CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 4 A 10 DE JULHO DE 2013
POLÍTICA
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EDUCAÇÃO
O governador Silval Barbosa não se manifestou e nem tomou medidas recomendadas pelo relatório.
Por: Rita Anibal. Fotos: Sintep e Reprodução.
Governo ignora dossiê do Sintep
Passados exatos 45
dias da entrega do
“Dossiê das Escolas
Públicas do Mato Grosso”
pelo Sindicato dos
Trabalhadores no Ensino
Público de Mato Grosso
(Sintep-MT), não houve
nenhuma manifestação do
governador Silval Barbosa
(PMDB) e muito menos de
Ságuas Moraes (PT),
secretário estadual de
Educação. O relatório traz
amostragens, inclusive
fotográficas, da situação
calamitosa em que se
encontram principalmente
as escolas do interior. Esse
descaso foi exteriorizado
pelo secretário nacional
Atenção à Saúde,
Helvécio Miranda
Magalhães Júnior que,
quando de sua visita a
“Não dá gosto vir pra
escola. Assistir aulas nessas
salas que são muito
quentes é ruim demais.
Aqui não tem nada legal
pra se fazer”, assim está o
sentimento do aluno
Hemerson Aparecido
Barboza, do 1º ano do
ensino médio da EE São
Vicente de Paula, em Sinop
(420 km da capital). Ele é
a tradução exata da baixa
estima e da falta de ânimo
para estudar.
Alunos criam “rap” para
protestar contra descaso
O Grêmio Estudantil da EE Prof. João Batista, em
Tangará da Serra (240 km de Cuiabá), se reuniu em
protesto na praça central da cidade pedindo melhorias
para a escola. A paródia feita pelos próprios alunos
traduz o sentimento de quem quer uma escola equipada,
saudável e acolhedora:
“REFORMA URGENTE! ”
“R
Logo hoje, quando eu saí de casa
Pra ir pra minha escola, eu ‘tava’ revoltada
Quando olhei pra ela, ‘tava’ toda arrebentada
Toda destruída, massacrada, acabada
Com 29 anos, isso é um absurdo, gente
Não viu uma reforma, não tem sala decente
É a minha escola e eu não vou me conformar
Sabe que eu fico louco se ela desabar
Vamos esperar o governo aparecer com esse dinheiro
Aí eu vou querer ficar na escola o dia inteiro
E dessas oficinas vou participar
Não teve jeito, eu tive que reunir os parceiros
É claro que um protesto vai rolar, não tinha jeito
E aqui na praça a gente veio protestar!
Ah! Eu quero escola reformada!
Vixi! Essa aqui tá acabada!
Nossa! Até o professor tá reclamando
Você não tem ideia do que a gente tá passando!
Ah, meu Deus do Céu! A quadra tá quebrada
Vixi! Esse quadro virou cascata!
Nossa! Assim o teto acaba desabando!
Você não tem ideia do calor que ‘tô’ passando!
Escola ‘caída’, aluno desmotivado
“Não só eu, como
todos os meus colegas e
creio que também todos os
funcionários, esperamos
que haja uma melhora na
estrutura da escola e
termos um lugar mais
digno para o convívio
escolar”, esse é o pedido
da aluna Luana Dias, 2º
ano do ensino médio da
mesma escola. Esse
sentimento negativista
permeia o âmbito escolar,
seja entre alunos ou
profissionais da educação.
Jocilene Santos afirma:
“O descaso da Seduc em
relação à infraestrutura
causa impacto direto no
projeto político-
pedagógico das escolas,
trazendo resultados
educacionais pífios”. Ela
alerta: “Escolas sem
nenhum atrativo, sujas,
‘caindo aos pedaços’, são
desestimulantes para os
jovens”.
Essa premissa é
endossada pela doutora
Gleyva Maria de Oliveira,
do Instituto de Educação
da Universidade Federal
do Mato Grosso (UFMT),
quando diz que um
ambiente ideal de ensino,
com equipamentos
conservados, passa a
mensagem de qualidade
educacional.
Não é o que se
encontra nas escolas do
interior do Mato Grosso,
com escolas absolutamente
minadas, provocando
desânimo nas crianças e
jovens, segundo o Sintep.
Os alunos que têm fácil
acesso à rede de
computadores vislumbram
escolas bem cuidadas,
equipadas e profissionais
com aparato para exercer
a profissão com
dignidade. Dentre queixas
da infraestrutura do
relatório, existem aquelas
que influenciam
diretamente no processo
de ensino-aprendizagem:
falta de ferramentas
pedagógicas e recursos
humanos na área de
docência. Professores são
quase unânimes ao relatar
as condições degradantes
que enfrentam para dar
aulas. Escola ‘caída’,
aluno desmotivadoOs
professores sabem que é
preciso formar esse jovem
social, emocional e
culturalmente, além de
estimulá-lo a ser um
“guardião” de espaço
escolar. O cuidar e
aprender faz parte do
projeto pedagógico.
