CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 8 A 14 DE AGOSTO DE 2013
CAPA
P
G
8
FALTA D’ÁGUA
Creches e escolas sofrem com a má qualidade dos serviços oferecidos pela CAB Ambiental.
Por: Mayla Miranda. Fotos: Pedro Alves
Cuiabanos padecem com a CAB
A volta às aulas está
sendo desgastante para
pais que já na primeira
semana estão vivendo o
drama da falta de água
nas unidades escolares e
também em casa. Sem o
produto chegando na
torneira, pelo menos 35
escolas e creches de
Cuiabá estão suspendendo
as aulas e dispensando os
alunos. Resultado: pais
sendo obrigados a deixar
seus afazeres para buscar
os filhos mais cedo ou
crianças e adolescentes
perambulando pelas ruas
por terem encontrado a
escola de portas fechadas.
Este transtorno tem nome:
CAB Ambiental.
Os problemas de
abastecimento têm se
agravado na cidade desde
o início da gestão da CAB
Cuiabá, que assumiu os
serviços de água e esgoto
na capital há quase dois
anos. A polêmica
concessão se tornou um
transtorno gigantesco para
a população que se vê
refém da precariedade do
atendimento.
Um exemplo do
descaso é a Creche
Municipal Inocêncio
Leocádio da Rosa que
atende cerca de 80
crianças de até 5 anos no
bairro Paiaguás. Na sexta-
feira (3) a unidade estava
fechada por falta de água
para atender as crianças.
“Os pais ficam bravos
com a gente, mas como
poderíamos suprir as
Bairros nobres
da cidade que
contam com altos
impostos e taxas
mais caras de
saneamento também
sofrem com a falta
de água. Há mais
de 15 dias o bairro
Boa Esperança está
sem abastecimento,
como conta a
microempresária
Laura de Oliveira.
Proprietária de um
restaurante no
entorno da
Universidade Federal
de Mato Grosso
(UFMT), ela já teve
de comprar quatro
cargas de água
somente neste
Mesmo tendo
instaurado uma Comissão
Especial de
Acompanhamento da CAB
na Câmara de Cuiabá, os
problemas de
abastecimento não têm
sido sanados. Para o
vereador Mário Nadaf, o
grupo de vereadores
participantes da comissão
pouco ou nada tem feito
efetivamente em prol da
comunidade.
“Esta comissão foi
criada para sepultar a
Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI), solicitada
pelo vereador Domingos
Sávio Parreira (PMDB), que
chegou a ter 17 assinaturas
de parlamentares. Foi a
segunda CPI da CAB
engavetada pelo
Legislativo da capital: a
primeira, de autoria do
vereador Chico 2000 (PR),
foi aprovada, mas nunca
chegou a ser instalada. Na
época da instalação
chegou a ter muitas
promessas. Até onde eu
saiba a comissão chegou
a se reunir umas quatro
vezes e não efetivou
CAB não
assume
Lagoa
Encantada
Praticamente todo o
valor de R$ 2,2 milhões
dos investimentos com
recursos do Ministério do
Turismo e da Prefeitura de
Cuiabá na reestruturação
das lagoas de tratamento
de esgoto do CPA II, local
que foi batizado de
Lagoa Encantada, foi
para o ralo.
A obra foi construída
em 2008, na gestão do
prefeito Wilson Santos
(PSDB), e acabou
depredada. Agora o
prefeito Mauro Mendes
anunciou que está
retomando o local da
CAB Ambiental,
concessionária que
comprou por R$ 300
milhões a gestão dos
serviços de água e esgoto
da capital.
Foram construídos no
local um auditório com
capacidade de 65
pessoas, uma recepção,
sala de administração e
cabine de som e vídeo.
No entanto, a área de
31,77
hectares reservados
para a lagoa está
atualmente sendo
utilizada como
esconderijo de marginais
e usuários de drogas,
além de refúgio para
animais peçonhentos.
Dia 1º de agosto o
vereador Mário Nadaf
protocolou uma ação no
Ministério Público
pedindo a
responsabilização dos
agentes públicos que
permitiram que toda a
estrutura fosse destruída.
Problema também atinge
bairros nobres da Capital
período de escassez,
gastando quase o
dobro com a
compra de água do
que com a fatura
mensal do serviço
de abastecimento.
“Como no meu
comércio água é
essencial, não tem
jeito: tenho que
pagar. Essas
compras já estão me
gerando prejuízo, já
que estou apenas
começando no meu
comércio. Mas como
moradora do bairro
desde que nasci, há
mais de 20 anos,
posso afirmar que
esta situação perdeu
o controle quando a
CAB Cuiabá assumiu
os serviços”.
