CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 3 A 9 DE JULHO DE 2014
CULTURA EM CIRCUITO
PG 6
CHAPEUZINHOVERMELHO
MELHOR REMÉDIO
Por José Augusto Filho
José Augusto é diretor de
teatro e produtor de
programas de
variedades
CADEIRA DE BALANÇO
Por Carlinhos Alves Corrêa
Carlinhos é jornalista
e colunista social
SANTOMILAGROSO
A Festa de São Benedito é uma tradição
do povo cuiabano, que ao longo dos tempos
vem mantendo esta celebração religiosa ao
santo milagroso com muita fé. As
celebrações de 2014 em louvor ao Santo
Festeiro de Cuiabá, o nosso São Benedito,
acontecem no período de 3, 4, 5 e 6 de
julho no Largo do Rosário, recebendo
inúmeros devotos, admiradores e turistas
nesta manifestação da cultura cuiabana.
Não importa qual seja a sua opção de fé,
mas o frei São Benedito é admirado por
diversos segmentos que seguem a Lei de
Deus. A cidade descoberta por Pascoal
Moreira Cabral, onde muitos escravos
cultivaram esta fé ao Santo Milagroso que é
São Benedito, é um marco da história das
ruelas estreitas, onde muitas chibatadas
foram dadas, jorrando sangue e suor dos
negros. O importante é que nunca perderam
a fé. E hoje, tanto na Rua de Cima, Rua do
Meio e Rua de Baixo, há gemidos de
homens negros, com alma branca, que
souberam agregar nesta devoção secular em
diversos segmentos da sociedade. Aunião
dos festeiros, como também do rei João
Félix do Nascimento e da rainha Jane
Benedita Campos Leite, faz com que a
Irmandade de São Benedito preserve uma
das mais belas tradições de Cuiabá que é a
festa do Santo Festeiro, o nosso São
Benedito. Como diz o tema da festa: São
Benedito: Coração forte, protege nossa
gente.
CASADAFESTAI
Quem trafega pela Rua Barão de
Melgaço, antiga Rua Linda do Campo, não
imagina que naquele casarão colonial
conhecido como Casa de Dona Bem-Bem
foram realizadas bárias festas de São
Benedito. AFesta de São Benedito
anualmente é celebrada na última semana de
junho, de forma que o dia do seu
encerramento cai sempre no primeiro
domingo de julho. Antigamente quem
preiteava a ser festeiro geralmente era gente
da alta sociedade, de recursos ou mesmo de
fortuna, pois quem se apresentava, pois,
para ser festeiro de São Benedito ganhava
status. Meses antes da festa, faziam um
planejamento e reuniam-se os festeiros para
diversas providências, responsabilidades,
pois era um evento religioso aberto a toda a
população cuiabana. Aprimeira escolha era
a “Casa da Festa”, da família Figueiredo,
sob a coordenação da matriarca D. Bem-
Bem. Avisita da bandeira de São Benedito
percorria os centros urbanos e bairros da
capital e a renda das esmolas era destinada
à Igreja Nossa Senhora do Rosário e São
Benedito. Na sala da “Casa da Festa”
montava-se o altar, onde permaneciam
expostas as insígnias durante todo o
período da festa. Era uma pá de gente que
entrava, que saía, mas não havia
discriminação a ninguém, o importante era a
união do povo em louvor a São Benedito.
CASADAFESTAII
A residência senhorial da família
Figueiredo era um espaço amplo que
armazenava, num enorme depósito, gêneros
alimentícios e bebidas para serem
consumidos durante o evento. A
participação da alta sociedade cuiabana era
máxima na confecção de biscoitos, bolo de
queijo, principalmente na confecção dos
biscoitos artesanais e o tradicional bolo de
arroz, para serem servidos ao povo com
chocolate quente durante as missas das
madrugadas. A “Casa da Festa” era o ponto
de reunião de diversos segmentos da
sociedade em animados “bate-papos”,
tomando uma bem geladinha, enquanto
aguardavam as esposas na confecção dos
bolos. Durante as madrugadas das festas os
festeiros saíam com as insígnias rumo à
Igreja Nossa Senhora do Rosário e São
Benedito, em cortejo com uma multidão de
gente acompanhada de banda. Terminavam
as missas, o cortejo seguia até a casa de D.
