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CIRCUITOMATOGROSSO
PANORAMA
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CUIABÁ, 7 A 13 DE AGOSTO DE 2014
TRÁGICO
MT é o 3º no ranking de suicídios
O Estado lidera a lista no Centro-Oeste commaior quantidade de suicidas e é o terceiro maior no País.
Rafaela Souza
O tema ‘Suicídio’ é
pouco tratado nas
políticas públicas e até
mesmo na mídia, pois há
certo receio de explorar o
assunto, por se tratar de
uma decisão própria e que
divide opiniões, mas que
cada vez está se tornando
um problema de saúde
pública. Apesar de pouco
divulgados, os índices de
pessoas que tiram a
própria vida estão cada
vez maiores, e em Mato
Grosso essa situação não
é diferente, tanto que de
2011 para 2012 o Estado
ficou em 3º lugar com a
maior taxa de crescimento
desses casos.
Antes de cometer suicídio, algumas
pessoas apresentam certos tipos de
comportamento que podem servir de sinal
para os familiares, como por exemplo:
Doar seus pertences
Falar sobre ir embora ou sobre a necessidade de
“organizar minhas coisas”
Mudança repentina de comportamento e hábitos
Perda de interesse em atividades que costumava
se divertir
Comportamentos autodestrutivos
Afastar-se dos amigos ou não querer sair
Falar sobre morte ou suicídio, ou mesmo dizer
que quer se ferir
Dizer que se sente desolado ou culpado
De acordo com o
Mapa da Violência 2014,
as taxas de suicídio entre
os anos de 1980 e 2012
tinham crescido 62,5% no
Brasil, aumentando o ritmo
a partir da virada de
século. Contudo, seu
destaque vem crescendo à
sombra dos dois gigantes
de nossa mortalidade
violenta: a dos acidentes
de trânsito e a dos
homicídios, com taxas
entre quatro e seis vezes
maiores. Essa baixa
presença parece atuar
como justificativa para a
falta de atenção.
E contribuindo para o
aumento significativo
desses casos, Mato
Grosso e Cuiabá lideram
principalmente o ranking
regional de Estado e
Capital com maior índice
de homicídio se tratando
de números gerais e de
jovens.
De acordo com o
Mapa, o Estado está
classificado em terceiro
lugar com maior número
de homicídios entre 2011
e 2012, representando
15,6% da quantidade geral
do país, ficando atrás
apenas do Distrito Federal
(23,8%) e Goiás (18,5%).
E no mesmo período, o
Estado também faz parte
do ranking do índice de
suicídios entre jovens, o
que deixou Mato Grosso
em 5º lugar, com taxa de
20%. O primeiro lugar foi
representado pelo Espírito
Santo, com 83,7%.
Outro dado que
surpreendeu na pesquisa
foram as localidades dos
suicídios, pois ao
contrário do que se pensa,
as capitais não são as
maiores representantes,
tanto que o crescimento
do número de suicídios na
população entre os anos de
2002 e 2012 foi menor do
que o dos Estados, sendo
21,9% nas capitais e
33,6% para os estados. Na
população jovem, essa
diferença é ainda maior,
pois os Estados
representam 15,3% de
aumento enquanto as
capitais apenas 1,8%.
Isso significa que o
interior é o responsável
por esse aumento. Em
Mato Grosso, esses
exemplos podem ser
vistos nas cidades de
Água Boa (distante 736
km da capital) e Juína
(distante 609 km da
capital), que fazem parte
dos 50 municípios com
maiores índices de
suicídio, aí considerada a
proporção da população.
De acordo com o
estudo que realizou uma
análise no período 2008-
2012, Água Boa está em
46º no ranking, pois com
aproximadamente 21 mil
habitantes a cidade
registrou 10 casos de
suicídio. E Juína, que
possui 39 mil habitantes,
teve 19 casos, ocupando o
49º lugar.
Contudo, apesar de
proporcionalmente Cuiabá
não ter o mesmo índice de
suicídios do interior, a
capital desponta no
Centro-Oeste como o
lugar que mais apresentou
crescimento dos casos
nos últimos 10 anos.
