EDIÇÃO IMPRESSA - 463 - page 4

CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 24 A 30 DE OUTUBRO DE 2013
CIDADES
P
G
4
EDUCAÇÃO
Sintep não se rendeu a pressões
Greve foi a mais longa da história do movimento sindical em Mato Grosso, liderada pelo professor Henrique Lopes.
Por Camila Ribeiro. Fotos: Mary Juruna
De cabeça erguida e
com a certeza de ter
conduzido um processo com
total isenção. É desta forma
que o presidente do
Sindicato dos Trabalhadores
da Educação de Mato
Grosso (Sintep-MT),
Henrique Lopes diz ter saído
da greve que mobilizou
mais de 90% da categoria e
que foi a maior registrada
nos últimos 20 anos. O
saldo da paralisação de 66
dias foi a garantia da
política de dobrar o poder
De líder de
classe à
liderança na
educação
estadual
O homem que “bateu
de frente” com o
Governador Silval Barbosa e
conduziu o maior movimento
grevista da educação dos
últimos anos tem suas raízes
nos movimentos sociais.
Henrique Lopes conta que é
de família humilde e que se
espelhou em seu pai, que
era um líder religioso.
“Quando era mais novo
coordenava grupos
religiosos na igreja, sempre
fui líder de classe, fui do
diretoria acadêmico da
Unemat e quando ingressei
na educação, ainda na
década de 90, passei a
participar das atividades
sindicais”, relata Lopes.
O sindicalista, que é de
Alta Floresta (774 km de
Cuiabá), lembra ainda que
em 1994 assumiu a direção
da sub sede do Sintep em
seu município, passando
para a direção regional até
ocupar por seis anos o cargo
de Secretario de Políticas
Educacionais do sindicato.
Ele afiança que a eleição
que o elegeu presidente do
Sintep-MT é fruto de sua
trajetória em movimentos
sociais e sua história e
compromisso com atividades
da base sindical.
Com origem em uma
cidade relativamente distante
da Capital mato-grossense,
Lopes assegura que “não é
a região que determina a
escolha da presidência” e
lembra ainda os últimos
cinco presidentes do Sintep
estadual eram de cidades do
interior do Estado.
Liderança não é unanimidade
Parte dos membros da
rede estadual de ensino
fica com um ‘pé atrás’ em
relação presidência de
Henrique Lopes no Sintep.
A justificativa é que, como
filiado do PT, mesma sigla
a qual pertence a
secretária de Estado de
Educação, Rosa Neide, o
sindicalista poderia preterir
os interesses do partido da
base do Governo do
Estado, em detrimento das
pautas de interesse da
categoria.
“É uma questão que
gera desconfiança pra
gente. Ele é do mesmo
partido do antigo
secretário (Ságuas
Moraes), da atual titular da
pasta, partido que compõe
a base do Governo Silval,
então acredito que este
seja um motivo para que
fiquemos em alerta”, alega
“Os debates começam no
chão das escolas e isso é
que deve ser respeitado”
Por ser filiado ao
Partido dos
Trabalhadores (PT),
muitas vezes a
presidência de Henrique
Lopes é “colocada em
xeque”, por aqueles que
não o “veem com bons
olhos”. Ele, no entanto,
se defende e alega que
apesar de sua filiação à
sigla, ele não é
partidário. O sindicalista
pontua ainda, que
“cada coisa ocupa o seu
devido lugar. Aquilo que
se refere ao PT é
discutido lá no partido,
o Sintep tem o trabalho
de cuidar da educação
e é isso que venho
fazendo”, alega.
Lopes ainda
assegura que “vê com
tranquilidade os
questionamentos quanto
à sua presidência, já
que aqueles que
criticam também são
filiados a determinados
partidos”. Por fim, o
sindicalista alega que
“a atuação no Sindicato
é estabelecida com
base em um estatuto ao
qual sou fiel.
Independente de
qualquer questão
partidária, os debates
começam no chão das
escolas e isso é que
deve ser respeitado”.
a professora da Escola
Historiador Rubens de
Mendonça, Patrícia Acs.
