EDIÇÃO IMPRESSA - 463 - page 10

CIRCUITOMATOGROSSO
PANORAMA
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CUIABÁ, 24 A 30 DE OUTUBRO DE 2013
ENEM
Enquanto o Estado desmonta a escola pública, estabelecimentos particulares investem na qualidade.
Por: Diego Frederici. Fotos: Mary Juruna
O desafio para chegar à faculdade
O Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem) é uma
das iniciativas políticas mais
importantes da sociedade
brasileira. A partir de 2009
a prova deixou de ter o
caráter meramente
avaliativo da qualidade do
ensino médio no Brasil,
quando foi criada em
1998, e passou a ser a
porta de entrada para a
maioria das universidades
públicas do país, além de
ser pré-requisito para o
Estudante de escola pública é exemplo de dedicação
Shayenne Paula
Vidal de Matos, 16
anos, cursando o
terceiro ano do ensino
médio na escola da
capital mato-
grossense, tem
responsabilidades de
adulto, tendo em vista
que trabalha de
manhã e frequenta o Liceu
Cuiabano à tarde. A
jovem sonha em cursar
Psicologia na Universidade
Federal de Mato Grosso
(UFMT) e explica como
vem se preparando para o
exame que pode torná-lo
realidade.
“Estudo por conta
própria. Infelizmente não
tenho condições
financeiras para pagar um
cursinho particular, pois
eles são muito caros.
Tentei o Cuiabá Vest
[programa municipal da
Capital que oferece
cursinhos pré-vestibulares
gratuitos], mas as únicas
vagas disponíveis eram
longe de casa e não ia dar
tempo de pegar o ônibus.
Me mantenho atualizada,
faço redações para minha
mãe corrigir e uso o pouco
tempo livre para estudar,
pois trabalho de manhã”,
diz Shayenne.
Apesar das
diferenças na formação, a
docente da escola
estadual cuiabana opina
que é possível conseguir
uma vaga em
universidades públicas e
que a preparação para o
exame não deve ocorrer
apenas no ano em que
será feita a prova: “A
preparação do Enem
não é só no ano
vigente da prova, assim
como a formação de
qualquer cidadão, que
se dá através da
educação infantil,
ensino fundamental e
médio, ao longo da
vida”.
Estrutura de aprendizagem
é diferencial
A oportunidade de
frequentar o ensino
superior na Universidade
Pública tem se tornado
mais acessível nos últimos
tempos, embora esta
ainda seja uma realidade
distante para muitas
pessoas no Brasil, em
virtude da baixa
qualidade do ensino
público e da concorrência
com escolas privadas que
têm um padrão de
excelência não apenas na
formação curricular desses
estudantes, mas também
no preparo para viver em
sociedade.
Para a coordenadora
pedagógica do Colégio
Salesiano Santo Antônio,
Maria Amélia da Costa,
de Cuiabá, um preparo
intenso envolvendo
simulados, ensino lúdico,
salas de aula e
laboratórios aparelhados,
além de professores
competentes, faz a
diferença quando o aluno
é submetido a um teste
importante como o Enem
e que é preciso
comprometimento.
“O aluno deve vir
para a escola com prazer
e deve dispor de uma
estrutura que atenda suas
expectativas. Para os que
se encontram na fase de
decidir qual curso superior
querem frequentar, o ideal
é que sejam preparados
assim que ingressam no
primeiro ano do ensino
médio. Deve haver
comprometimento não
apenas dos profissionais
envolvidos na educação,
mas também do discente”,
afirma ela.
Escola prepara o aluno para
o vestibular e para a vida
Preparar o aluno para
a vida é a filosofia do
Colégio Isaac Newton,
que há mais de três
décadas investe na
qualidade do processo de
ensino-aprendizagem com
vistas a inserir o maior
número possível de alunos
nas principais faculdades
do país. Ao longo do ano
os estudantes são
motivados, além das aulas
tradicionais e em período
integral, a aprender por
meio de atividades
culturais, arte, esporte e
inclusive viagens nacionais
e internacionais.
Na semana que
antecede o Enem, a
escola promove um
“aulão” bastante animado
e cujo objetivo é promover
a interação entre o
professor e o aluno,
dando-lhe dicas,
revisando conteúdos,
proporcionando-lhe
autoconfiança e
segurança para o
momento das provas.
