CULTURA EM CIRCUITO PG 7
CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 30 DE NOVEMBRO A 6 DEZEMBRO 2017
Iracema Irigaray N. Borges
, mãe
de 3 anjos, ama comer tudo com
banana, coach pelo ICI- SP, sonha
em dar cursos na África, Índia,
EUA, onde o destino a levar.
VIDA INTERIOR
por Iracema Borges
esta semana participei de uma
reunião e uma das responsáveis
iniciou contando uma história
sobre o Amyr Klink. Já ancora-
do na Antártida, ele ouviu ruí-
dos que pareciam de fritura. Pensou: será que
até aqui existem chineses fritando pastéis?
Eram cristais de água doce congelada que fa-
ziam aquele som quando entravam em contato
com a água salgada. O efeito visual era belís-
simo. Pensou em fotografar, mas falou pra si
mesmo – Calma, você terá muito tempo para
isso… Nos 637 dias que seguiram o fenômeno
não se repetiu. Assim que ouvi essa mensagem
me lembrei do retiro quando o Marco Shultz
falou: “Viva, pare de tentar viver, pare de ten-
tar meditar, meditação é um estado e desse
estado vem o saber, saber o que pedir a Deus.
Santifique o agora”. Penso que cada momento
é único. O mesmo céu nunca se repete. Tornar
sagrado cada encontro, momento, olhares. Vol-
tando dessa mesma reunião com uma trilha
sonora cuidadosamente escolhida para o voo,
olhei pra fora da janela do avião e começou a
relampejar, iluminando o céu, com as luzes das
cidades aparecendo lá embaixo, um espetácu-
lo. Logo alcançamos a chuva, na velocidade em
que o avião estava, e com as luzes acesas, pare-
cia que estávamos dentro de um túnel da física
quântica, a chuva parecia milhares de luzinhas
abraçando o avião. Imediatamente veio o sen-
timento de gratidão mais uma vez. A vida está
recheada de momentos especiais, e entrar no
dia com essa disposição de espírito muda tudo,
muda todos, muda o mundo. É dizer o SIM pra
vida. E quero terminar com mais uma frase do
Marco: “Caminha na minha presença que te
mostrarei quem sou. Deus é movimento. Deus
está no sim”. Te desejo um dia, um momento e
um caminho abençoados. Namastê.
N
Santificar o agora
uito conhecido pelo já clás-
sico
O carteiro e o poeta
, que
ganhou adaptação para o ci-
nema, o escritor chileno Anto-
nio Skármeta tem uma exten-
sa produção voltada para as crianças, dentre
elas
A Redação
, com ilustração do espanhol
Alfonso Ruano.
A Redação
ganhou o prêmio
Monteiro Lobato de melhor tradução de
2004 da Fundação Nacional do Livro Infantil
e Juvenil. Também escreveu
Insônia
e
Biscoitinho
. Con-
quistou outros prêmios,
dentre eles o Jabuti em
2001, 2005 e 2010.
A Redação
é um livro
que quebra o mito dos
chamados temas tabus
na literatura infantil.
Com honestidade, res-
peito, sensibilidade e
poesia, é possível falar
sobre qualquer assunto
para as crianças, até os
mais difíceis.
A história ocorre em
um país latino-ameri-
cano, certamente o Chi-
le, na década de 1970
– quando as frágeis
tentativas de transi-
ção democrática foram
por rosemar Coenga
Rosemar Coenga
é
doutor em Teoria Literária e
apaixonado pela literatura de
Monteiro Lobato
ARedação
,
Antonio Skármeta
abortadas.
A Redação
é a história de Pedro,
um menino louco por futebol que estuda no
3º ano do EF1. Depois de testemunhar a pri-
são do pai de seu amigo Daniel, Pedro passa
a observar com outros olhos e a tentar en-
tender os acontecimentos que ocorrem ao
seu redor. A tristeza e a dor da família de seu
amigo, as notícias que chegam entrecortadas
pela censura, o receio pela sua família, pois
ele sabe que seus pais também são contra a
ditadura. Começa a se questionar e a refletir
sobre essa realidade tão difícil de entender,
pois, afinal, ele é só uma criança.
ARedação
é umconto emque a figura da fa-
mília é muito forte como porto seguro diante
do que o mundo lá fora apresenta. Skármeta
mostra como é possível escrever sobre a re-
alidade política para as crianças leitoras. Seu
texto ganha força e contraponto nas ilustra-
ções realistas e belíssimas de Alfonso Ruano,
que descrevem toda a dramaticidade e emo-
ção exigidas e provocadas pelo texto. Ruano
reconstrói com detalhes o entorno familiar e
cotidiano de Pedro, criando uma atmosfera
que deixa transparecer o peso da ditadura.
