacientes
atendidos pelo reside em
Cuiabá, com 551
enfermos (veja gráfico 1).
E é justamente uma
ala para atender
prioritariamente a
mulheres com nódulos
malignos nos seios que
esta fechada no HCAN.
De acordo com o médico
oncologista Rogério Leite,
um dos profissionais que
atendem os pacientes do
local, a infraestrutura,
como máquinas,
recepção, poltronas de
descanso para pacientes
realizarem quimioterapia
está pronta há mais de
oito meses, desde agosto
de 2013. Mas a falta de
recursos de custeio tem
sido um empecilho para o
combate à doença.
Fonte: Hospital de Câncer de Mato Grosso
INCIDÊNCIA DE NEOPLASIAS
NO SEXO FEMININO DURANTE O
PERÍODO DE 2007 A 2011 NO HCMT
Fotos: Mary Juruna
“O espaço está pronto
desde agosto de 2013 e,
em termos de estrutura
física, está completo. Mas
falta pessoal e recursos
para custear os
atendimentos, que devem
ter despesas de até R$ 80
mil por mês”, diz.
Entre os recursos
disponíveis para uso, há
uma máquina que realiza
exames de mamografia de
alta tecnologia. Segundo
Leite, ela é capaz de
diagnosticar tumores
muito pequenos “de quatro
ou cinco milímetros”,
favorecendo o tratamento
e aumentando a
expectativa de vida dos
pacientes. Ela é a única
ferramenta desse tipo
disponível em todo o
Estado.
O aparelho, bem
como o restante do
espaço, também não está
sendo utilizado.
O médico oncologista
afirma que o HCAN já
tentou realizar parcerias,
inclusive com o governo
do Estado, que ajudou na
construção da ala.
Infelizmente, porém, não
houve sucesso até agora
em convencer entidades
dispostas a fazer parte do
projeto.
O HCAN em Cuiabá,
apesar de ser uma entidade
filantrópica de direito
privado, não cobra pelo
tratamento aos pacientes
e, quando operacional, o
espaço em desuso hoje
poderia ter um volume de
atendimentos
“significativo”, como
afirma Leite.
“Podemos atender até
mil pacientes por mês. Em
pouco tempo, teríamos
uma cobertura
significativa”, diz.
Aparelhos que poderiam ajudar no diagnóstico precoce do
câncer nem saíram da embalagem ainda
Máquina de alta tecnologia utilizada para identificação de
câncer de mama, única em todo o Estado, também está parada
Médico oncologista Rogério Leite afirma que hospital não tem
condições de custear ala que está parada por falta de recursos
Segundo o
coordenador do
Centro de Apoio
para Pacientes
com Câncer de
Rondonópolis,
Valdir Correa,
750 pessoas
precisam do
auxílio para se
deslocar até
Barretos
Marilde Ferreira, secretária de Saúde deRondonópolis, afirma que
são gastos R$ 300mil por ano só de passagens de acompanhantes e
pacientes que precisam se tratar emBarretos (SP)