EDIÇÃO IMPRESSA - 463 - page 7

CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 24 A 30 DE OUTUBRO DE 2013
POLÊMICA
P
G
7
LAR DA CRIANÇA
Invasão expõe segurança frágil
Um casal driblou a segurança, agrediu e humilhou funcionários e por pouco não resgatou crianças vítimas de negligência da
família. Por Camila Ribeiro e Valquíria Castil. Fotos: Mary Juruna
Novamente o Lar da
Criança, unidade gerida
pela Secretaria de Estado
de Trabalho e Assistência
Social (Setas-MT) e que é
responsável pelo
acolhimento de menores
vítimas de abandono ou
violência doméstica, é
alvo de polêmica. Na
última semana, o local foi
palco de um episódio
cinematográfico,
protagonizado pela mãe
de duas crianças
internadas na instituição.
Uma mulher, apontada
como garota de
programa, e seu
namorado, suplente de
vereador em Apiacás,
invadiram o Lar na
tentativa de “resgatar” os
filhos que estão acolhidos
Servidores revoltados com ousadia
de casal e silêncio da Setas
Servidores do Lar da
Criança procuraram o
Circuito Mato Grosso
Circui
para relatar a revolta diante
da ação do casal e também
com o que eles classificam de
omissão da Setas para com
a falta de condições de
trabalho na instituição.
“Esse homem e essa
mulher devem pagar pelo
que fizeram. Fomos
humilhados e agredidos física
e moralmente. O pior de
tudo é que a Setas até agora
nem sequer mandou alguém
no Lar para saber o que
aconteceu e adotar medidas
para garantir a segurança de
nós, servidores, e também
das crianças”, desabafou um
dos profissionais.
Eles dizem se sentir
ameaçados por conta da
fragilidade da segurança
predominante no Lar da
Criança. “Estamos nos
sentindo intimidados como
servidores e queremos que
essas pessoas paguem pelos
danos morais que nos têm
causado”.
Procurada pela
reportagem, a juíza Gleide
dos Santos afirmou, por
meio de sua assessoria de
imprensa, que a segurança
da unidade é de
responsabilidade do Estado.
Qualquer medida neste
caso só pode ser tomada
em caso de uma denúncia
do Ministério Público
Estadual (MPE), dando
conta da fragilidade na
segurança do Lar.
Gaeco investiga e MPE decreta sigilo
Na última quarta
(16), o promotor Clóvis
de Almeida Júnior, da
36ª Promotoria de
Justiça de Defesa do
Patrimônio Público,
decretou sigilo na
investigação que apura
contratação de R$ 5,2
milhões, por meio de
dispensa de licitação,
para o Lar da Criança.
Na última semana, o
Grupo de Atuação
Especial de Combate
ao Crime Organizado
(Gaeco) respondeu a
solicitação da
promotoria, que pediu
auxílio nos trabalhos de
investigação.
O caso, revelado
com exclusividade pelo
Circuito Mato
Grosso
, fez com que o
Ministério Público
Estadual (MPE) abrisse
três frentes de
investigação para
averiguar a contratação
feita pela Secretaria de
Estado de
Administração (SAD). O
caso está sendo
apurado na Promotoria
da Infância e
Adolescência,
Patrimônio e Promotoria
Criminal Especializada
na Defesa da
Administração Pública e
Ordem Tributária.
No Lar, faltam até
medicamentos
Embora seja responsável pelo acolhimento de
cerca de 110 crianças, das quais boa parcela faz
uso permanente de medicamentos, o Lar da Criança
ainda convive com a falta de remédios. O problema
estaria ocorrendo por conta do não pagamento à
Droga Chick, farmácia responsável pelo
fornecimento dos medicamentos ao Lar.
Segundo o gerente da unidade, Janio Tadeu,
existe um atraso nos pagamentos e em consequência
disso a farmácia mantém o fornecimento dos
medicamentos apenas em cima de pedidos de
urgência. Tadeu preferiu, no entanto, não informar
os valores e o tempo em atraso dos pagamentos.