Bem-Bem para o tradicional chá com bolo.
No domingo realizavam-se as missas
solenes às nove da manhã, no mesmo dia
havia nomeação dos novos festeiros,
procissão à tarde, e o almoço, com a
participação de grande massa popular,
música animada pelos mestres Inácio e
Albertino, farta distribuições de bebidas e
comestíveis aos pobres. Na Casa da Festa,
encerrava-se de fato com um requintado
baile do qual a elite cuiabana participava
com todo o glamour. A casa de Bem-Bem
serviu de grande palco nos reinados de:
Archimedes Pereira Lima e Rosa Mutran
Malouf, Herman Pimenta e Loescir Addor
Alves Corrêa, Nely Gonçalves Pinheiro e
Anita Negrão etc. Já na década de 80, o
empresário João Celestino Corrêa Cardozo
Neto (João Balão) e LêdaAddor Vieira
realizaram a Festa de São Benedito na Corte
do Clube Esportivo D. Bosco e chá com
bolo popular na quadra da Lixeira. O
importante é que São Benedito é o santo
vivo na memória daqueles que conhecem o
seu poder de fé.
Quem não conhece a história de
Chapeuzinho Vermelho??? Feche os olhos
e comece a se lembrar.
A pedido da mãe, uma menina deve
atravessar um matinho sinistro pra levar
comida até a casa da vó doente. No
caminho, Chapeuzinho é abordada por
um lobo, que lhe indica um desvio longo
enquanto pega um atalho até a casa da
velhinha e a devora sem dó nem piedade.
Chegando lá, Chapeuzinho trava um
diálogo recheado de duplos sentidos e
também é comida. Eis que um caçador
salva o dia tirando avó e neta da barriga
do lobo.
Na versão compilada por Perrault em
1697, a menina e a velhinha morriam.
Foram os Grimm que, 160 anos depois,
tiraram o caçador do chapéu. O final
varia, mas mantém-se o sugestivo
diálogo que começa com “pra que esses
olhos tão grandes?” e termina com “pra
te comer melhor!”. A melhor parte.
Existe uma versão anterior à
tradicional, que inclui canibalismo (a
menina bebe o sangue e come a carne da
avó), strip-tease e até sugestão de golden
shower. Sim, o lobo pede que a menina
urine sobre ele. O lobo, além de pedófilo,
é fetichista.
Uma questão recorrente é: por que
Chapeuzinho dá trela ao lobo? “Ela é uma
criança com a ingenuidade de quem não
sabe sobre o sexo. Ela pode não saber
que jogo está sendo jogado, mas é
inegável seu interesse em participar”.
Esse caminho interpretativo leva ao
campo minado da sexualidade infantil.
Segundo Freud, nossas primeiras
experiências sexuais são encobertas por
uma espécie de amnésia que vai até os 6
ou 8 anos. A história teria sobrevivido
por usar símbolos que nos fazem pensar
nessa questão. Ou seja: o conto não fala
apenas sobre o perigo do desconhecido,
mas sobre a perda da inocência.
No sexo, há adultos que agem como
uma menina diante de um lobo. “Quando
a vida lhes impõe um papel sexual, vão
oferecer o que têm: sua ingenuidade”. Eu
acho que na verdade Chapeuzinho era
uma safada que deu o truque da galinha
morta pra seduzir o lobo mau e entregá–
lo de bandeja pro caçador, por quem na
verdade ela estava interessada. E ae?
Você tá mais pra Lobo Mau ou pra
Chapeuzinho Vermelho???
E pra finalizar tem aquela versão que
Chapeuzinho chega pro lobo e começa o
bombardeio de perguntas: “Pra que esses
olhos tão grandes??? Pra que esse nariz
tão grande??? Pra que esses olhos tão
grandes???”. E o lobo a fita nos olhos e
diz: “Ai, para com essa palhaçada, que
hoje eu não tô boa. Menina chata, mil
anos fazendo o mesmo personagem, não
tem criatividade nem pra mudar o
texto???”. Eu, hein!