CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 16 A 22 DE MAIO DE 2013
POLICIA
P
G
4
VIDA LOKA
O risco é de criminosos se transformarem em heróis para adolescentes que acessam com frequência a mídia social.
Por: Débora Siqueira. Fotos: Reprodução do Facebook
Apologia ao crime vira febre no Face
Dinheiro de assalto,
muito funk, uísque,
cerveja, festas e muita
mulher, ou melhor, as
‘novinhas’, como
costumam classificar as
garotas de até 20 anos.
Esses são os componentes
da ‘vida loka’ que
bandidos de Cuiabá
Coringa: Sorriso da morte
É muito comum em
todas as páginas dos
suspeitos de participação
em crimes ter frases, fotos
e referências ao Coringa,
arqui-inimigo do Batman,
herói dos quadrinhos. O
palhaço do crime é um
sádico, psicótico, maníaco
e homicida, embora
portador de grande
inteligência.
Em presídios do
mundo inteiro, os próprios
detentos se tatuam para
diferenciar a facção à
qual pertencem. No livro
“Estação Carandiru”, do
médico Dráuzio Varela, há
uma seção focada nas
tatuagens dos presos. Por
elas é possível saber o
grau de periculosidade, a
especialidade no mundo
do crime.
No caso do Coringa,
personagem do Batman,
elas são tatuadas em
indivíduos ligados a roubo
e morte de policiais.
Os sujeitos que
portam o desenho tendem
a ser pessoas frias e
perigosas. O desenho
pode vir acompanhado
de frases como “carrego
o sorriso da morte” ou “se
for para morrer que
morra sorrindo”. Frases
como estas estão no
Facebook de assaltantes
de Cuiabá.
Facebook e YouTube
nos presídios de MT
O uso do Facebook
até mesmo videogames
por presidiários expôs a
fragilidade do sistema
prisional na dificuldade
de controlar o uso da
tecnologia dentro dos
muros das unidades.
Controlar que chips de
telefones e celulares não
cheguem às mãos dos
presidiários é uma tarefa
ingrata por passar pela
corrupção dos servidores
públicos e a criatividade
dos visitantes.
Neste ano dois casos
de uso do Facebook se
tornaram públicos. Um
foi o caso do detento
Anderson Couto de
Araújo, da Penitenciária
Central de Cuiabá, no
Pascoal Ramos. Ele
postou os momentos de
descontração com
colegas de cela,
jogando playstation,
sentados no chão,
fumando, a rotina da
vida dele, como se fosse
normal ter um celular nas
mãos dentro da
unidade. O caso veio à
tona no dia 10 de abril.
Outro caso foi o do
cabeleireiro Elielson
Gonçalves Vieira, 41
anos, no Presídio do
Carumbé, em janeiro.
Ele teria postado a visita
de um amigo e
advogado. Contudo, a
defesa sustentou que não
foi o preso que colocou
a foto na rede, mas o
amigo que tinha o login
e a senha do
cabeleireiro.
O superintendente
de Gestão Penitenciária
de Mato Grosso,
Gilberto Carvalho, diz
que revistas periódicas
são realizadas para
recolher materiais ilícitos
e sempre são
encontrados celulares de
alta tecnologia, como
Iphone. “Em relação ao
uso das redes sociais por
presidiários, quando há
denúncias de casos o
setor de inteligência do
sistema faz o
rastreamento. Estamos
sempre monitorando”,
explicou.
O sociólogo
Naldson Ramos,
coordenador do Núcleo
Interinstitucional de
Estudo da Violência e
da Cidadania da
Universidade Federal
de Mato Grosso
(UFMT), avalia que a
apologia ao crime,
armas, sexo,
consumismo, bebidas,
drogas e padrões de
corpo são resultado da
crise de valores da
sociedade. “São
comportamentos
desviantes para mostrar
poder, desprendimento.
É uma forma de agredir
a sociedade. Há uma
cultura da banalização
da violência e o
desrespeito às normas
de convivência e do
estado civilizatório”.
A exibição dos
criminosos no Facebook
com seus
comportamentos
desviantes de exibição
de poder financeiro não
difere das garotas que
banalizam a
Crise de valores sociais
e juventude transviada
sexualidade expondo
seus corpos e dos
jovens de classe média
alta dominados pelo
consumismo, pelos
apelos de ter um
padrão de corpo, de
virilidade.
“Não há mais um
padrão de
comportamento
obedecido pelos jovens.
Esse fenômeno é
produto da sociedade,
não há recorte social
para isso. Essa crise
começou nos anos 90 e
se consolidou nos anos
2000”, asseverou o
sociólogo.
postam nas suas páginas
pessoais no Facebook e
assim arregimentam mais
jovens para o crime.
