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CIRCUITOMATOGROSSO
PANORAMA
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CUIABÁ, 3 A 9 DE JULHO DE 2014
COMBUSTÍVEL
Etanol continua caro na bomba
Consumidor se sente lesado ao saber que houve redução no valor do etanol nas usinas mato-grossenses
Renan Marcel
Embora o preço
praticado pelas usinas do
setor sucroalcooleiro de
Mato Grosso tenha
demonstrado retração nas
últimas semanas, o
consumidor final do
etanol ainda não verificou
a diferença nas bombas
dos postos de
combustível do estado e,
por isso, já pensa duas
vezes antes de abastecer
com o biocombustível,
preferindo a gasolina,
mais rentável apesar de
ser mais poluente
também.
Conforme o Centro
de Estudos Avançados em
Economia Aplicada
(Cepea), da Escopa
Superior de Agricultura
“Luiz de Queiroz”
(Esalq), da Universidade
de São Paulo (USP),
desde o final de abril ao
até a primeira semana
deste mês, o valor do
etanol praticado pelas
usinas passou de R$ 1,72
para R$ 1,55. Isso com
todos os impostos já
somados. O valor nos
postos de combustíveis,
durante o mesmo período,
no entanto, não se
alterou, com o preço
médio variando entre R$
Aumentar o
percentual
de etanol
na gasolina
Em ano eleitoral, o
governo federal quer
aumentar a mistura de
álcool na gasolina, para
ajudar o setor
sucroalcooleiro, que está
em crise. O Palácio do
Planalto está estudando a
mudança da lei que
permitiria elevar a mistura
de 25% para 27,5%.
Antes, quer que seja feita
uma pesquisa pelo
Inmetro e pelo Centro de
Pesquisa da Petrobras,
para ter certeza que a
mudança não será
prejudicial ao motor dos
carros. O Planalto
também quer usar o
dinheiro do Inovar Auto
para a realização de outras
pesquisas.
Embora não haja regulação dos preços, já que o
mercado é livre e regido pela lei da oferta e da procura,
o Ministério Público do Estado (MPE) tem atuado
contra os abusos praticados pelos postos de
combustível. Em 2008, a Justiça concedeu liminar,
solicitada pelo MPE, que limita a margem de lucro
acima de 20%.
A decisão judicial ainda está em vigor, mas atinge
30 postos na Capital. No entanto, o levantamento
semanal de preços praticados nos postos de
combustível pela Agência Nacional de Petróleo (ANP)
revela que a média de preços em Cuiabá resulta em
margem de lucro de 25%. O preço mínimo é de R$
1,97, enquanto o valor máximo pode chegar a R$ 2,29.
Os postos cuiabanos compram o etanol, em média, por
R$ R$ 1,77. A pesquisa da ANP analisou o preço de 52
postos. Em outras cidades do estado, o lucro é maior, e
não se precisa ir muito longe. A vizinha Várzea Grande,
por exemplo, apresentou média de margem de lucro de
26% nos 20 postos analisados, com preço mínimo de
R$ 2,07 e máximo de R$ 2,29 para o biocombustível.
Lá, os postos compram o etanol, em média, por R$
1,71. Rondonópolis, por sua vez, registra média de
lucro de 27%, praticando preços que variam entre R$
2,09 e R$ 2,40. Mas o etanol custa mais caro aos
postos: R$ 1,80.
Lucro médio dos postos
é de 25%, em média
Desde o anúncio do
descobrimento e início da
exploração do pré-sal no
litoral brasileiro, a 180 km
da costa e 7 mil metros de
profundidade, o setor dos
biocombustíveis, antes
propagado pelo governo
federal mundo afora, vive
um momento de crise na
maioria dos estados.
EmMato Grosso,
segundo Jorge dos Santos, a
situação só não é mais
complicada devido às
políticas estaduais voltadas
para a indústria
sucroalcooleira. Ele garante
que o estado ainda é um
“oásis” no que tange ao
consumo. Aqui, o consumo
do etanol, em comparação
com o da gasolina, ainda
está entre 40% para o
primeiro e 60% para o
segundo. No restante do
A indústria sucroalcooleira
cresce emMato Grosso
Brasil, o consumo está em
25% para o etanol e 75%
para a gasolina.
Com dez unidades em
operação no estado, em
municípios como Barra do
Bugres, Alto Taquari,
Mirassol D’Oeste, Nova
Conquista e Jaciara, a
produção mato-grossense de
cana moída para a safra
2014-2015 deve chegar a
16.212.000 toneladas. O
etanol, nas modalidades
anidro (que é utilizado para
misturar com a gasolina) e
hidratado, pode chegar aos
1.024.063 m³. Parece
bastante, mas ainda é pouco
se comparado com outros
estados, que investemmais
na produção. Tanto que no
centro-sul, Mato Grosso
fica em último no ranking.
Nas últimas três safras, a
quantidade de cana moída,
por exemplo, aumentou
muito pouco, mantendo-se
na média de 16 mil
toneladas.
“Temos dificuldade de
logística e um custo alto
com o frete para levar o
etanol até Paulínia, que é o
principal centro distribuidor
nacional de combustíveis.
Além disso, por falta de
políticas do governo federal,
o produtor não vai investir
em algo que não tem retorno
garantido no mercado”,
explica. Além do consumo
interno, a produção de
etanol e açúcar emMato
Grosso tem como principais
destinos de consumo os
estado de Rondônia, Acre,
Amazonas e Pará, que não
são os maiores mercados.