Já no bairro Santa
Rosa, na outra
extremidade da
cidade, o problema é
com a água e com o
esgoto. Diversas ruas
do bairro estão com
encanamentos
estourados por conta
do alto fluxo de
veículos na região
após os desvios das
obras da Copa,
deixando muitas casas
sem água, e o esgoto
a céu aberto. Os
moradores já
registraram diversas
reclamações na CAB,
mas, até o momento,
não foram atendidas.
Vereador diz que CPI da
CAB acabou em pizza
nenhum trabalho”, conta
Nadaf.
O vereador ainda
lembra que cobrou por
várias vezes o mapa da
escassez à presidência da
CAB Cuiabá, sem
qualquer resultado. Outro
grave problema destacado
pelo parlamentar é a
desorganização da
empresa que cobra valores
irregulares e ainda tem
cadastros em duplicidade.
“Na minha casa, por
exemplo, no bairro Boa
Esperança, além de
estarmos sem água, eu
corro o risco de corte, já
que tenho cadastro duplo”,
ressalta ele ainda
lembrando que o
problema pode estar
acontecendo em diversos
lares da cidade.
Os casos de
cobranças indevidas
também já foram
mostrados em várias
edições do
Circuito Mato
Grosso
, que acompanha
a polêmica da concessão
de água e esgoto na
capital antes mesmo da
sua instalação.
necessidades das crianças
sem um pingo de água,
nem para beber? O
problema maior é que a
falta de água é constante e
nós ficamos sem ter como
dar banho nas crianças. E
quando temos um pouco
de água, temos que
economizarporque a água
que vem não dá para um
dia inteiro de trabalho”,
conta a técnica de
desenvolvimento infantil
(TDI) Enice Andrade.
A coordenação da
creche tem feito
reclamações diariamente à
CAB Cuiabá, porém as
suas reivindicações não são
atendidas. “A Prefeitura é
que acaba nos socorrendo
com caminhões-pipa”,
conta a TDI.
Na Escola Estadual
Rodolfo Augusto, também
no Paiaguás, a situação
não é diferente. Os alunos
são dispensados mais cedo
frequentemente e muitos
deles, sem ter como ir para
casa sozinhos, ficam nas
proximidades da escola
expostos a abordagens
negativas.
“Desde que a CAB
Cuiabá assumiu nós
ficamos sem água até para
beber, então não tem jeito,
temos que liberar os alunos
mais cedo. Antes o
abastecimento era
deficitário, mas hoje é
inexistente. Como a maioria
dos alunos é do nosso
bairro, acabamos
dispensando mais cedo”,
conta a coordenadora
pedagógica Laismara
Tasca.
Ainda de acordo com
a coordenadora, muitos
pais também ligam na
escola para a liberação
dos filhos quando ficam
sabendo que a água está
chegando em casa, para
que eles possam ajudar a
armazenar o líquido em
mais recipientes. “Quando
chega a água,
praticamente uma vez por
semana, temos que
aproveitar e guardar bem,
porque não sabemos
quando vamos ter água
novamente”, observa.
De acordo com o
relatório de solicitação de
caminhões-pipa da
Diretoria Administrativa e
Coordenadoria
Administrativa e Patrimônio
de Cuiabá, todas as
regiões da cidade são
afetadas com a falta de
água. Mais de 35 escolas e
creches estão sem água no
momento para atender a
demanda e os caminhões
de abastecimento de água
disponibilizados pelo
município não estão dando
conta de realizar todas as
solicitações.
Nas residências, o
problema é ainda mais
grave, já que não são
beneficiados com os
caminhões de
abastecimento públicos.
De acordo com a
moradora do Jardim
Itapurã Lucimar Rodrigues,
o bairro já está sem água
há 16 dias. Para um
atendimento paliativo, os
vizinhos se uniram na
aquisição de caminhão-
pipa.
“O problema é que
além de estarmos pagando
duas vezes pelo mesmo
serviço, nós não sabemos
de onde estes carros trazem
a água, mas, como
precisamos, não podemos
nem questionar”, desabafa
a moradora que ainda faz
questão de dizer que o
valor das cargas de água
tem subido rapidamente
por conta da grande
demanda, passando de R$
50,00 para R$ 80,00, e no
caso do abastecimento de
várias casas com a mesma
carga ainda é cobrada
uma taxa adicional.
A r o t i na de f a l t a d ’ água na s e s co l a s e c r eche s da cap i t a l de i xa os a l unos s em au l a s ,
p r e j ud i cando a s f amí l i a s que não t êm aonde de i x a r s eu s f i l ho s
Sem o abas t ec imen t o , a come r c i an t e Lau ra Ol i ve i ra so f r e com a d i f i cu l dade de
r ea l i za r o seu t r aba l ho e os p r e j u í zos com comp r as de água de cami nhões -p i pa
Pa r a o v e r eado r Má r i o Nada f, o MPE t em que
cob r a r du r amen t e do s ge s t o r e s púb l i co s a
r e s o l u ção do s p r ob l ema s de aba s t e c imen t o
