CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 4 A 10 DE ABRIL DE 2013
CAPA
P
G
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Governo coloca educação nas mãos do PT e cala sindicatos que antes exigiam ensino de qualidade.
Por Débora Siqueira. Fotos: Pedro Alves
EDUCAÇÃO
Ensino às traças e desempenho pífio
Ser um aluno da
Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT)
parece um sonho distante
demais para os alunos do
ensino médio da Escola
Estadual Maria Macedo,
no bairro Mapim, em
Várzea Grande. Não é por
falta de vontade, nem pela
capacidade profissional
dos educadores, mas
devido à falta de
condições de concorrer em
igualdade pela falta de
estrutura física imposta pelo
poder público. Em todo o
Estado, alunos estudam em
escolas sem ar-
Os 830 alunos da
Escola Estadual Maria
Macedo, em Várzea
Grande – a segunda
maior cidade do Estado,
separada apenas por uma
ponte de Cuiabá – se
revezam em estudar sob a
sombra das árvores,
algumas turmas ficam sem
aula, outras estudam em
uma área e outros se
juntam mesmo sendo de
séries diferentes. Este foi o
jeito encontrado pela
direção para não
prejudicar ainda mais os
estudantes.
Apesar de estar em
uma área grande,
suficiente para receber
investimentos em mais
salas de aula, laboratórios
e quadra coberta, o local
não recebeu nenhuma
atenção da Secretaria
Estadual de Educação
(Seduc) desde que a
unidade foi construída. O
local foi construído na
década de 80 como uma
creche para atender
crianças do bairro.
Em junho de 1990, o
local deixou de ser creche
e passou a ser Escola
Estadual. Apenas no
passado, a Seduc
escriturou a área, que em
Quando a
reportagem esteve
na Escola Estadual
Maria Macedo, os
estudantes do 3º ano
do ensino médio
estavam na vez de
ficar sem aulas,
sentados no chão ou
em bancos no pátio
da escola. Eles
respeitaram o direito
de quem tinha aula
na área e
permaneciam
conversando em voz
baixa. Ir para a
escola sem saber se
vai ter aula, se vai
ficar junto com outra
turma ou ao ar livre
tem desanimado as
estudantes Ana Keila
Germano, 18,
Maiara Santos, 18 e
Odaisa Alves da
Rocha, 16. “Isso vai
prejudicar o nosso
desempenho no
Enem (Exame
Nacional do Ensino
Médio). A gente vive
a expectativa: será
que hoje vai chover?
Será que vai ter
aula?”, comenta Ana
Keila e Odaisa. Para
Maiara, ruim
também é juntar as
turmas do 1º ano e
3º ano para aula em
conjunto. “O
professor passa o
conteúdo para uma
turma, faz uma
pausa e depois
passa para a outra
turma. Como a
gente vai se
interessar pela aula,
apesar de ser de
boa qualidade? A
condição física não
ajuda”.
Alunos estudam na
área ou sob árvores
todo esse tempo não foi
contemplada com reforma
e ampliação.
Em fevereiro deste
ano, um temporal colocou
a estrutura da escola à
prova e um bloco inteiro
foi interditado, deixando
quatro salas de aula sem
funcionar.
O telhado cedeu e
antes que desabasse na
cabeça de algum
estudante ou professor, a
direção da escola pediu
um recurso emergencial à
Seduc de R$16 mil para
reformar o local. Para não
ficar esperando a
burocracia da máquina
estatal, o diretor da
unidade decidiu comprar
os materiais de construção
fiado e espera o recurso
cair na conta da escola
para pagar os
fornecedores.
“Tivemos que fazer
alguma coisa para agilizar
a obra da reforma do
telhado, para que os
estudantes possam voltar
para a sala de aula. A
forma mais rápida foi
comprar fiado, mas e se
não fizesse isso?”,
questiona uma das
coordenadoras da escola,
Vera Luiza da Silva Costa.
O desânimo
dos alunos é
evidente
“A sala de aula fica muito quente, principalmente à tarde. Como a gente vai estudar
desse jeito?”, questiona a aluna do 3º ano Daniele Dias, 18 anos. Para a estudante do
2º ano Renata Echeverry, 16 anos, tem casos de colegas que chegam a passar mal devido
à alta temperatura dentro da escola. “Não dá nem para prestar atenção direito nos
professores, a gente fica suando naquele calor”, comentou a aluna durante protesto.