“Tem também como
foco mostrar aos nossos
alunos que finalizamos
com eles a nossa missão
que é a formação integral
preparando para a vida,
pois esses alunos estão
mais do que preparados
pela escola para
enfrentar, com muito
sucesso e competência,
todos os desafios dessa
nova jornada”, define a
diretora do ITA Medicina,
professora Ivone
Guiname.
acesso a programas sociais
de financiamento estudantil,
como ProUni e Fies. Os
estudantes do ensino
público de Mato Grosso,
no entanto, têm pouco a
comemorar.
Para o secretário de
comunicação do Sindicato
dos Trabalhadores no Ensino
Público de Mato Grosso
(Sintep-MT), Gilmar Soares,
o ensino médio vive uma
crise no mundo, pois não
consegue ser atrativo para os
jovens, analisando que o
caso é ainda mais grave em
Mato Grosso, pois, segundo
ele, a área não consegue
partilhar das riquezas
produzidas no Estado, que
fica concentrada nas mãos
de poucos.
“Do ponto de vista da
escola pública, o problema
do ensino médio é
complexo. A avaliação que
se tem é que ele não
corresponde às expectativas
da juventude. Há uma crise
no mundo em relação ao
segmento, e em nosso
Estado o quadro é mais
adverso, pois temos um PIB
maior do que o nacional,
mas é uma riqueza que fica
concentrada nas mãos de
uns poucos. A educação
não se beneficia disso”, diz
ele.
A disparidade entre os
estudantes de escolas
particulares e públicas é
expressa em números do
próprio Ministério da
Educação (MEC). Nenhum
dos vinte colégios mais bem
classificados no Enem, em
Mato Grosso, é estadual. O
sindicalista aponta que
boas condições financeiras
dão suporte a uma
formação ampla,
contribuindo para que o
aluno se saia bem no teste.
“Quem está na escola
pública possui condições
financeiras menores do que
as famílias que podem
pagar por um colégio
particular. Esses alunos não
podem, por exemplo, ter
acesso a formação cultural
e de lazer, que são
coadjuvantes na formação
do estudante e do
cidadão”.
Soares afirma que um
dos caminhos para a
melhora desse quadro é o
cumprimento da
Constituição Estadual, que
obriga a destinar 35% dos
recursos de renúncias fiscais
para a educação, dizendo
ainda que o Enem é uma
iniciativa inovadora, pois
subverte a lógica das
indústrias dos cursinhos
que, até pouco tempo,
cerceavam ainda mais o
direito à educação superior
pública de qualidade à
população.
Mesmo com as
diferenças de preparação
entre alunos da escola
pública e particular – que,
em tese, dispõe de
infraestrutura superior à da
rede estadual de ensino –,
o Enem é um programa
que possibilita a ascensão
social por meio da
universidade, e cada vez
mais filhos de
trabalhadores têm a chance
de cursar o ensino superior
público, segundo Maria
Carneiro Kaefer, professora
de História da Escola
Estadual Liceu Cuiabano.
Para ela, o Exame
Nacional do Ensino Médio
é a política de Estado que
pode fazer ascender
pessoas de classes mais
baixas a uma educação
pública de qualidade.
Maria fala ainda que o
perfil dos estudantes
ingressantes nessas
instituições vem mudando,
tendo em vista que o foco
também é dar chances
para aqueles que estudam
na rede estadual, e não
apenas aos advindos de
escolas
privadas.”Percebemos hoje
um perfil diferente de
universitários em instituições
públicas, pois muitos deles
são filhos de trabalhadores.
Não raro, os próprios
alunos é que são os
trabalhadores”, diz ela.
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de en s i no ao en s i no s upe r i o r púb l i co de qua l i dade
Pa r a a p r o f e s s o r a de H i s t ó r i a Ma r i a Ca r ne i r o
Kae f e r a p r epa r ação pa r a o Enem deve oco r r e r ao
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A coo r denado r a Ma r i a Amé l i a da Co s t a ,
do Co l ég i o Sa l e s i ano San t o An t ôn i o ,
op i na que acompanhamen t o da f amí l i a é
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