CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 4 A 10 DE SETEMBRODE 2014
CAPA
P
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OBRAS DA COPA
Tragédia há muito anunciada
Só agora o governador Silval Barbosa, a Secopa e o TCE abriram o olho para as falhas grosseiras, riscos e prejuízos incalculáveis
Beatriz Saturnino
Camila Ribeiro
Após tachar de
“profetas do caos” a
todos aqueles que
alertaram publicamente
para a falta de
planejamento,
acompanhamento e
fiscalização das obras
lançadas com vistas à
Copa do Mundo 2014, o
governador Silval Barbosa
(PMDB) se viu obrigado a
determinar uma auditoria
a fim de evitar tragédias
imensuráveis, a começar
com o iminente
desabamento do viaduto
da Sefaz, e contabilizar os
prejuízos milionários. A
obra foi edificada com um
percentual de 40% a
menos do material
necessário.
A necessidade,
inclusive, de colocar
escoras e acrescer aço e
concreto à obra só
ocorreu esta semana e foi
assumida pela própria
Secretaria Extraordinária
da Copa (Secopa) e
alardeada pelo Tribunal de
Contas do Estado (TCE),
que emitiu vários
relatórios das obras,
porém não adotou postura
contundente para evitar o
desperdício e os riscos à
população.
Inaugurado em
fevereiro deste ano, o
Viaduto Jamil Boutros
Nadaf (Viaduto da Sefaz)
teve um custo total de R$
18 milhões e está
totalmente interditado
desde o último dia 6. O
viaduto que integra o
pacote de implantação do
VLT (Veículo Leve Sobre
Trilhos) foi primeira obra
a ser liberada pelo
Governo Estadual.
No entanto, antes
mesmo de sua
inauguração, o elevado
necessitou passar por um
processo de recapeamento
do asfalto na cabeceira de
sua estrutura.
Procedimento este
considerado normal pelo
Consórcio.
É elementar que
diante das observações
acerca da falta de
planejamento, previsão,
controle tecnológico e de
projeto das obras da Copa
do Mundo 2014, entre
Cuiabá e Várzea Grande,
aconteceria o inevitável:
obras com falhas e risco
de desabamento, pela
baixa qualidade de
serviços da construção.
E não precisa ser
“Sherlock Holmes” para
sinalizar este fato, que há
muito tinha sido apontado
pelo Ministério Público do
Estado de Mato Grosso e
previsto pelo engenheiro
civil integrante da
Comissão de
Acompanhamento das
obras do evento da Copa
2014 Luiz Miguel de
Miranda.
“Um aluno meu não
faria uma idiotice daquela.
Porque quando você faz
uma curva muito
apertada, você tem que
fazer a pista mais larga, e
ali não cabem dois carros.
Se entra um ônibus ali
junto com outro veículo
vai dar colisão lateral.
Eles deveriam ter pensado
nisso. Primeiro, a curva
está errada: nota zero.
Não passam dois carros”,
diz incisivo o engenheiro,
que é professor doutor do
Núcleo de Estudos de
Logística e Transporte da
Universidade da
Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT).
Para se fazer
qualquer tipo de
construção, pontua o
especialista, é preciso ter
três condições básicas:
planejamento, projeto,
saber se tem gente para
fazer, quanto custa e se
tem material disponível.
Ou seja, envolvem
várias preliminares que
começam pelo planejamento
e projeto. Se faltar algum
desses itens, como numa
casa, por exemplo, o
resultado será ela mal feita,
com defeito, a parede irá
descascar. “E vamos pedir
a Deus que não caia sobre a
sua cabeça e de sua
família!”, alerta.
“Essa turma aí nunca fez controle
tecnológico de execução”
Luiz Miguel de
Miranda explica ainda
que se deve tirar corpo
de prova de tudo, em
laboratório e passar
raios-X em todos os
pilares das obras para
dizer se aquela
quantidade de ferro
utilizada condiz com a
norma.
“Essa turma aí
nunca fez controle
tecnológico de
execução. Se amanhã,
para me confrontar,
aparecerem com meia
dúzia de resultados de
ensaio, para mim não é
confiável”, alerta.
Os defeitos mais
graves e grosseiros
vistos pelo especialista
nessas obras todas
dizem respeito à falta de
projeto. “Nós sabemos
aqui na universidade, os
engenheiros civis de
toda essa cidade
também, que essas
obras começaram sem
projeto. Havia um prazo
curto para fazer este
plano megalomaníaco,
muito detalhado. Ainda,
não tinha gente para
fazer. E a versão que
nós temos das
Reparos no viaduto da
Sefaz levarão 4 meses
autoridades estaduais é
que o Governo Federal
não liberou os recursos,
que não veio o dinheiro de
Brasília”.
