CIRCUITOMATOGROSSO
PANORAMA
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CUIABÁ, 4 A 10 DE SETEMBRO DE 2014
PREÇO X RENDA
Pecuaristas enfrentam alto custo
O grande gargalo continua sendo o problema de transporte, que custa ao pecuarista até R$ 150 de prejuízo por cabeça de gado
BeatrizSaturnino
Apesar de a pecuária de
Mato Grosso viver um
grande momento, com o
aumento de 29,79% da
exportação de carne bovina,
consumo interno elevado e
redução de oferta mundial
da compra da carne, em
virtude de os países
concorrentes Estados
Unidos (EUA), Austrália,
Nova Zelândia e a Argentina
estarem em crise, é
necessário que o pecuarista
tenha cautela quanto ao
otimismo da economia. O
fato é que 80% do que é
produzido fica no Brasil, o
custo para se produzir está
mais caro e a logística
continua precária.
“E está previsto bater
uma crise na porta do
Brasil. Se ela vier, o
consumo interno pode ficar
prejudicado e aí vai por
água abaixo toda esta teoria
otimista”, sinaliza o
Mato Grosso é
dependente da
exportação e apenas 20%
do que é produzido no
Estado são exportados.
Diante deste bom
momento de preço, a
arroba de gado (15 kg)
está em R$ 115, sendo
no ano passado estava
em R$ 100. Vale lembrar
que quem faz o preço é a
oferta e a demanda.
Do ponto de vista da
oferta é observado um
momento equilibrado já
há dois, três anos. E do
ponto da demanda, a
cada ano é crescente o
número de exportações,
e também são acessados
novos países
compradores de carne, e
o mercado interno, que é
o maior e que movimenta
a economia da pecuária
do Brasil, está
melhorando ano após
ano. A justificativa
quanto a esta
oportunidade de
mercado, segundo
Vacari, é a melhor
distribuição de renda no
país. “No entanto, a
renda do pecuarista está
comprometida. De nada
adianta você ter um
momento bom de preço
e ter um momento ruim
de renda”, aponta o
superintendente da
Acrimat.
Por que o momento
da renda está ruim? A
resposta é que ficou
muito mais caro para se
produzir, quanto à
aquisição do óleo diesel,
mão de obra, insumo,
sal mineral, ou qualquer
outro meio de produção.
A vantagem do
momento, para a
sustentação do preço, é
o fato de alguns países
concorrentes do Brasil
estarem passando por
dificuldades, a exemplo
dos EUA, o maior
exportador de carne do
mundo, que está com o
rebanho reduzido. A
Argentina, que tinha um
espaço consolidado no
mercado internacional,
está sofrendo por uma
intervenção política que
desestabilizou o seu
mercado externo. Ainda,
a Austrália vem sofrendo
com a seca, ano após
ano, e o Uruguai que
tem uma oferta limitada.
Apenas 20% da produção
são exportados
Países voltam a comprar
carne de Mato Grosso
As questões sanitárias são fatores que alarmam o potencial
de compra no mercado da pecuária e isto causou um baque
financeiro diante das exportações de gado emMato Grosso,
com a ocorrência de um caso de “vaca louca”, em abril deste
ano, no município de Porto Esperidião, localizado a 342 km de
Cuiabá. O incidente ocasionou o embargo de três grandes
compradores externos de Mato Grosso: Rússia, Irã e Egito.
Até o momento é esperada a quebra do embargo do Egito, o
único país que ainda não reabriu seu mercado para a compra
de carne de Mato Grosso. A Rússia retomou no dia 6 de
agosto e o Irã no dia 26 do mesmo mês, por meio do
Ministério daAgricultura.
O estado sanitário dos animais é o passaporte para esses
compradores e é excluído existir qualquer problema de saúde
com o rebanho mato-grossense, diante do caso atípico da
encefalopatia espongiforme bovina, conhecida como doença da
vaca louca, em Porto Esperidião. Além disso, o Estado está há
17 anos sem febre aftosa.
Mato Grosso exporta para 80 países. Dentre os maiores
compradores de Mato Grosso a Venezuela é o primeiro, com
um volume de 46,42 mil toneladas de equivalente carcaça
(TEC), com 24,91% de participação, de janeiro a julho deste
ano. Na sequência está a Rússia com 34,45 mil TEC (o que
significa 18,49%), Hong Kong, Egito e Irã.
