estão cheios de motociclistas
acidentados. Para mudar
este cenário é necessário
mais mobilização das
CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 16 A 22 DE MAIO DE 2013
POLICIA
P
G
5
IMPUNIDADE
Assassinatos e mortes no trânsito têm influência direta do consumo de álcool e drogas e refletem desestrutura familiar.
Por: Mayla Miranda. Fotos: Pedro Alves
Crescemviolência e crimes semsolução
Todos os dias uma
família da Grande Cuiabá
perde um membro por
conta da violência. Somente
neste ano já foram somados
119 assassinatos nas duas
maiores cidades do estado.
Várzea Grande continua
superando Cuiabá no
número de mortes: em abril
foram 12 assassinatos na
capital contra 14 da Cidade
Industrial. O maior
problema é que 70% destes
crimes não são
solucionados dentro dos
prazos previstos por lei, ou
nem mesmo após os
prazos, chegando a um
grande índice de prescrição
de crimes, de acordo com a
Delegacia de Proteção à
Pessoa (DHPP).
“Nós temos percebido
claramente que os índices
de mortes violentas têm
ficado muito acima do
considerado “normal”
proporcionalmente à
população destas duas
cidades. Somente neste
trimestre, Várzea Grande
teve um aumento em 10%
nos crimes violentos. Com
isto, os índices de Cuiabá
também são puxados para
cima”, pontuou o delegado
responsável pela DHPP,
Silas Tadeu Caldeira, que
Consumo de drogas
aumenta a violência
Violência no trânsito
também é preocupante
Famílias destruídas
e impunidade
Assim como no caso de
João Marcos, o trânsito
continua fazendo muitas
vítimas em Cuiabá. A
capital de Mato Grosso é a
segunda com mais mortes
no trânsito do país. Os
níveis de acidentes sem
vítimas também são
alarmantes. Diariamente
são registrados cerca de 30
acidentes (em média),
segundo dados da Polícia
Civil.
A principal causa deste
tipo de acidente continua
sendo a imprudência ou
erro humano, fatores
também associados ao
consumo de bebidas
alcoólicas e drogas. “Os
acidentes de trânsito já se
tornaram um problema de
saúde pública. Nos prontos-
socorros, os corredores
autoridades, principalmente
na educação no trânsito”,
alerta a major Grazielle
Taes da Silva Bugalho,
comandante do Batalhão
de Policiamento de Trânsito
e Rodoviário.
Nas estradas a situação
não é diferente: dados da
Polícia Rodoviária Federal
(PRF) revelam que somente
no primeiro trimestre de
2013 houve aumento de
25% nas mortes em
acidentes nas rodovias
estaduais. “Esse quadro está
diretamente ligado à falta
de estrutura das estradas
mas, com certeza, a
imprudência e a falha
humana são as principais
causas de acidentes fatais”,
relata o chefe do Núcleo de
Comunicação da PRF, José
Helio.
Não são raras as
notícias de crimes
escabrosos cometidos
principalmente sob a
influência de drogas.
Assaltos envolvendo valores
ínfimos que acabam em
morte, ou crimes violentos
após o consumo de
entorpecentes. Um caso
deste tipo ocorreu em
Cuiabá recentemente, em
que o usuário de
drogas Weber Welques de
Oliveira, 22 anos, matou,
esquartejou e colocou no
forno de uma pizzaria o
corpo de Katsue Stefany,
25 anos. Segundo
informações da polícia na
época do assassinato, os
dois consumiram uma alta
dose de cocaína horas
antes do crime. Neste caso,
principalmente pela
repercussão e atrocidade
do crime, o assassino foi
rapidamente preso.
Na maioria dos
demais crimes, a
dificuldade de solução está
principalmente na
infiltração dos traficantes
dentro das comunidades,
que acabam influenciando
o consumo por parte dos
jovens, dificultando o
trabalho da polícia. Com
uma falsa sensação de
proteção, esses criminosos
levam a população a não
denunciar suas atividades
ilegais. Desta forma, o
trabalho de repressão
acaba sendo ineficaz.
“Na verdade, as
drogas são mais um
problema de saúde pública
do que de polícia,
principalmente por estarem
presentes nas diversas
classes sociais. Mas muitos
dos criminosos se valem
dos efeitos das drogas para
ficarem na adrenalina, na
‘pilha’, e cometer os
crimes. E isso realmente
nos preocupa, mas a
tendência é que cada vez
mais haja visibilidade para
este tipo de fato, para que
nós possamos, como
polícia judiciária civil e
servidores públicos, adotar
medidas que combatam
isso”, relata a delegada
adjunta de Entorpecentes,
Juliana Chiquito Palhares.
Ainda segundo a
delegada, na tentativa de
dilacerar a estrutura do
crime organizado envolvido
diretamente com o tráfico,
a Delegacia de
Entorpecentes da Capital
vem tentando mudar a
tática no combate destes
crimes. Já que a falta de
aparato policial e de
infraestrutura não é
solucionada, a nova tática
é esfacelar o núcleo
financeiro dessas
organizações, realizando
investigações mais
aprofundadas das rendas e
gastos dos criminosos.