Ele aponta o viaduto
da UFMT como mal feito,
com erros grosseiros,
tiveram que desmontar as
vigas que já estavam todas
prontas, por erro de
cálculo de altura. Eles
tiveram ainda que serrar o
pilar para ele ficar na
altura, também que
colocar calço para o
viaduto ficar na altura
certa e os veículos
pudessem passar por
cima dele.
O professor critica
a vista grossa do
projeto do viaduto do
Despraiado, na Avenida
Miguel Sutil, em ignorar
o “morro do
Despraiado”, com risco
de desabamento, tendo
em vista que está
situação já ocorreu no
ano de 1993, cuja
encosta tem que ser
mais deitada, pois do
contrário ela cai.
Um laudo técnico
sobre o Viaduto da Sefaz
foi entregue pelo secretário
da Secopa, Maurício
Guimarães, ao presidente
do TCE-MT, Waldir Teis,
na segunda-feira (2). A
apresentação do laudo
pericial atendeu a uma
determinação do TCE.
Segundo o secretário,
a obra – interditada desde o
dia 6 de agosto – passará
por reparos nos próximos
120 dias. O conserto
exigirá acréscimo de
concreto e aço em blocos
de fundações e reparos
(reforço) na armadura
longitudinal, com uso de
fibra de carbono e
cordoalhas protendidas.
Em uma análise
preliminar sobre o relatório
entregue pela Secopa, o
TCE verificou que a
armadura longitudinal não
atende às solicitações mais
críticas de torção. Segundo
o órgão fiscalizador, a
armadura existente
correspondente a 195
centímetros cúbicos de
ferragem, quando a
necessária seria de 330
centímetros.
O TCE observou,
ainda, que a obra não
respeitou determinações da
Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT).
O secretário se
comprometeu a entregar
laudos sobre a Trincheira
do Santa Rosa, cujas obras
também estão paralisadas.
Desta forma, uma empresa
será contratada para
produzir os documentos.
VLT atesta falta
de planejamento
“Puxadinho” do aeroporto
não resiste a chuva
Pela segunda vez em pouco mais de um mês o teto
do Aeroporto Marechal Rondon cede. No dia 24 de julho,
parte do recém-reformado forro da área de desembarque
caiu, deixando as pessoas do local em pânico. Esta
semana, a forte chuva que atingiu a região metropolitana
de Cuiabá na tarde do dia 1º fez com que parte do teto do
aeroporto voltasse a desabar.
As obras de reforma e ampliação do Aeroporto
Marechal Rondon tiveram início em dezembro de 2012.
O valor inicial da obra era de R$ 77,2 milhões, mas o
projeto recebeu aditivos e o empreendimento hoje passa
de R$ 81 milhões.
Embora a previsão inicial de conclusão dos trabalhos
fosse março de 2014, a obra de responsabilidade do
consórcio formado pelas empresas Engeglobal,
Multimetal e Farol Empreendimentos ainda não terminou.
Falha grosseira em
encosta oferece riscos
Denunciada em primeira mão pelo
Circuito Mato Grosso
, a falha no corte da
encosta do morro localizado ao lado do
viaduto do Despraiado, na Avenida Miguel
Sutil, até o momento não foi corrigida. As
chuvas ameaçam chegar e, apesar de a
licitação ter sido concluída, nenhum
movimento de máquinas anuncia o início da
obra de contenção. As famílias que tiveram
que deixar o local devido ao risco de
deslizamento também não foram indenizadas.
O prejuízo ultrapassa R$ 5 milhões.
Como já foi dito à exaustão por
especialistas, a obra do Veículo Leve sobre
Trilhos (VLT) só fica pronta depois de
2015. O atraso demorou a ser assumido pela
Secopa e pelo governador Silval Barbosa e
hoje o modal representa o maior
descumprimento do calendário das obras
previstas para a Copa do Mundo.
A obra, orçada inicialmente em R$ 1,5
bilhão, deve ultrapassar a casa dos R$ 5
bilhões segundo previsões do professor Luiz
Miguel de Miranda.
Problemas nas obras começaram a ocorrer desde
que foram montados os primeiros canteiros na cidade
Secopa continua ignorando falha e morro pode voltar a
deslizar a qualquer momento com a volta das chuvas
O professor doutor Luiz Miguel de Miranda é categórico
ao apontar falhas grotescas de planejamento das obras
Viaduto da Sefaz foi entregue com atraso, porém em clima
de festa pelo governador Silval Barbosa
Passada a Copa, laudo aponta que empreiteira usou
material de construção a menos na obra