Por meio de nota, a
Seduc informou que a
Escola Estadual Maria
Macedo já recebeu
reparos como troca de
telhas. Para a instalação
de forro e efetivação da
parte elétrica das salas
será encaminhada verba
emergencial, no valor de
R$14,5 mil. Em relação à
climatização da Escola
Estadual Presidente
Médici, foi informado que
o processo de instalação
de postos de
transformação de energia
elétrica necessários para
climatização das salas de
aulas já está em
andamento.
Além da instalação
dos postos de
transformação, a
concessionária de energia,
Cemat, realiza a ligação
com a rede verificando o
potencial de energia de
cada região. Existem
locais que devido à
demanda é necessário a
Seduc diz que vai reformar escola
instalação de um novo
poste. O que implica em
procedimento mais
complexo e dá à
concessionária um prazo
de até 210 dias para
completar o serviço.
Moraes diz que o
Estado tem garantido
qualidade estrutural das
escolas. Das 739
unidades, apenas 80
ainda não passaram por
reformas ou ampliações.
Todas possuem internet
banda larga, inclusive as
Escolas Indígenas e do
Campo, e 80% possuem
quadras cobertas, além de
bibliotecas com
profissional para
atendimento. O projeto de
climatização iniciado neste
governo realizará,
somente em 2013, a
instalação de
condicionadores de ar em
300 unidades escolares.
condicionado – num calor
absurdo – em que pese a
Secretaria de Estado de
Educação (Seduc) ter
adquirido 2 mil
equipamentos que não
foram instalados por
precariedade da rede
elétrica das unidades.
São fatores que
colocam o Estado com
desempenho pífio no Enem.
Em 2011, das 20 escolas
que obtiveram as melhores
médias, 18 são particulares
e duas são federais.
Enquanto isso, milhões são
distribuídos em incentivos
fiscais para empresas que
apresentam número irrisório
de empregos gerados e a
Assembleia Legislativa
consome R$300 milhões
por ano dos cofres
públicos.
O senador Pedro
Taques (PDT) e o secretário
estadual de Educação,
Ságuas Moraes (PT), vivem
um embate sobre o
assunto. Taques criticou, no
Senado Federal, a
qualidade do ensino
público de Mato Grosso.
Segundo o senador, os
elevados índices de
analfabetismo, evasão
escolar e a baixa
qualidade do ensino, que
acabam tendo reflexos
desanimadores no Enem,
são resultado da falta de
planejamento e má gestão
dos recursos públicos.
“Senhor governador
Silval Barbosa: não é
possível ingressar num ciclo
de desenvolvimento social e
econômico sustentável
quando se possui os piores
resultados nos indicadores
de educação do país. Os
erros da gestão estão
deixando rastros cada vez
mais difíceis de serem
escondidos e marcas
profundas de desrespeito
em uma geração inteira de
mato-grossenses”, afirmou
Pedro Taques, na tribuna
do Senado.
O custo médio anual
de um aluno da rede
estadual em 2011 foi de R$
2.632,00. Para o mesmo
período, o custo médio de
um reeducando foi de R$
9.652,20. “Não é possível
falar de futuro quando se
investe o quádruplo de
recursos em um reeducando
do sistema penitenciário
daquilo que se investe em
um aluno da rede estadual
de ensino. Estamos
acolhendo mais detentos
nas prisões do que alunos
nas escolas”, contestou.
Conforme relatou o
senador, os resultados
“vergonhosos” são piores
quando o ensino médio é
avaliado.
O abandono no
ensino médio é 11,5 vezes
maior que no ensino
fundamental. Em 2008, por
exemplo, a taxa de
reprovação no ensino
médio era de 5,3% e
explodiu para 18,2%. A
taxa de abandono, por sua
vez, aumentou em mais de
4,3%, com pico de quase
50% em 2009.
A l unos de e s co l a e s t adua l de Vá r z ea Gr ande e s t udam na á r ea ou deba i xo da á r vo r e
Senado r Ped r o Taque s c r i t i ca Educação em MT
Ba i xo de s empenho e f a l t a de e s t r u t u r a nas e s co l as
Sec r e t á r i o pe t i s t a Ságua s Mo r ae s r eba t e c r í t i ca s