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CIRCUITOMATOGROSSO
PANORAMA
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CUIABÁ, 31 DE JULHO A 6 DE AGOSTO DE 2014
FICO
Empresários receosos com ferrovia
Segundo o coordenador executivo doMovimento Pró-Logística, investidores têmdúvidas se no período de exploração do negócio terão lucro
Diego Frederici
O transporte de
trilhos é apontado como
um dos mais seguros e
com menos custos para o
setor produtivo. Em
agosto de 2012, há dois
anos, o Governo Federal
tomou algumas ações para
preencher a lacuna
histórica do setor no
Brasil, como o Programa
de Investimentos em
Logística, que apenas no
setor ferroviário prevê
investimentos de R$ 99,6
Transcontinental
na pauta novamente
Reunidos na última
sexta-feira (25),
Governo do Estado e
empresários chineses
voltaram a discutir a
construção da Ferrovia
Transcontinental,
antigo sonho de ligação
na América do Sul
entre os oceanos
Pacífico e Atlântico. O
trajeto prevê a
implantação de 4.400
km de estrada de ferro
apenas em solo
brasileiro, entre as
cidades de Boqueirão
da Esperança (AC) e o
Porto de Açu, no litoral
do Rio de Janeiro.
A iniciativa é de
grande interesse para o
Estado, tendo em vista
que no projeto original
os 880 km da Fico, a
maior parte dos quais
em Mato Grosso,
compartilham a mesma
estrutura física que a
Transcontinental, ou
seja, apenas mudam de
nome.
Ma Li, vice-
presidente da empresa
China Railway
Engineering
Corporation (CREC),
um dos líderes do
grupo, confirmou o
interesse do país
asiático em investir no
Estado, destacando sua
produção agrícola.
“Não só a
Transcontinental como
também a Cuiabá-
Santarém estão entre
os interesses que
temos em Mato
Grosso”, disse Li.
Banhada pelo Oceano
Atlântico, a costa
brasileira é uma das
maiores do mundo, com
extensão que ultrapassa
8,5 mil km – em linha
reta, a mesma distância
entre as cidades de Cuiabá
e Zaragoza, na Espanha.
Utilizando-se este
potencial, os portos
nacionais movimentaram
931 milhões de toneladas
de carga bruta em 2013,
de acordo com o Sistema
Portuário Nacional. No
entanto, os terminais
privados, responsáveis por
64% desta operação, têm
seus próprios interesses e
não estão necessariamente
comprometidos com o
desenvolvimento do país.
Para o doutor em
Engenharia de Transportes
e professor da
Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT)
Luiz Miguel Miranda,
ferrovias como a Fico e
todas as outras que se
propõem a ser uma opção
logística no interior dos
Estados brasileiros só
fazem sentido se estiveram
conectadas a portos
(fluviais e marítimos), que
têm boa parte de suas
operações controladas por
empresas privadas nesses
terminais de escoamento.
Entretanto, nem sempre as
entidades compartilham os
mesmos objetivos.
“Os portos são
Portos fazem lobby contra ferrovia
monopólios de operadoras
logísticas. É claro que ao
construir uma ferrovia,
com operação pelo
open
access
, interesses de
investidores que não estão
necessariamente
comprometidos com o
desenvolvimento e que
controlam os terminais são
contrariados”, diz.
Mato Grosso, uma
unidade federativa
desprovida de saída para o
mar, registra um gargalo
histórico em relação ao
escoamento do
agronegócio, mesmo
possuindo dentro do seu
território umas das
maiores produções de
grãos no mundo. Segundo
levantamento da Agência
Nacional de Transportes
Aquaviários (Antaq), os
portos da região Sul são
os mais utilizados para
exportação de
commodities, com a soja
em primeiro lugar,
representando 45% das
transações, seguida pelo
milho, com 19%.