“Omeu filho morreu às
sete e quinze da manhã de um
sábado tranquilo, atropelado e
arrastado por mais de 50
metros por um motorista
irresponsável que, além de não
prestar socorro, tentou fugir do
local do crime”. Este é o relato
doloroso de uma mãe que
perdeu o seu filho
covardemente em Cuiabá.
Com os olhos marejados,
Kenia Matos conta em detalhes
como tudo aconteceu,
enfatizando que sua maior
tristeza é saber que, além da
dor dilacerante da perda de
um filho, ainda tem de conviver
com o fato de que o assassino
vive livre e impune. A
comerciante, dona de uma
lanchonete no bairro Distrito
Industrial, conta que seu filho
João Marcos Matos dos
Santos, 13 anos, foi fazer uma
entrega nas proximidades do
seu comércio, quando
foi colhido na avenida
principal – onde a velocidade
máxima permitida é de 40 km
por hora. O motorista, bem
acima da velocidade permitida
(a 153 km), invadiu a
preferencial. Além de atropelar
João, ele ainda bateu em dois
carros parados que deram
perda total, derrubou um muro
e um portão de mais de 5
metros e retirou do lugar uma
caçamba de lixo de mais de
uma tonelada. Imagens das
câmeras de segurança das
empresas mostraram que o
motorista Jeferson Benjamim
Amorim Peixoto tentou fugir do
local, mas foi contido pelos
trabalhadores das empresas
ao lado. Nas imagens
também é possível vê-lo
sorrindo minutos após o
acidente. Hoje, o processo
movido pela mãe aguarda há
seis meses um parecer de um
juiz para decidir a data do
julgamento. Mesmo preso em
flagrante no dia do crime, o
motorista pagou fiança de
R$524,00 e foi liberado.
“Eu sei que meu filho não
vai mais voltar, mas não é
possível que ele (o motorista)
faça uma covardia dessas com
uma pessoa, acabe com a
vida de uma mãe e continue
impune, vivendo normalmente,
como se nada tivesse
acontecido”, desabafa Kenia.
completou dizendo que este
quadro continua crescente,
principalmente nesses últimos
cinco anos.
Já em relação ao baixo
índice de solução destes
crimes, que estão
principalmente relacionados
ao consumo de drogas –
sobretudo por parte dos
autores –, a falta de efetivo é
apontado como principal
fator de dificuldade. Sem os
especialistas necessários no
momento das ocorrências,
que acontecem em sua
maioria de madrugada, as
provas acabam se
perdendo na movimentação
das pessoas no local.
“Sem estas provas, a
polícia depende ainda mais
do testemunho das pessoas
que, por medo, não nos
passam as informações
necessárias. Nós até estamos
mudando a nomenclatura
de ‘denuncie’ para
‘colabore’, para ver se desta
forma a população passa a
nos conceder mais
informações”, informa Silas.
E sem políticas públicas
direcionadas ao
fortalecimento da segurança,
os poucos policiais e
investigadores que
trabalham com baixa
estrutura de equipamentos
ainda apresentam um bom
índice de identificação dos
criminosos. Já o índice de
prisões ainda fica muito
aquém do ideal,
principalmente por conta da
dificuldade de localização
dos identificados.
O delegado titular do
Centro Integrado de
Cidadania e Segurança
(Cisc) do Coxipó, Wilson
Leite, que convive
diariamente com a violência,
explica que, além das
brechas na legislação
brasileira, a falta de estrutura
familiar e o não temor às leis
divinas são os principais
motivos que fomentam o
crescimento da violência no
mundo. “Muito embora o
Estado tenha a atribuição de
fazer valer o papel da
segurança para a
sociedade, antes disso,
todavia, o fator principal que
eu vejo é a degradação da
família. Hoje os adolescentes
não respeitam mais nada.
Nós percebemos aqui, todos
os dias, o ódio, a falta de
temor e de amor e da
família. A maioria destes
jovens reincidentes no crime
não tem respeito, não
respeitam na verdade nem a
si próprios há muito tempo,
então como poderiam
respeitar mais alguém?”,
relata o delegado.
Para o delegado,
diante desta desestrutura o
tráfico acaba agindo onde
as famílias deixam as
brechas e onde o Estado
também deveria atuar e não
o faz. Então, o que o Estado
deixou de fazer,
principalmente na educação,
e com a falta de estrutura
familiar, o submundo veio
tomar conta. Desta maneira,
a única solução para acabar
com a violência é uma
junção dos poderes e dos
governos para realizar uma
ação conjunta e efetiva, em
nível de educação, que é um
quesito fundamental para o
combate à violência,
fazendo a inserção nas
escolas de programas
educativos e efetivos.
“Na verdade, temos
que nos unir para que nossos
filhos e familiares tenham de
novo a sensação de
patriotismo e
responsabilidade com a
nossa sociedade. De outra
maneira, não temos como
retroagir deste caos violento
que se tornou a nossa
sociedade”, afirmou o
delegado dizendo que
Infelizmente a família se
degradou.
De l egado S i l a s Tadeu Ca l de i r a s ,
da De l ega c i a de Homi c í d i o s
Wi l s on L e i t e , de l egado t i t u l a r do Ci s c do Cox i pó
Wi ls
Ka r i na Ma t o s ,
mãe de v í t ima
J o s é Hé l i o , da PRF
1,2,3,4 6-7,8,9,10,11,12,13,14,15,16,...20