Unidade que deveria acolher é cenário de horror
Conforme o
Circuito
Mato Grosso
já relatou
em uma série de
reportagens, O Lar da
Criança é alvo de
denúncias de
superlotação, maus-tratos
e falta de funcionários.
Um dossiê elaborado por
oito entidades de classe e
que representam
profissionais lotados em
unidades públicas de
saúde da Capital
aponta, entre as
irregularidades, a
ausência de médico
técnico-responsável, a
medicação
psicofarmacológica sem
registro ou controle e
ausência de farmacêutico
responsável, além da
falta de médico
plantonista noturno e em
finais de semana.
Não obstante, a
fragilidade da unidade
ainda expõe funcionários
e as próprias crianças –
que já têm um histórico
de violência ou agressão
doméstica – a este tipo
de situação.
na unidade, por
determinação da juíza da
Vara da Infância e
Juventude, Gleide Bispo
dos Santos. Na ocasião,
o casal, completamente
descontrolado, teria
agredido funcionários da
instituição com tapas e
palavras e inclusive os
ameaçado de morte.
O episódio, que teria
sido gravado pelo sistema
interno de monitoramento,
atestou que a instituição,
cuja missão é
salvaguardar a
integridade física de
crianças já vitimizadas
dentro da família, não
tem estrutura para impedir
um ‘sequestro’.
O fato foi registrado
por volta das 15h30 da
quinta-feira (17) e levou
dois funcionários da
instituição a registrar
queixa na Central de
Ocorrências da Polícia
Militar (Ciosp). Consta no
boletim ao qual a
reportagem do
Circuito
Mato Grosso
teve
acesso, que a mãe das
crianças, H.P.G., 33
anos, e o suposto
namorado, M.M., de 44,
adentraram ao Lar dando
um “ataque de
nervosismo” após
arrebentarem o portão
eletrônico da instituição à
base de chutes.
Os dois conseguiram
passar por vários setores
da instituição e,
exaltados, gritavam com
os funcionários na
tentativa de localizar os
filhos da acusada.
Enquanto um policial
militar e uma mulher que
trabalham no Lar
tentavam conter os
ânimos do casal, os
acusados gesticulavam
bastante e diziam que os
funcionários haviam
invadido a casa de
H.P.G. e pegado as
crianças à força. Durante
o episódio, os dois ainda
fizeram ameaças dizendo
que iriam pegar o veículo
em que estavam, entrar
no local e “matar todo
mundo”, diz trecho do
Boletim de Ocorrência. A
confusão só foi
controlada após a
chegada de uma viatura
da PM, que deteve os
acusados e os conduziu à
Central Metropolitana
para as medidas legais.
Ela foi levada para o
presídio feminino Ana
Maria do Couto e ele
para o antigo Carumbé.
Ambos já foram
liberados.
A reportagem apurou
no Conselho Tutelar da
Capital que esta foi a
terceira vez que as filhas
de H.P.G. foram
internadas na instituição
por determinação da 1ª
Vara da Infância e da
Juventude por conta de
abandono de menores,
denunciado por vizinhos
no bairro Renascer. Em
outra ocasião, as crianças
teriam inclusive fugido do
Lar sob a orientação da
própria mãe após terem
sido deixadas na escola
pelos cuidadores.
OUTRO LADO
A reportagem entrou em
contato com a assessoria de
imprensa da Setas para
esclarecer os fatos. A
assessora se comprometeu a
verificar as informações, mas
até o fechamento desta
edição não havia retornado
as ligações.
Uma cópia do Boletim de Ocorrência
foi deixada num entulho atrás de uma
igreja para que o Circuito Mato
Grosso pudesse confirmar a invasão
do casal ao Lar da Criança. Tudo por
medo de represálias.
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