Mesmo assim, gera cerca de
14,5 mil empregados diretos
e 58 mil indiretos.
Consumidores se sentem lesados pelos postos
Com preços cada vez
mais caros, o
consumidor se sente
lesado ao ter que
abastecer o carro
sabendo que houve
redução no valor do
etanol nas usinas mato-
grossenses. É o caso,
por exemplo, de Sinésio
Carlos Mendes, 43 anos.
Ele conta que prefere
abastecer o carro na
região onde mora, já que
lá o etanol está mais
barato que em outros
postos no percurso até o
serviço.
“A gente tem que
procurar o posto com
preço mais barato,
porque senão acaba
pagando muito caro no
mesmo produto”, afirma.
Na região da casa dele, o
etanol pode ser
encontrado por R$ 1,99
o litro, mas no restante
da cidade ele abastece a
R$ 2,14 por litro, no
mínimo. Ao saber da
redução do preço do
etanol nas usinas, o
vendedor Eudes Xavier,
de 41 anos, cobrou que
o reajuste seja repassado
ao consumidor final.
“Isso devia acontecer
automaticamente.
Deveria haver alguma
regulamentação para
baixar quase que
instantaneamente”,
avalia.
Xavier conta que
gasta cerca de R$ 300
semanalmente para
abastecer o carro, por
conta da demanda
profissional, que exige
que ele se desloque
constantemente pela
cidade. “Por menor que
seja a redução no preço,
faria uma diferença
grande no final do mês”,
reflete.
José Pereira, 60
anos, por sua vez, diz
que prefere abastecer
com etanol a gasolina,
porque ainda é mais
vantajoso, apesar do
preço. “Meu carro é
flex, mas eu opto por
colocar sempre o álcool.
A gasolina ainda é muito
mais cara. E nessa
questão do preço, às
vezes parece que os
postos estão formando
cartel”, revela.
2,13, em Santo Antônio
de Leverger, e R$ 2,48
em Sorriso. A capital
mato-grossense registra
preço médio de R$ 2,22,
enquanto a vizinha Várzea
Grande, R$ 2,17.
Para o diretor
executivo do Sindicato
das Indústrias
Sucroalcooleiras de Mato
Grosso (Sindalcool),
Jorge dos Santos, a não
redução do preço para o
consumidor final é fruto
de um “mau
comportamento dos
atores do mercado de
combustíveis”, conforme
aponta a tabela de preços
da Agência Nacional de
Petróleo (ANP).
Ele explica que os
atores são o produtor, a
rede distribuidora (frete)
e, por último, os postos
de combustíveis. “Quando
esses três atores não
trabalham em uníssono,
não se comportam
economicamente, dá
nisso. Alguém está
perdendo dinheiro e
alguém está ganhando
demais. Mas no final,
quem está pagando essa
conta são os
consumidores”. Apesar do
“mau comportamento”,
ele lembra, não é possível
fazer uma regulação dos
preços. “O mercado é
livre”. O problema,
segundo Santos, é a
situação faz estagnar o
consumo do etanol. “De
uma maneira geral o preço
se manteve e o impacto
disso é que a mercadoria
não gira, não vende”,
afirma.
O setor de
distribuição dos
combustíveis no estado
negou que tenha
interferência direta na não
redução do preço na
bomba dos postos.
Presidente da Cooperativa
dos Transportadores
Autônomos de Cargas
Líquidas e Derivados de
Petróleo de Mato Grosso
(Cooptrans), Gilfredo
Oswaldo Fritz argumenta
que o frete é contratado
com base em fatores
como distância, da usina
até a unidade final, e
quantidade. “O frete é
calculado com base nisso.
Se a usina baixar o preço
do etanol, o frete continua
com o mesmo valor.
Aliás, estamos com o
mesmo valor desde
dezembro”, afirmou.
E o Sindicato do
Comércio Varejista de
Derivados de Petróleo,
Gás Natural e
Biocombustíveis de Mato
Grosso (Sindipetróleo),
por sua vez, argumenta
que a tendência é de que
“os postos sigam
reajustes praticados pelas
distribuidoras, já que são
essas que comercializam
os combustíveis à
revenda”. No entanto,
lembra que cada “posto é
livre para definir o preço
conveniente para
manutenção do seu
negócio”.
Apesar de não seguir
o ritmo da redução
verificada nas usinas, o
que agradaria mais o
consumidor e estimularia
o mercado, o preço médio
do litro do etanol nos
postos de Mato Grosso
teve uma leve queda em
maio, de
aproximadamente 1,3%,
ficando em quinto lugar
na lista nacional dos mais
caros, embora deva
produzir quase 1.024.063
m³ de etanol neste ano,
segundo previsão do
Sindalcool.
Preços caem nas usinas mato-grossense,
mas postos não repassam ao consumidor
Jorge dos Santos, presidente do Sindalcool, reclama de
crise no setor sucroalcooleiro do Brasil
O vendedor
Eudes diz que
gasta quase R$
300 por semana
com combustível
e cobra redução
e fiscalização de
preços
José Pereira
diz que mesmo
com alta de
preços ainda
prefere
abastecer com
etanol
Foto: Renan Marcel/Daffiny Delgado
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