O conflito entre a Rússia e a Ucrânia está levando algumas
nações pelo mundo (EUA, por exemplo) a impor sanções à
Rússia. Em contrapartida, esta afirmou que passará a adotar
medidas parecidas, entre elas, deixar de comprar alguns
produtos, como a carne bovina, de aves e de suínos. Aqui
aparece a oportunidade para o Brasil e Mato Grosso, pois de
algum lugar a Rússia terá de comprar e possivelmente será o
produto mato-grossense. O otimismo se estende para a prática
do confinamento, com a queda do preço da saca de milho de
44,19%, principal insumo utilizado na atividade, é esperado
neste segundo semestre um aumento de 2,6%, conforme o 2º
Levantamento das Intenções de Confinamento em 2014, feito
pelo InstitutoMato-grossense de Economia Agropecuária
(Imea). O preço da saca do cereal teve queda de 44,19% nos
últimos três meses, passando de R$ 20,13 para R$ 11,23.
Nos últimos três anos,
2 milhões de hectares de
áreas de pastagens foram
convertidos em agricultura,
por uma série de motivos:
pelo pecuarista que
resolveu fazer a integração
de lavoura e pecuária (na
mesma área desenvolver
ambas as atividades), pelo
produtor que decidiu
mudar de atividade ou
arrendar sua propriedade
para algum agricultor, pois
no período a agricultura
vivia um bom momento.
No entanto, isso não
significa que haverá a
perda no índice de
produtividade, que
dependerá do uso da
tecnologia, baseado em
confinamento, reforma de
“Pecuária não está perdendo
espaço para a agricultura”
pastagem e integração da
lavoura e pecuária.
“Nos últimos anos
criou-se a paranoia dizendo
que a pecuária está
perdendo espaço para a
agricultura, ou que esta
está invadindo as áreas de
pastagens. Isso é um
processo natural e
econômico e já aconteceu
nos últimos 50 anos, com
o advento dos ciclos da
laranja, da cana-de-açúcar,
do café, e foi empurrando
a pecuária do Sudeste do
país para Mato Grosso do
Sul, Mato Grosso e sul do
Pará. Eu diria o seguinte:
que o futuro da agricultura
do Brasil passa diretamente
pela pecuária”, observou
Luciano Vacari.
superintendente da
Associação dos Criadores de
Mato Grosso (Acrimat),
Luciano Vacari.
Ainda há a falta da mão
de obra especializada e a
dificuldade de transporte,
com municípios que ficam a
1,3 mil km de Cuiabá, como
Vila Rica e Apiacás, o que
priva o produtor de gado de
alcançar uma melhor renda.
Tendo em vista, ainda,
o custo dos utensílios de
manuseio mais caro do
Brasil, como o óleo diesel e
o sal mineral, e na hora de
vender os seus animais eles
acabam vendendo pelo valor
de arroba de boi mais barato
do país por conta da
dificuldade da logística, sem
condição para escoar o
produto.
“O problema maior do
pecuarista é a estrada
intransitável no período de
chuva, de outubro a maio,
com atoleiros, e na seca é
ponte caindo, estradas
esburacadas e poeira. A
carne chega com
hematomas nos frigoríficos,
e isto é descontado do
pecuarista. E agora estamos
sofrendo com a morte
súbita da braquiária (capim
para pastagem), então é
preciso reduzir o rebanho”,
avalia o pecuarista Jorge
Basílio, do município de
Juína (a 754 km da capital).
Ou seja, o grande
gargalo continua sendo o
problema de transporte, que
custa ao pecuarista até R$
150 de prejuízo por cabeça
de gado, principalmente na
região Norte do Estado. E
há três anos esta
problemática se estendeu a
outro maior, que é em como
acessar a tecnologia,
principalmente a assistência
técnica, o que prejudica a
renda do pecuarista, avalia
Luciano Vacari.
“A gente vive um bom
momento da pecuária
quando se analisa preço. Só
que a realidade apontada
pelos pecuaristas é a de que
‘eu não compro o que eu
gostaria de comprar. Eu
compro aquilo que posso
comprar’. Sabemos que a
atividade se faz de renda,
que é a diferença de quanto
custa e por quanto você
vende, e apesar de os preços
terem se recuperado nos
últimos meses, os custos
para obter o produto final
subiram inexplicavelmente”,
acrescenta Vacari.
O pecuarista enfrenta um bommomento de preço com a arroba de gado (15 kg) vendida a R$ 115
Presidente da Acrimat
aponta que o custo para
obter o produto final subiu
inexplicavelmente
Integração de lavoura com a pecuária é a saída para não ter
prejuízo com a morte súbita da braquiária