CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 13 A 19 DE JUNHO DE 2013
CULTURA EM CIRCUITO
PG 4
JANELAS ABERTAS
CALDO CULTURAL
Por João Manteufel Jr
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João Carlos Manteufel,
mais conhecido como João
Gordo, é um dos publicitários
mais premiados de Cuiabá
CHAMA IRMÃ ZULEIDE!
ABCDEF....GLS
Por Menotti Griggi
M n i G i
G
Menotti Griggi é
geminiano, produtor
cultural e militante incansável da
comunidade LGBTT
Em tempos de tantas crises e lutas, a
comunidade LGBT se depara com impasses,
como agora com este absurdo impetrado
pelo Partido Social Cristão (PSC), no qual
temos o ministro Gilmar Mendes como relator
no Supremo Tribunal Federal (STF) da Ação
Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4966,
ajuizada pelo referido partido. Nessa ação, o
PSC questiona a resolução do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ) que obriga
cartórios de todo o País a habilitar, celebrar
casamento civil ou converter união estável de
pessoas do mesmo sexo em casamento.
Na ADI, o PSC argumenta que, ao editar
a Resolução 175, de 14 de maio de 2013, o
CNJ invadiu competência constitucional do
Poder Legislativo, de discutir e votar a matéria.
“A inovação do CNJ no ordenamento
jurídico, ao tratar de uma matéria estranha a
sua competência, o que fatalmente extrapola
os limites encartados na Constituição da
República, indica ofensa ao postulado
nuclear da separação dos poderes e de
violação ao princípio da reserva constitucional
de competência legislativa”, argumenta o
PSC.
Conforme informa o STF, para o partido
não há qualquer fundamento jurídico capaz
de reconhecer como possível que o CNJ
possa, mediante a expedição de atos
regulamentares, na especificidade das
resoluções, substituir-se à vontade geral do
Poder Legislativo. O PSC afirma que no
julgamento da Arguição de Descumprimento
de Preceito Fundamental (ADPF) 132, o
Supremo apenas reconheceu a união estável
entre pessoas do mesmo sexo, não se
pronunciando sobre o casamento civil, e que
por isso o CNJ estaria inovando e dilatando o
objeto da ADPF. É uma pena que por mais
que tenhamos de caminhar tanto, ainda há
pessoas, partidos, religiões que tentam
absurdamente nos tirar os passos de
liberdade pelos quais tanto lutamos no dia a
dia. Acho que tudo é levado ao extremismo.
Tudo é levado de forma que os direitos
humanos são violados constantemente. Não
há como conseguir caminhar sem lutas. Foi
assim a vida toda e não irá mudar agora!
Vou pedir para Irmã Zuleide, nossa
mentora, para que ore por estas pessoas no
Culto das Poderosas que vem fazer este fim
de semana na Zumzum.
Só assim para desopilar o fígado e a
alma!
A janela da casa da minha avó está
sempre aberta. Faça chuva, faça sol, este
cantinho ainda não comercial da Rua 24 de
Outubro está sempre acessível. A casa foi
construída pelo Seu Gabriel Brasil, que
vendera para meu avô Almerindo há mais
ou menos 70 anos. Naquela época, 1940,
por aí, era normal os fazendeiros terem
casas na capital para seus filhos estudarem.
No caso de meus avós, era uma
necessidade. A união de Almerindo e Maria
José rendeu 11 filhos legítimos, um adotado
e outras dezenas muito bem criadas, que
tiveram na 24 um lugar para repouso, um
lugar para matar a fome, um lugar para
sarar as feridas. Quando minha avó abriu a
casa, a rua ainda era pacata, longe do
centro e do Porto, lugar mais movimentado
da cidade. Mudaram para essa simples
porém ampla de quatro quartos, 10 crianças
e adolescentes. Minha tia mais velha é que
comandava a turma. Ainda vieram mais dois
nascidos ali na 24, os únicos cuiabanos de
tchapa da turma. Era normal as famílias
serem enormes. A do vizinho de frente, de
dona Maria Gonçalves, também tinha 12
filhos. Naturalmente a rua começou a ter
vida própria. E a casa da minha avó
também. Na 24, Liu Arruda viu pela primeira
vez televisão. Na 24, lideranças como Júlio
Campos e Roberto França debateram suas
primeiras ideologias. Na 24, Pedro Taques
passou a sua infância e juventude. Todos
pendurados nas janelas abertas da casa da
minha avó. Cuiabá passa por uma
explosão demográfica e cultural. A
população mais que dobrou nas últimas
décadas. Hoje, essa rua, praticamente um
cartão-postal com suas construções de
época, vive o ápice da especulação
imobiliária, virando um novo e alternativo
centro comercial da cidade. Antigas casas
viram comércio dos mais variados, de joias
a arte. Viram edifício. Ou, como a quase
bicentenária casa de Dutra Fumo Bom,
viram estacionamento. Diferentemente da
Europa, nós das Américas, achando que o
novo é sempre melhor, não damos chance
para as gerações futuras poderem ter uma
opinião sobre ou poder decidir. Talvez pela
herança genética, a casa da minha avó é o
último guerreiro xavante resistente da rua. É
o último cururueiro da festa de São Benedito,
na última música da procissão.
O sistema capitalista espreme o
passado num corredor sem saída. A falta de
cumprimento das leis faz das fachadas um
reflexo do que podemos esperar do futuro.
Gerações destroem o que as outras fizeram,
sem o mínimo pudor, por um punhado de
reais. Mas, felizmente, as janelas da casa da
minha avó vão ficar abertas. Não existe uma
pessoa, seja rica, pobre ou morador de rua,
que não conheça e respeite Maria José
Ferreira Barros. Simples, honesta, e acima de
tudo lúcida, Dona Lola ainda varre calçada,
faz comida, e principalmente abre a janela
da sua casa no auge dos seus 87 anos. E
vai abrir por muito mais tempo.
Pode espiar que a cultura cuiabana agradece.
* Vejo ventos leves de mudanças na
caravela da valorização cultural. Parece que
Mato Grosso se descobre em meio de uma
revolução financeira. A Cavalhada ocorreu
no último final de semana e nunca havia
visto tanta gente ‘cult’ postando fotos e
comentários do centenário evento que a
todos maravilha na borda de nosso rico e
persistente Pantanal. Tudo bem, a Copa está
aí, e está todo mundo tentando tirar uma
casquinha. Nada contra o sertanejo. Mas já
é uma boa notícia querer tirar casquinha de
algo tão representativo da cultura de nosso
estado, como é a Cavalhada.
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