No entendimento de
Patrícia, ao longo da
greve, por exemplo, a
categoria poderia ter
tomado medidas mais
energéticas no sentido de
tentar uma negociação
com o Governo, o que
segundo ela, pode não ter
ocorrido por conta dessa
“ligação” do presidente
com o partido.
O técnico
administrativo, Jelder
Pompeo, também acredita
na possibilidade de que o
presidente possa estar
“blindando” membros do
PT. O profissional, no
entanto, é menos incisivo e
diz que as dúvidas que
pairam no ar não são
exclusivamente sobre a
conduta do presidente,
mas sim em relação a toda
direção do Sintep—MT.
“Não é dizer que sou a
favor ou contra o
Henrique. Não é uma
questão individual, trata-se
de uma dúvida em relação
a toda direção, já que
como é sabido por todos,
muitos membros são
filiados ao PT”, alega.
Há 23 anos atuando
na rede estadual de
ensino, a professora Lucia
Gonçalves é da mesma
opinião. “Acredito que ele
está conduzindo o
sindicato de maneira
positiva e a adesão a
greve, que buscou
melhorias aos professores,
foi a maior prova disso.
Acredito que ele tem a
confiança da maior parte
da categoria e esta no
caminho certo com as
mobilizações”.
de compra dos profissionais
em um prazo de 10 anos, o
compromisso do Governo
do Estado em retomar o
pagamento da hora
atividade para os servidores
contratados – suspenso no
final da década de 80 – e
por fim, a contratação, a
partir do próximo ano,
daqueles aprovados no
último concurso público
realizado pelo Estado.
O sindicalista credita
essas conquistas ao fato de
a categoria ter entrado no
movimento com uma
postura mais madura e
tranquila que antigamente.
Ainda segundo ele, outro
fator primordial para a
adesão maciça ao
movimento, foi que os
grevistas estavam atentos a
seus direitos. “Tivemos o
movimento mais longo da
história e com conquistas
positivas, porque a
categoria não se rendeu a
pressão do Governo que fez
ameaças de todos os lados,
com multas, ameaças de
corte de ponto e até
exoneração de grevistas.
Hoje em dia os
trabalhadores têm mais
consciência de seus direitos
e não deixaram ser
coagidos pelo Governo”,
alega Lopes.
O presidente ressalta
ainda, que o fato de o
Estado vir se negando a
negociar com trabalhadores
grevistas, tal qual ocorreu
com outras categorias,
acirrou o ânimo dos
profissionais da Educação.
“A categoria se manteve
firme e mostrou que a
educação merece respeito.
Entramos no movimento sem
nada e alcançamos
conquistas inéditas no país”,
argumentou o sindicalista
referindo-se a garantia da
dobra do poder de
aquisição dos
trabalhadores.
Para Lopes, a tentativa
do Governo em se
vangloriar ao insinuar que
a greve era desnecessária,
já que Mato Grosso tem
hoje o terceiro melhor piso
salarial da categoria no
país foi o ‘fim da picada’.
“Ele foi muito infeliz ao
tentar nivelar as questões
desta forma. Um piso
salarial que está pouco
mais de R$ 1 acima da
média nacional. Isso lá é
comparação que se faça”,
questionou o presidente. Ele
observou ainda, que
enquanto Mato Grosso
cresce bem acima da
média nacional, a
educação não é valorizada
no mesmo nível.
Em que pese as
conquistas alcançadas pelos
profissionais ao final deste
movimento grevista, o
presidente do Sintep
lamentou a falta de estrutura
em muitas escolas de Mato
Grosso. “A precariedade
encontrada nas instituições
não é responsabilidade
apenas deste governo. É
fruto de um processo
histórico, onde aqueles que
passam pelo Palácio
Paiaguás ficam
comprometidos com o
agronegócio e outros
setores, em detrimento da
Educação do Estado”,
afirmou.
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Pa r a l i s ação de 66 d i a s t e v e como s a l do conqu i s t a s
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“Ele é do PT e esse é um motivo
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p r o f e s s o r a Pa t r í c i a Ac s
“Decisões são tomadas em assembleia
geral da categoria, não há motivo para
descrença”, pontua Lúcia Gonçalves
P r e s i den t e d i z cump r i r à r i s ca aqu i l o que é
p r egado pe l o e s t a t u t o que r ege o S i nd i ca t o
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