Com 51 anos, ADIR SODRÉ
celebra a conquista de ser artista
plástico full time, viver do que
produz, criando mais telas e
apresentando performances. Neste
mês do aniversário, prestes a
comemorar juntamente com a filha
NINA SODRÉ, Adir me recebe em
casa para uma entrevista. No
próximo dia 24 vai comemorar
numa festa com a filha, uma noite
organizada por Fernando Baracat.
Adir está alegre, Nina vem de Porto
Alegre, ela é designer de moda e
DJ, vem para Cuiabá
discotecar
na
festa com o pai. Num clima de
comemoração, resolvo estender
esse bate-papo com Adir para
outros amigos que mandaram
perguntas para o CULTURA EM
CIRCUITO. No início eu decolo
com algumas, depois passo a
palavra para os amigos. Este texto
é muito pouco diante do que se
vive ao papear com Didi Dedé: o
gênio é um contador de histórias
com poucas vírgulas, sobrepõe a
narrativa com diálogos, faz críticas
simultaneamente, imita vozes, canta
e veste figurino quando responde
uma pergunta.
LUIZ MARCHETTI: Artista
em Mato Grosso é um
profissional especial?
ADIR SODRÉ: Todo mundo
virou artista em Cuiabá, já eu não
sei nada, há 40 anos aprendendo,
somente agora que estou
começando a entender alguma
coisinha, meu trabalho era pra
pagar contas, um ofício, mas gosto
refina-se, mau gosto discutimos.
Mas tomem cuidado, pois amanhã
posso mudar de opinião.
LUIZ MARCHETTI: Durante
as performances de sua
pintura você elabora várias
camadas, que são reveladas
nas suas pinturas durante a
execução, são colagens,
fotografias escondidas, em
algumas delas eu, encantado
com o que já via, preferia que
você tivesse parado por ali e
não seguisse ao final
premeditado. Já aconteceu
isso, de você parar no
caminho ou alguém pedir:
PARA ADIR, CHEGA?
ADIR SODRÉ: Eu já destruí
inteiro, quando pediram. A obra
estava linda, eu destruí. Eu não
paro, eu vou até o final, antes eu
até abraçava a tela, eu virava tinta
pura. Eu tenho horror ao vazio, sou
puro excesso, às vezes me
arrependo no dia, se a música der
errado na performance por
exemplo eu sofro, eu não ensaio
na tela, mas penso muito, seleciono
muito para a obra antes de
executá-la.
LUIZ MARCHETTI: Você
mudou de fase algumas vezes.
Uma fase Adir Sodré tem
início, meio e fim?
ADIR SODRÉ: Eu estou
vivendo, eu estou fazendo o que eu
gosto, e estou começando a cansar
desse negócio de flores, eu vivo de
experiências. Em outras eu estava
brincando, estudando, aliás, eu sou
um monte de fases.
LUIZ MARCHETTI: As
poesias que você escolhe e as
músicas selecionadas pré-
gravadas para as
performances vêm em função
do momento diante do evento
da noite (para um aniversário
– casamento) ou de um
diálogo com o global, com
inspirações mais amplas?
ADIR SODRÉ: vem do
específico, do meu ofício,
preconcebido pra falar algo com a
música que ele ou ela – a
aniversariante, ou um evento, como
o do Circuito Cultural Setembro
Freire, em que eu dialogava com
um poema, o Gool. Tudo muito
escolhido para aquela pessoa.
RODRIGO MELONI
(JORNALISTA): Na polêmica
em torno do trabalho
realizado pelo produtor Pablo
Capilé, o que tem a dizer
sobre isso?
ADIR SODRÉ: Eu nunca tive
uma relação próxima com ele,
admirava o Festival de Rock
Calango, era distante, mas não
gosto do povo falando mal dele,
tem muita gente com inveja dele,
eu sou contundente, mas ele era
mais ainda do que eu. O que
mais complicou com Pablo foi ele
ter poder em São Paulo e não
trazer nada para cá; eu sempre
viajo, mas viajo para voltar, para
trazer novidades, trocar tintas
com outros artistas.
GIULIA CAJU
(VIDEOMAKER): A arte muda a
vida?
ADIR SODRÉ: Claro, me deu
cidadania, eu virei gente em
Cuiabá, eu sou gente.
DEWIS CALDAS
(MÚSICO): Na sua visão, qual
o foi o grande legado da sua
geração na construção
artística em Mato Grosso?
ADIR SODRÉ: Eu não sei,
não tenho vocação de líder, eu
estava na geração 80 do MAM
em São Paulo, todo mundo
queria estar, mas não estava, eu
ouvia uma curadora do Inhotim
falar de mim, fui pro Pompidou,
comprava Philip Glass e Laurie
Anderson, mas sempre soube meu
lugar, meu mundo acaba muito
aqui no fundo do quintal. Eu
sempre adorei o trash, o
underground, tudo que não
prestava primeiro no Brasil eu ia
ver o que era. Desde pequeno,
sempre achava algo que me
encantava. Não tenho pretensão
nenhuma desse legado. Eu fiz
uma parte de experiência; agora,
eu serei vários pintores.
LUCAS BRANDÃO LOPES
(MÚSICO DA BANDA BILLY
BROWN E O INCRÍVEL
MAGRO DE BIGODES): Adir, o
que um artista faz pra manter-
se em evidência diante das
dificuldades do mercado
artístico local?
ADIR SODRÉ: Trabalho,
trabalho e trabalho. É um ofício
divino, primeiro e sempre, podem
acabar comigo, mas não toquem
no meu trabalho, minha argamassa
como pedreiro é vermelha.
Inspiração não tem? Bom, se você
trabalhar e trabalhar, ela vem!