Cuiabá, disse que o
governador Silval Barbosa
deve entender que tem
que olhar para o interior.
O dossiê também foi
entregue para o Ministério
Público Estadual (MPE),
Tribunal de Contas (TCE),
Assembleia Legislativa e
Conselho Estadual de
Educação. Apenas esses
dois últimos confirmaram
recebimento.
Ságuas Moraes já foi
questionado inúmeras
vezes sobre a infraestrutura
escolar, mas sempre
defendeu que apenas 10%
das escolas ainda estão
para serem reformadas.
Essa declaração não
condiz com a realidade
do dossiê.
“A maior parte das
reformas ou novas escolas
é entregue sem vistoria e
vários problemas são
detectados assim que
começa o
funcionamento”, denuncia
Jocilene Barbosa dos
Santos, secretária geral do
Sintep. Jocilene vai mais
além: “A Secretaria
Estadual de Educação não
tem equipe de fiscalização
para as obras
contratadas. É recurso
público desperdiçado e
não fiscalizado”.
Essa afirmação é
confirmada na Escola
Estadual Coronel Ondino
Rodrigues de Lima, em
Ribeirão Cascalheira (960
km de Cuiabá), região
Leste do Estado. Embora
tenha passado por
reforma geral em 2006,
foi entregue com grandes
falhas estruturais e, em
2011, parte do telhado
desabou. Hoje, os mais
de 1.000 alunos convivem
em meio a madeiras,
ferragens, telhas e outros
entulhos, colocando em
risco todos os que
frequentam a escola.
Situação semelhante
vive a Escola Estadual
Antonio Paes de Barros,
onde a estrutura física está
toda comprometida. A
escola fica em Barão do
Melgaço (100 km da
capital), cidade que atrai
muitos turistas,
principalmente ligados à
pesca. E o que se vê são
salas de aula em estado
deplorável, sem forro,
instalações elétricas
expostas, piso todo
quebrado. Mesmo já
tendo recebido a visita de
Ságuas Moraes e ele ter
prometido a reforma, até
o momento não houve
interferência alguma por
parte da Seduc.
Em Rondolândia
(1.100 km de Cuiabá), no
extremo Oeste do Estado,
portões quebrados e
cercas com grandes
rombos colocam a
segurança da escola em
constante risco. Qualquer
um pode entrar e sair.
Rachaduras nos pisos e
paredes, estruturas
metálicas enferrujadas e
banheiros sem portas são
alguns dos problemas que
compõem o cenário de
precariedade. Os
professores denunciam
que há oito anos não há
especialistas em áreas de
exatas e biológicas, e
leigos têm assumido as
matérias.
Ainda na região
Oeste, outro descaso com
a educação no distrito de
Nova Cáceres: os alunos
estudam em barracos sem
paredes e escorados.
“São condições
subumanas e
degradantes”, diz o
dossiê. Com promessas de
construção de escola por
parte da Seduc, cuja obra
deveria terminar em
setembro de 2010, estas
estão abandonadas há
quatro anos.
Inúmeras escolas
gritam por socorro em
estruturas para que
possam instalar
equipamentos
pedagógicos que atuem
diretamente no rendimento
dos alunos. Mato Grosso
não conseguiu atingir a
meta mínima estimada no
Índice de Desenvolvimento
da Educação Básica
(Ideb) para alunos do
ensino médio. O resultado
divulgado pelo Ministério
da Educação (MEC)
mostrou que a situação
ainda está crítica e tende
a piorar caso não haja
ações concretas para aliar
espaços físicos e
pedagógicos de
qualidade.
Re f o rmada em 2006 , a e s co l a de R i be i r ão
Ca s ca l he i r a j á t em o t e l hado de s abado
Ságua s Mo r ae s ( P T ) , s e c r e t á r i o de Edu c a ç ão ,
con t i nua i n s en s í v e l ao s ape l o s da c l a s s e
P r o f ª J oc i l ene , s e c r e t á r i a do S i n t ep , na l u t a á r dua
po r me l ho r i a s da edu c a ç ão ma t o - g r o s s en s e
O i n t e r i o r é e s quec i do po r
S i l v a l a t é na edu c a ç ão
Alunos são desestimulados a irem pra escola e
encontrar um refeitório sem mínimas condições de uso
Banhe i r o s como e s t e s ão mu i t o comun s no i n t e r i o r
do e s t ado pe l o de s ca s o do s ge s t o r e s púb l i co s