CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 4 A 10 DE SETEMBRO DE 2014
CULTURA EM CIRCUITO
PG 5
Rosemar Coenga é
doutor em Teoria Literária e
apaixonado pela literatura de
Monteiro Lobato
ALA JOVEM
Por Rosemar Coenga
AS MEMÓRIAS DOMENINO DRAUZIO
COACHING
Por Iracema Borges
Iracema Irigaray N. Borges,
mãe de 3 anjos, ama comer tudo com
banana, coach pelo ICI- SP, sonha
em dar cursos na África, Índia,
EUA, onde o destino a levar.
“SUAMENTE MENTE... E MENTE O TEMPO TODO”
O dia em que ouvi a frase acima há
muitos anos, fiquei chocada! Como
assim? Eu estou pensando, logo é
verdade... Neste dia o facilitador me
apresentou o Mito da Caverna de
Platão, por
meio do
livro
Sombras do
Homem de
Neandertal,
de David
Hutchens,
no qual ele
nos conta
uma
metáfora
instigante
sobre
nossos
modelos
mentais e a
maneira
como eles
limitam
nossas
organizações,
uma fábula
cheia de humor para ilustrar sobre os
obstáculos à aprendizagem e ao
desenvolvimento humano e
organizacional. “... somos habitantes
de cavernas, com percepções
incompletas do mundo. O que vejo é
apenas PARTE da realidade, e ela nunca
está completa”. Ele relata a história de
um grupo de homens pré-históricos que
vive numa gruta; as sombras que
chegam à caverna são as únicas
imagens que eles têm da realidade
exterior. Um dia, um dos homens
arrisca-se a sair da toca, e encontra um
universo amplo e diversificado. Um
velho conta-lhe a história de seus
antepassados, revelando como o povo
isolou-se em cavernas. Como fazer
agora para que seus companheiros
acreditem nele e ousem sair à luz? Na
apaixonante análise que se segue à
fábula, Hutchens mostra que é muito
fácil que as empresas caiam na
armadilha da “caverna”, aceitando
imagens e informações parciais ou
distorcidas como verdades absolutas.
Mais que isso: as organizações tendem
a apegar-se ferozmente a tais falsas
verdades, marginalizando ou excluindo
quem ousa duvidar delas. Esse
questionamento, porém, é a base da
mudança e só ele pode conduzir à
competência e à sobrevivência
organizacional. Uma pergunta que
sempre precisamos fazer é: o que tenho
feito de diferente em casa, no trabalho,
com amigos etc. no último ano? Se não
tiver feito NADA de diferente, cuidado:
você pode estar sozinho na caverna.
Depois de vender 98 mil
exemplares de seu livro de estreia –
Estação Carandiru
– e conseguir com
ele o Prêmio Jabuti, o infectologista
Drauzio Varella resolveu mudar de
assunto. Deixou de lado a
malandragem do maior presídio do
País, a matéria-prima de seu
Estação...
, e se debruçou sobre o
próprio passado. Fez surgir assim o
delicado
Nas Ruas do Brás
(Companhia das Letrinhas).
O livro de memórias, direcionado
ao público infantil, conta as aventuras
e desventuras de um neto de espanhóis
e portugueses, o próprio Drauzio, que
nasceu e cresceu no Brás, um bairro
“cinzento, de ruas de paralelepípedo”,
com muitas fábricas e chaminés, onde
“a paisagem era dominada pelos
italianos, mais numerosos e
barulhentos do que os portugueses e
espanhóis”. A história começa, na
verdade, com a vinda do avô paterno
da Espanha para o Brasil, no começo
do século. Depois disso, Drauzio faz
uma passagem rápida pela vida dos
pais até chegar à infância difícil de um
moleque travesso, sensível e
observador.
Em páginas muito bem ilustradas,
Drauzio lembra as brincadeiras mais
divertidas ou perigosas – como da vez
em que quase caiu da carroceria de um
caminhão em movimento numa
brincadeira que deu errado –, ou do
dia em que ouviu a final da Copa de 50
pelo rádio e viu “pela primeira vez um
homem chorar sem ninguém ter
morrido”. Sem pressa, ele fala das
brigas entre as italianas, da azeitona
deliciosa que furtava de vez em
quando na venda para poder comer
devagarzinho e de momentos tristes
como a morte da mãe, quando ele
tinha apenas 4 anos.
Em todas as passagens – que
ilustram uma história ainda maior, que
é a dos imigrantes e da vida em São
Paulo nos anos 40 e 50 – o que surge
com mais força é a simplicidade e a
delicadeza da escrita e a forma
generosa com que o autor olha para o
que está ao seu redor. Um talento,
aliás, que Drauzio Varella já havia
demonstrado em seu relato sobre o
Carandiru. Título Altamente
Recomendável pela Fundação Nacional
do Livro Infantil e Juvenil - FNLIJ
2000, categoria criança.