Em 2002 Cuiabá teve
19 suicídios, já em 2012
esse número passou para
30, representando 57,9%
de crescimento. E Goiânia,
apesar de ainda possuir
grande quantidade de
pessoas tirando a própria
vida, em relação às outras
regiões do Centro-Oeste, a
capital de Goiás teve a
menor taxa, com redução
de 33,9%, caindo de 118
casos para 78. Nos
índices gerais do Centro-
Oeste, a taxa é de 4,9%.
Problemas neurológicos e
traumas são principaismotivos
O suicídio é considerado
por muitos como um ato
egoísta, no qual a pessoa não
pensou no sofrimento dos
que vivem a sua volta, e outro
preconceito criado em torno
do tema é apontar o suicida
como um covarde que não
consegue encarar seus
próprios problemas.
De acordo com a
psiquiatraReneeElisabeth
Freire, daAssociação
BrasileiradePsiquiatria
(ABP), na sociedade há dois
tipos de pessoas que optam
pelo suicídio. Uma é a que
temproblemas neurológicos e
que não tem controle dos
próprios atos, e o segundo é
uma pessoa que passou por
um trauma e não encontra
mais solução para o
problema. Mas em todos os
casos é necessário que se
tenha uma atenção especial.
“Qualquer pessoa que
tente alguma coisa contra a
própria vida deve ser atendida
pelos familiares, emesmo que
seja ummodo de chantagem,
as pessoas devem entender
que a ação é um grito de
desespero e nunca deve
ignorá-lo”, explica a
psiquiatra. Ainda segundo a
médica, tratar do assunto
ainda émuito complicado
porque faltam trabalhos de
conscientização da população
e são poucos os incentivos
financeiros dados à área para
que seja feito umverdadeiro
diagnóstico desse problema
que está cada vez mais
crescendo no país.
“Atualmente, apenas nos
grandes centros que se tem
ummínimo de incentivo a
pesquisa, e isso é
complicado, pois dessa
maneira não dá para traçar
umperfil epidemiológicodas
causas que estão levando as
pessoas a se matarem”,
destaca.
A prevenção ainda é o
melhor remédio para
evitar que as pessoas
entrem em depressão e,
para se livrar do
sofrimento, optam por
tirar a própria vida. E em
busca de se salvar,
aproximadamente 450
pessoas ligam por mês no
Centro de Valorização da
Vida (CVV) de Cuiabá.
De acordo com a
coordenadora regional do
CVV, Isaura Titon, que
está há oito anos à frente
da instituição, não há
dados concretos sobre o
perfil das pessoas, pois as
ligações são sigilosas.
Mas de acordo com a
experiência dela, cada vez
mais aumenta o número
de homens e adolescentes
em busca de ajuda.
“Já atendi muitas
pessoas que estavam a um
passo do suicídio, pois
não eram compreendidos
pelos familiares. E cada
vez que passa, aumenta o
número de homens em
busca de ajuda e, com a
disponibilização do chat,
vários adolescentes
recorrem à internet para
entrar em contato
conosco”, diz Isaura.
Segundo os dados do
Mapa da Violência, a taxa
de homens que cometem
suicídio é sete vezes
maior que a de mulheres,
pois para cada 10
Falta de políticas públicas no país
pessoas, oito são homens
e duas são mulheres. E
assim como outros
problemas de saúde, essa
incidência é maior nos
homens, porque são os
mais vulneráveis ao uso
de drogas e são ao
mesmo tempo os que
menos procuram ajuda
médica.
Para a coordenadora,
o alarmante número de
450 ligações mês se deve
principalmente à falta de
políticas públicas para
atender essas pessoas que
muitas vezes são
recriminadas na
sociedade.
“Suicídio é um
problema de saúde pública
e, mesmo assim, pouco é
discutido. E tratar desse
assunto, não é relatar
como aconteceu o fato da
morte, mas sim o que
levou a acontecer”,
destaca a coordenadora
do CVV.
O Dia de Prevenção
ao Suicídio foi estipulado
mundialmente no dia 10
de setembro, contudo a
data é pouco lembrada no
Brasil ainda.
Cuiabá se destaca
no Centro-Oeste
com maior
crescimento do
número de
suicídios, e no
interior, Juína e
Água Boa se
destacam
As políticas públicas para abordar o tema ‘suicídio’ ainda são
muito tímidas no Brasil, diz a psiquiatra Renee Elisabeth
Mensalmente, 450 pessoas recorrem ao CVV para desabafar e
cada vez mais tem crescido a quantidade de adolescentes
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