M
q d 2 q c n pe p s pa
c
i-
l – t
PELO MUNDO
por Jacqueline Haddad
Jacqueline Vieira Haddad
é
Advogada, Gestora de
Internacionalização, Imigração e
Cuiabana
uem nunca sonhou o “sonho ame-
ricano”? Aquele que assistimos nos
filmes e programas televisivos, cheio
de gente bonita e de bem com a vida.
Neste texto vou abordar o trabalha-
dor nos EUA de forma realista, sem deslumbra-
mento, mostrando as diferenças entre as culturas
brasileira e americana, desvantagens, curiosida-
des e o que podemos aprender com isso. A reali-
dade, no entanto, é outra.
processo de seleção de trabalho
: os ameri-
canos compartilham a ideia de que não importa
de onde você é, mas sim se você é qualificado. To-
dos passam por processo seletivo concorrendo
com americanos. Ganhando a vaga, as empresas
providenciam o visto de trabalho (você arca com
as despesas) e assim passa a ter todos os direitos
e deveres de um trabalhador americano, aten-
dendo às regras de imigração do país.
Almoço na mesa
: dependendo do emprego,
você entra às 7h e sai às 15h30, o que é bom, pois
terá o dia inteiro pela frente para fazer o que qui-
ser. Há geralmente dois intervalos de 10 minutos
para dar uma espiada no celular ou fumar e 30
minutos de almoço. É muito comum as pesso-
as prepararem seus lanches em casa e almoçar
no trabalho. Isso eles aprendem desde a escola,
lembram?
De igual para igual
: os americanos são ado-
ráveis, eu acho. E se você trabalhar direito, for
educada, será tratada de igual forma, pois eles va-
lorizam seu trabalho. Raramente será discrimina-
da. Eles inclusive têm curiosidade sobre o Brasil
e se acaso se sentirem confortáveis, te convidam
para passar as datas festivas com suas famílias. Ali
as coisas funcionavam de igual para igual.
Férias e feriados:
além de Natal e Ano Novo,
há mais cinco feriados no ano todo. Muito dife-
rente do Brasil, né? As férias geralmente são duas
vezes ao ano, de 15 dias. Ou quatro vezes de uma
semana. Muito difícil conseguir férias de 30 dias.
Você terá que ter muita lábia para dobrar seu
empregador.
Bene�ícios:
não existe 13º salário, vale ali-
mentação, vale refeição, 1/3 das férias. Diferente
de quando mencionei sobre valorizarem seu tra-
balho, os salários não são supervalorizados, mas
você paga as contas e sobrevive com dignidade.
Você ganha por hora trabalhada e 23% do seu sa-
lário serão descontados em folha para pagamen-
to de impostos e convênio médico.
Como curiosidade, você sabia que nos EUA
está a maior população prisional do mundo e
que 22% das crianças americanas vivem abaixo
do limite da pobreza? Ou que entre 1890 e 2012
os EUA invadiram e bombardearam 149 países?
Que são o único país da OCDE que não oferece
qualquer tipo de subsídio de maternidade? Que
nasceu sobre o genocídio de 10 milhões de nati-
vos? Além disso, 125 norte-americanos morrem
todos os dias por não poderem pagar qualquer
tipo de plano de saúde (não há free-SUS) e, entre
1940-1980, 40% de todas as mulheres em reser-
vas índias foram esterilizadas contra sua vonta-
de pelo governo norte-americano (esqueçam a
história do Dia de Ação de Graças). Todos os imi-
grantes são obrigados a jurar não ser comunistas
para poder viver nos EUA. E o preço médio numa
universidade pública é de 40 mil dólares (o es-
tudante já entra com dívidas de empréstimos; os
pais tentam poupar por toda a vida para garantir
a entrada de seus filhos na universidade). E você
sabia que os EUA são o país do mundo com mais
armas por habitante, que para cada dez norte-a-
mericanos há nove armas de fogo?
Como você pode ver, os EUA também têm te-
lhado de vidro como a maioria dos países, a dife-
rença é que as informações são constantemente
camufladas. Isso não é uma regra, mas funciona
para a maioria. E aí depende de cada um decidir
o que é mais vantajoso para si próprio. De qual-
quer forma, trabalhar em outro país não deixa de
ser uma experiência rica de aprendizados para
a vida profissional ou pessoal. Não importa em
qual país você trabalhe ou que tipo de trabalho
você faça, existe sempre uma maneira de apren-
der com a situação. Uma coisa é certa: aprendi
que o sonho americano pode até existir, mas
trabalhar para conquistar seu espaço e crescer
como profissional continua sendo a mesma coi-
sa aqui e lá. Não existe uma fórmula mágica para
isso.
Sonho americano
Q