CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 16 A 22 DE MAIO DE 2013
ECONOMIA
P
G
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A falta de políticas públicas de incentivo à produção de produtos orgânicos impede o crescimento da alimentação saudável.
Por: Mayla Miranda. Fotos: Pedro Alves
ORGÂNICOS
Menos nocivos porémbemmais caros
Alimentos com
agrotóxicos ou
alimentação orgânica?
Esta pergunta começou a
fazer parte do cotidiano
do brasileiro. Um pouco
mais preocupado com a
saúde e com o aumento
da divulgação de
pesquisas que dão conta
dos malefícios dos
defensivos agrícolas, o
consumidor passa a
prestar um pouco mais de
atenção na alimentação.
Estas pesquisas atribuem
aos alimentos com
agrotóxicos prejuízos
imediatos como náuseas,
dor de cabeça e ainda,
em longo prazo, casos
graves de câncer e
problemas renais.
Mato Grosso é
atualmente o campeão
brasileiro em uso de
agrotóxicos e o Brasil se
configura desde 2006
como liderança mundial
do uso de defensivos. O
grande problema é que
essa realidade está longe
de mudar. Conforme
relata a engenheira
agrônoma e técnica da
FASE (Fundação de
Assistência técnica Social e
Educacional) Francileia
Paula de Castro, isto se
dá principalmente por
falta de políticas públicas
Custo elevado impede a
popularização do produto
Para os comerciantes
da Feira do Porto, em
Cuiabá, mesmo os
orgânicos se mostrando
cada vez mais atrativos e
bastante solicitados nas
bancas, os altos valores
de custo de produção e
de revenda dificultam o
aumento das vendas do
produto.
A comerciante e
produtora rural Dejanir
Marques atribui à
burocracia a principal
dificuldade da produção
de orgânicos na região.
“Para a regulamentação
dos orgânicos é preciso
preencher vários requisitos,
como a certificação que é
bastante cara e difícil de
fazer e as embalagens
que devem conter várias
informações, como data
de validade, região,
procedência. Para mim
não dá para fazer”,
ressalta a comerciante.
Ainda reforçando o
problema de implantação
do cultivo, o comerciante
de frutas e legumes Sérgio
Luperini relata que os
custos sufocam o pequeno
produtor. “Para a
produção de mel, por
exemplo, é exigida a
confecção de código de
barras, o que é totalmente
inviável para o pequeno
produtor, que não possui
sequer estrutura. O custo
de implantação da marca
e das exigências fica em
torno de 20 mil reais”,
pontua o vendedor. (Por
Diego Frederici)
Consumo de orgânicos ainda é tímido
Os alimentos orgânicos
estão presentes no mercado
brasileiro desde os anos 70,
de forma bastante tímida.
São mais saudáveis,
principalmente por conter
mais nutrientes e sabor
acentuado.
Para a publicitária
Nayady Oliveira, a
alimentação orgânica se
tornou indispensável há três
anos, desde que se tornou
vegetariana. Os produtos
são substituídos pelos
convencionais apenas
quando não são
encontrados no mercado.
“Aqui às vezes fica
complicado para manter a
alimentação orgânica à
risca. Quando eu morava
em São Carlos, era um
pouco mais fácil. Mas
sempre que possível compro
todos os produtos que
encontro”, conta ela que
ainda faz questão de
ressaltar que o novo hábito
trouxe muito mais saúde e
disposição no seu cotidiano.
Também adepta da
alimentação saudável, a
produtora Marinete
Rodrigues conta que a
alimentação orgânica, além
de mais saborosa, faz muito
bem para a beleza. “Meus
cabelos ficaram com aspecto
bem melhor depois que
comecei a me alimentar
exclusivamente de produtos
orgânicos; minha pele
também melhorou muito.
Não troco mais de
alimentação de maneira
nenhuma”, ressalta.
Já para a recepcionista
Thais Cristina da Silva, os
alimentos orgânicos ainda
são totalmente
desconhecidos. “Olha, eu
nunca pensei em comer
nada orgânico, até mesmo
porque nunca experimentei
nenhum tipo de produto
assim. Na verdade, eu nunca
me atentei para este
problema”. Ela ainda faz
questão de dizer que a partir
desta reportagem vai
experimentar o novo tipo de
alimentação. (Colaborou:
Diego Frederici)
e de assistência rural.
“A maioria dos
agricultores,
principalmente os
menores, não sabe como
realizar uma produção
orgânica. Sem
informações, eles acabam
optando pela produção
mais rápida”, pontua.
Para esses produtores
a situação fica ainda mais
complicada quando
buscam financiamento
para a produção. Na
hora da avaliação do
crédito rural, as instituições
financeiras solicitam para
o agricultor o pacote
verde. Este pacote
contempla as notas fiscais
de agrotóxicos, de adubos
e sementes modificadas
geneticamente. Diante
dessas informações, os
bancos avaliam os riscos e
liberam o crédito. Já no
caso de uma produção
orgânica, fica pouco
viável para quem não
possui capital de
investimento.
O mesmo problema
é visto na busca da
certificação do alimento
orgânico, já que a
legislação prevê uma série
de normativas para
qualificar o produto. As
empresas que fazem as
qualificações cobram
pelas visitas técnicas. As
embalagens também são
mais caras do que as
comuns.
Em Mato Grosso o
problema da logística
também ajuda na
oneração do produto, já
que a maioria dos
orgânicos não é
produzida no estado.
Em Mirassol D’Oeste,
pequenos produtores
montaram uma indústria
agroecológica para
certificação do produto
orgânico através de uma
parceria com entidades de
controle social. Desta
forma, passaram a
receber a certificação com
valores mais reduzidos,
segundo a agrônoma
Francileia.
“Se este tipo de
atuação fosse mais
divulgado, tenho certeza
que a agricultura orgânica
seria muito mais viável e
teria um grande aumento
no estado. O grande
problema é a falta de
incentivo até mesmo de
informação gerada pelos
governos municipais e
estaduais e pelo governo
federal. Enquanto esta
atitude não mudar, o
agronegócio continuará
cada vez mais forte e a
saúde da população mais
frágil”, alerta.
Recentemente, dados
da Associação Brasileira
de Saúde Coletiva,
entidades de pesquisa e
organizações sociais
apresentaram um dossiê
de mais de 500 páginas,
contendo todos os
impactos do consumo dos
alimentos com
agrotóxicos, para o
Ministério da Agricultura.
De acordo com o
relatório, até a água
potável apresenta níveis
elevados de
envenenamento.
Mais saudáveis, os orgânicos vêm caindo no gosto popular, mas os preços assustam
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