Desde os 8 anos eu sempre fui
muito perturbado, trabalhando a
inspiração vem. É o trabalho que
me evidencia.
BABU 78 (ARTISTA DE
GRAFITE): Hoje o Brasil
atravessa um momento
político e cultural com muitas
manifestações, com a
população indignada com os
rumos da nossa política. A
arte do Adir também falará
nas ruas sobre isso?
ADIR SODRÉ: Eu acho que
nós atravessamos um difícil
momento. Eu sempre levei
minhas obras para
manifestações, um louco. Eu fui o
segundo filiado do PT.
FABIO MOTTA
(FOTÓGRAFO): Como
aconteceu o encontro com
Nina Hagen?
ADIR SODRÉ: Eu queria
mudar o mundo. Na minha família
sempre gostavam muito de música.
Eles cantavam, mas eu mudava o
repertório da família, da igreja pra
cantar Bethânia. Eu casei com
Márcia, era uma mulher engajada,
mas o dinheiro não dava, era tudo
revolta, ela era muito evoluída,
tudo era revolução. Eu comprava
muitos LPs e revistas. Depois que
vim para Cuiabá e comprando
mais de 5 mil LPs, fui ao mercado
Morita, vi o disco da Nina Hagen,
quando eu coloquei o disco na
vitrola minha vida mudou e isso era
antes do Rock in Rio. Eu, que era
engajado de PT, fui para o punk
alemão, traduzia as letras com um
amigo e tudo. Nina Hagen era
lírica e pop louco. Quando fui ao
Rock in Rio, não consegui ver o
primeiro show, no último show dela
eu peguei um táxi e fui para o
Hotel Hilton com muitas telas
enroladas, eram pinturas da Nina
Hagen. Cheguei e me deparei com
um grupo de seguranças. Vi uma
porta, me levaram por ali porque
acharam que eu ia trocar o carpete
dela, porque eu estava com um
monte de telas, com tecidos
enormes, pensaram que eu era
trocador de carpete... Quando os
jornalistas na porta do quarto me
viram com as telas, eu abri, mostrei
tudo, deixaram eu entrar no quarto,
ela viu as telas e chorou, foi assim.
Depois que entrei no quarto dela eu
frequentei o Rock in Rio. Eu dei
muitas telas pra ela. Nina Hagen
comentou que ela também pintava,
que também desenhava. Depois
que ganhei o crachá dela, eu
entrava com todos os diretores nos
melhores pontos do Rock in Rio
com ela e sua equipe. Ela inclusive
usou uma tela minha como cenário.
Mas a minha filha Nina, minha filha
não nasceu em homenagem à
Hagen, ela veio com esse nome de
niña de pequena, de pequetitinha.
GUSTAVO CID
(VIDEOMAKER): Hoje com a
internet, qual a influência
dessa nova perspectiva de
arte no seu trabalho?
ADIR SODRÉ: Eu adoro
internet, a única coisa que
americano inventou que eu amo, se
querem pegar o lixo... aí pegam,
eu pego o que tem de melhor. Eu
amo a internet.
CAIO ANDRÉ (ARTISTA
PLÁSTICO): Adir, como você
consegue levar o verde até o
vermelho com tanta
realidade?
ADIR SODRÉ: Eu não estudei
nada, é trabalho, pintei trabalho de
loja, se quer pintar, case com a
pintura, quer ser médico, case com
a medicina, eu aprendi levando a
tinta quando eu pintava pano de
prato. Foi assim que eu consegui.
DAVI PEREZ (CHEF DE
COZINHA): Como foi sua
residência artística na Casa do
Sol?
ADIR SODRÉ: Um dia
comprei o livro O CADERNO
ROSA DE LORI LAMBY, de
HILDA HILST. Aí peguei o livro
ilustrado por Millôr Fernandes
com apenas oito ilustrações, achei
que ele foi preguiçoso e ilustrei
mais e muito mais. Depois de 25
anos, o curador Jurandir, do
Instituto CASA DO SOL, da casa
de Hilda Hilst, veio aqui em
Cuiabá e me convidou para
visitar a Casa do Sol. Mostrei o
livro. A minha vida mudou ali: a
casa é longe do aeroporto de
Campinas. Uma casa
frequentada por intelectuais e
artistas. Cheguei à casa e senti
que morei lá, chorei muito, dali fui
parar na Unicamp, me mostraram
os originais. Me senti como filho
de Hilda. Nos domingos havia
peças de teatro e performances na
CASA DO SOL. Fiquei um mês,
uma imersão, dois dias com A
CASA DO SOL e outros no hotel.
Foi algo muito forte para mim.
CUIABÁ, 24 A 30 DE OUTUBRO DE 2013
ANIVERSÁRIO DE DIDI DEDÉ
O Rei do Rock nasceu em Mississippi em 1935. Suas influencias musicais foram pop, country,
gospel e R&B. Por diversos países e em todo o Brasil a obra de ELVIS PRESLEY vive com inúmeros
fãns. Assim o artista ONES MIGUEL FRANCESCON, cantor e músico da CIA SINFÔNICA,
vestido a caráter se entrega no tributo. Os shows acontecerão no dia 31 de outubro e 7 de
novembro às 21h. O valor do couvert artístico será de R$ 50,00 por pessoa, pago antecipado na
Casa do Parque. Reservas (65) 3365 4789.
ELVIS! O REI ESTA VIVO
CULTURA
Por Luiz Marchetti
Fotos: Luiz Marchetti
Luiz Marchetti é
cineasta cuiabano,
mestre em design em arte
midia, atuante na cultura de
Mato Grosso e é careca.
Ad i r Sod r é na s ceu no d i a 9 de ou t ub r o , va i comemo r a r no
d i a do nas c imen t o da f i l ha , Ni na Sod r é , em 24 de ou t ub r o