Realizada basicamente
pelo modal rodoviário, o
transporte de grãos até os
portos poderia ser feito de
maneira mais eficiente e
com menos custos, não
fosse a queda de braço
entre governo e
investidores, que não
querem abrir mão do
controle que detêm sobre
os portos numa eventual
parceria com o poder
público, de acordo com o
docente da UFMT. Para
ele, a discussão da
importância dos portos
acaba ficando em segundo
plano, frente aos custos
que demandam a
construção de uma
ferrovia, que podem
chegar a até R$ 5 milhões
por km. “Essa discussão
de monopólio dos portos
só é verificada dentro das
empresas. Parte da
sociedade despreza a
importância estratégica de
um porto para o sucesso
ou o fracasso de uma
grande organização”, diz
ele.
Fotos: André Romeu
bi. Uma de suas vedetes,
a Ferrovia de Integração
do Centro Oeste (Fico),
no entanto, parece não ter
caído nas graças do setor
produtivo, que vem
hesitando em comprar o
projeto.
Com o título de
Estado que é símbolo do
agronegócio no país,
Mato Grosso tem uma
demanda antiga por
melhores opções de
logística e de escoamento
da safra de grãos, como
soja e milho. Sonho dos
produtores estaduais, que
veem no transporte sobre
trilhos a solução para o
aumento dos seus lucros,
a Fico vem encontrando
barreiras para sua
implantação, que prevê a
ligação ferroviária entre
as cidades de Lucas do
Rio Verde (354 km de
Cuiabá) e Campinorte
(GO). Segundo Edeon
Vaz Ferreira, coordenador
executivo do Movimento
Pró-Logística de Mato
Grosso, alguns
investidores estão
receosos com o modelo
adotado pelo Governo
Federal para operação e
construção da ferrovia,
chamado de
open access,
no qual uma empresa fica
responsável pela
construção, enquanto
outra companhia, nesse
caso a empresa pública
Valec, deterá o controle
de operação da mesma,
loteando a capacidade de
transporte de cargas para
qualquer grupo que se
interesse pela utilização
do serviço ferroviário.
“No modelo
open
access
, mesmo que a
empresa que irá construir
a ferrovia obtenha
dividendos tanto da
companhia que terá o
controle da operação
quanto daquelas que
efetivamente realizarão o
transporte, ainda assim,
os investidores estão
cautelosos”, pondera.
A Ferrovia de
Integração Centro-Oeste
tem previsão de 880 km
de extensão e, nas
palavras da presidenta
Dilma Rousseff, “ligará
Mato Grosso com a
espinha dorsal do sistema
ferroviário brasileiro, que
é a Ferrovia Norte-Sul”.
Porém, nem mesmo a
possibilidade de
escoamento da produção
pelo Norte e Nordeste do
país, quanto dos portos
do Sul e Sudeste, além do
direito de explorar o
negócio por 35 anos,
estão seduzindo o número
de investidores ou
consórcios de empresas,
que temem não ter lucro
com o negócio.
Entretanto, há luz no
fim do túnel para a
empreitada, de acordo
com o representante do
Movimento Pró-Logística.
Segundo ele, os chineses
têm mostrado interesse e
até já assinaram uma
“carta de intenções” para
avançar na negociação
(leia matéria abaixo).
Além disso, o governo
também estuda a
participação de um “fundo
garantidor”, controlado
por bancos privados para
tirar a Fico do papel.
Mesmo assim, a ferrovia
ainda deve demorar
alguns anos para cruzar o
cerrado mato-grossense.
“O edital para
construção da Fico deve
sair no segundo semestre
de 2014, mas ainda não
temos uma previsão
exata”, diz ele.
Projeto prevê trilhos que trilhos cheguem a Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, e sigam até Campinorte, em Goiás
Edeon Vaz Ferreira, coordenador executivo
do Movimento Pró-Logística de Mato Grosso
Doutor em Engenharia de Transportes, Luiz Miguel de Miranda
alerta para jogo de interesses dos investidores
Chineses visitamMato Grosso para avaliar possibilidade
de investimentos na Ferrovia Transcontinental
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