CuIABÁ, 30 DE NoVEMBro A 6 DE DEZEMBro DE 2017
Por Luiz Marchetti
Luiz Marchetti
é cineasta
cuiabano, mestre em
design em arte midia,
atuante na cultura de
Mato Grosso e é careca.
os 38 anos, Adriano Figueiredo
Fer re i ra prepara uma nova
mostra de sua carreira. Sua
mais recente série traz um
pouco das cores anteriores e
nada mais semelhante ao que já
acompanhamos deste cuiabano. O neto de
Hortêncio Figueiredo viu o avô cortando
madeira, fazendo viola de cocho e tocando
música, assim vem de sua ancestralidade a
disciplina artística do lapidar do agora para
arte como um depois. A crença no adiante.
O ateliê em Várzea Grande é frequentado
por galeristas e colecionadores de todas as
A
AFTER
partes do mundo. A visita agendada ali é
muito prazerosa, ele fala, trabalha e olha
para o que vai negociando com a espátula,
como uma dança bastante serena. O ‘before’
foi quando estudou artes gráficas, web
máster e trabalhou em busca dessas técnicas.
O ‘agora’, além de produzir diariamente, é o
acompanhar de suas referências, nas obras
de Picasso, Gaudí, Escher, Kandinsky e
Miró, entre outros. Enquanto separa as
peças que irão para a Galeria da Casa do
Parque, Adriano comenta a relevância do
artista português Almada Negreiros como
uma forte influência. No Brasil menciona
Terezinha Soares, Portinari e Tarsila,
principalmente pela cartela de cores com
que se identifica. Em Mato Grosso agradece
a João Sebastião como um mentor com
quem conversava muito e elogia Humberto
Espíndola, Irigaray e Adir Sodré.
Ao tentar responder sobre do que trata
a exposição AFTER, entra num ritmo
diferente. Diminui a velocidade. Respira
e olha para os retratos em espátula como
se ainda estivesse pintando. O After não
chegou ainda. Está tão orgânico, fresco e
nascendo que se torna uma interrogação
profunda. Explica que não consegue
Abre na quinta 7 de dezembro, às 19h, na
Casa
do Parque
, a exposição AFTER do artista plástico
Adriano Figueiredo Ferreira. Você está convidado!
premeditar, que é um feitio bastante
emocional e que não é algo que domine.
A primeira característica desta fase foi a
diferença das encomendas, não consegue
fazer em momentos agendados, é um
trabalho descontínuo: “
ele some durante
algum tempo e aparece sem eu ter muito
controle, é de repente... talvez seja o
resultado de um outro lado meu que eu não
conhecia, mas o processo criativo dele me
faz bem, é um trabalho que ainda estou
procurando um modo de lidar com ele,
de criar nova convivência, de criar uma
relação
”.
AFTER
Sabe as imagens que se formam ao olhar as nuvens? Fico
me perguntando: são elas – as nuvens – que brincam
conosco ou somos nós que brincamos com elas? O artista
olha para o céu e vê tanta coisa voando: o trem no branco
absoluto, a boneca no cinza-claro, uma mão ameaçadora
que prenuncia chuva. Essa mágica de criar o que se vê
está na obra de Adriano Figueiredo, mais especialmente
na série AFTER. Como sabemos, after é depois. Do quê?
De ver, provavelmente. De sentir, certamente. O artista,
tomado pela catarse, encontra a placidez e o sofrimento do
que queremos também enxergar. Será Cristo? Ansiamos
que seja Ele na borra de café, no interior de um cristal ou
mesmo numa mancha de óleo. Essa figura barbada, de olhos
meigos, excruciada pela coroa de espinhos, pode ser o que
de mais profundo Adriano Figueiredo encontra na hipnose
artística. Não é incomum. A trajetória dos grandes pintores,
por mais voltas que possam dar ao largo da temática, acaba se
rendendo à interpretação de uma cena cristã: o beijo de Judas,
o açoite em Jesus, a dor de Maria. Essas imagens compõem
um arsenal próprio do mundo ocidental que é revisitado pela
técnica dos artistas que pretendem, cada qual a seu modo,
sublimar o aspecto meramente histórico acrescentando ao
ícone um pouco de si mesmos. AFTER é uma sucessão de
movimentos espatulares que evocam Jesus? Ou será Ele a se
impor por entre a textura oscilante, em cores incertas? Quem
comanda quem? Não tenho certeza de que Adriano Ferreira
quis deliberadamente encontrar o que achou nas nuvens de
sua imaginação. Tampouco tenho ciência quais colírios são
usados por ele a fim de conseguir o olhar coletivo admirado.
Em AFTER, tenho uma única certeza: o artista obteve um
resultado significativo que me emociona e que vai emocionar
a todos vocês. Aproveitem!
Eduardo Mahon
é escritor, membro da Academia Mato-
grossense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico
de Mato Grosso.
O artista agradece a Flávia Salem, Dino Gueno, Dugil Pet
Center, Eduardo Mahon, Casa das Molduras, João Manteufel
e sua família. Confira ‘After’ na Casa do Parque com entrada
franca. INFO: (65) 3365 4789 e 98116 8083
LUIZ MARCHETTI
LUIZ MARCHETTI