Afinal, quantos
garotos, especialmente
os da periferia oriundos
de famílias
desestruturadas, não
querem se exibir com
grana, motos potentes,
carros de luxo, muito
ouro no pescoço e nos
dedos e o dinheiro fruto
do roubo para gastar?
Quantas meninas que
não desejam ser
bancadas pelos ‘patrões’
– como são rotulados os
chefes de quadrilha e
traficantes – e se
tornarem as primeiras-
damas do crime?
Vasculhando a
página pessoal de alguns
assaltantes na rede
social, o
Circuito Mato
Grosso
descobriu que
ao invés de procurar se
manter discretos para
não chamar a atenção
da polícia, eles gostam
da ostentação e de
mostrar o quão
inconsequentes são.
Postam fotos deitados
sobre notas de R$100,
escrevem o nome e o
apelido com dinheiro e
ainda convidam os
interessados em ter o
mesmo padrão de vida a
participar da ‘correria’.
“Vem com o chefe e tu
vai ter o que merece” é
uma das frases postadas.
Os donos dos perfis
suspeitos postam no ícone
“Sobre” de seus perfis no
Facebook que se
formaram na Faculdade
da Rua, Pela Vida, que
trabalham na Profissão
Perigo, Correria e
Companhia, 157 (crime
de assalto) e outras
‘empresas’ que remetem
à vida criminosa. Nas
poses dificilmente o
internauta os vê sem estar
com os dedos fazendo
menção a uma arma.
Em uma das
postagens, um dos
possíveis assaltantes
escreve “Ai só bandido
nessa porra, 157 (roubo),
33 (tráfico de drogas) e
1533 sigla de ladrão”.
Entre a bandidagem
1533 significa PCC
(Primeiro Comando da
Capital), conforme a
ordem das letras no
alfabeto, P=15, C=3.
Muitos adeptos da facção
tatuam o número no
corpo. Não se sabe se os
criminosos de Cuiabá são
ou não membros da
organização criminosa
que tem o curioso lema
de ‘Paz, Justiça e
Liberdade’ ou se o fazem
para mostrar poder ou
ameaçar adversários.
Ainda mais irônico é
que no perfil de muitos
desses suspeitos de crime
os mesmos colocam a
foto de familiares, dos
filhos e invocam a
proteção de Deus, para
cometer assaltos! “Ladrão
de banco na humildade”,
postou um deles.
O delegado titular de
Roubos e Furtos de
Cuiabá, Roberto Amorim,
diz que mais do que a
preocupação com os
bandidos fazerem
apologia ao crime pela
rede social é se
apresentarem como
heróis, chamando a
atenção dos adolescentes.
“Eles se exibem com
dinheiro, armamento,
carros, festas e a
juventude os idolatra. É
um problema seriíssimo.
O Congresso precisa se
preocupar com isso e
mudar as leis em relação
aos crimes virtuais; a
própria sociedade fica
vulnerável”.
Hoje o criminoso não
precisa aliciar jovens e
crianças nas portas das
escolas, as redes sociais
têm se mostrado
eficientes para convidar
novos integrantes para o
crime. “Além da
apologia ao crime,
considerada de menor
potencial ofensivo e que
não cabe prisão, há a
corrupção de menores na
rede, mas não há uma
legislação específica
sobre isso. Não
avançamos no mesmo
ritmo que a tecnologia”,
comentou o delegado.
O delegado
responsável da Gerência
Especializada em Crimes
de Alta Tecnologia
(Gecat) da Polícia Civil,
Anderson Veiga,
comentou que apenas a
divulgação das fotos de
criminosos no Facebook
não é crime. “Crime
existe se isso acontecer
no presídio. A simples
postagem não é um
crime informático, a não
ser que passe
mensagens de incitação
ao crime ou exibição de
armas”.
O núme ro 157 se r e f e r e a a r t i go do Cód i go Pena l
que qua l i f i ca c r ime de a s s a l t o ( com a rma )
I n t e r nau t a e x i be de z enas de no t as de R$100 , 00 e
con v i da ami go pa r a i r “ na f un ç ão ”
J ov en s e x i bem co r r en t e s eno rme s como
demon s t r ação de pode r e l i de r ança
Rapaz e x i be pos e de pode r em ba i l e
f unk na pe r i f e r i a de Cu i abá
I n t e r nau t a anun c i a
t e l e f on e s pa r a
con t a t ado com o s
am i go s , na c ad e i a
Co r i nga é s ímbo l o de en f r en t amen t o à po l í c i a