CIRCUITOMATOGROSSO
POLÊMICA
P
G
5
CUIABÁ, 31 DE JULHOA 6 DE AGOSTODE 2014
BARRANCO
Secopa: erro de R$ 1,9 milhão
Licitação ocorreu somente seis meses após confirmação da falha no corte do morro e que colocou famílias em risco
Camila Ribeiro
A empresa PPO
Pavimentação e Obras
LTDA, - única a
apresentar proposta à
Secretaria de
Extraordinária da Copa
2014 (Secopa) para obra
de correção
(reconformação) da
falha no corte do morro
ao lado do viaduto do
Despraiado, venceu a
MAPA DA VIOLÊNCIA
Homicídios crescem 148% em MT
Di ego Freder i c i
Um estudo
publicado pela
Secretaria Nacional da
Juventude, divisão da
Secretaria-Geral da
Presidência da
República, apresentou
dados preocupantes em
relação a mortes
violentas no país,
sobretudo de jovens que
de 15 a 29 anos. O
relatório
Mapa da
Violência 2014: Jovens
do Brasil
revela que as
mortes violentas,
decorrentes de
homicídios dolosos,
cresceram 148% no
período entre 1980, ano
em que os dados
necessários ao estudo
começaram a ser
computados, e 2012.
Segundo os dados
do Sistema de
Informações de
Mortalidade, do
Ministério da Saúde, no
mesmo período de 32
anos foram registrados
1.202.245 homicídios no
país, além de 1.041.335
vítimas de acidentes de
trânsito e outros
216.211 suicídios.
Somadas, as três causas
de mortes perfazem um
total de 2.459.791
pessoas que perderam
sua vida em virtude
dessas “causas
externas”, isto é,
aquelas que não
decorrem do processo
natural de deterioração
do organismo, em
virtude da idade,
doenças e demais
fatores.
Estudo aponta que índices de mortes violentas atingem seu ápice nos jovens com 21 anos e que mais de 2,4 milhões de pessoas
perderam a vida nos últimos 30 anos por “causas externas”
licitação e o serviço sairá
por R$ 1,9 milhões.
O custo da falha
será pago com recursos
públicos e não das
empreiteiras que fizeram
a obra, orçada em R$
18,9 milhões. Ao todo, o
prejuízo será de R$ 5
milhões por conta das
indenizações às famílias
afetadas pelo erro e que
somam R$, 2,8 milhões.
O prazo de execução
da obra é de 60 dias e os
serviços deverão ter
início assim que as oito
famílias que ainda estão
no local, bem como as
duas que já foram
retiradas de lá,
receberem os valores
referentes a
indenização.
O corte no barranco
durante a construção do
viaduto foi feito sem que
houvesse planejado a
construção de um muro
de arrimo no local para
evitar deslizamentos. O
erro foi denunciado com
exclusividade
pelo Circuito Mato
Grosso em setembro do
ano passado.À época, o
geólogo do Conselho
Regional de Engenharia e
Agronomia (Crea-MT),
Mário Cavalcanti de
Albuquerque, disse ao
Circuito que o corte
praticado colocou a
rocha em exposição,
abrindo a possibilidade
de deslizamentos em
época de chuva, o que
veio a se concretizar
meses depois.
“Serão realizados
cortes acentuados na
encosta do morro, para
minimizar os puxões de
terra, estabilizar o talude
e acabar com o
deslizamento existe no
local”, explicou o
assessor especial da
Secopa, Jamir Sampaio.
Ele alegou ainda,
que não haverá a
necessidade de
construção e um muro de
contenção. “Vamos fazer
apenas a reconformação
da encosta, instalando
ainda dispositivos de
drenagem e, por fim o
revestimento de vegetal
no local”, completou ele.
André Romeu
Para se ter uma
ideia, é como se o Brasil
tivesse sido palco da
Batalha de Stalingrado
,
considerado o combate
mais sangrento da
história da humanidade,
na cidade russa de
mesmo nome (hoje
Volgogrado), entre 1942
e 1943, durante a
Segunda Guerra
Mundial, e que deixou
um número similar de
mortos.
Segundo o Datasus,
base de dados utilizada
pelo Ministério da
Saúde, em 1980 havia
34,5 milhões de jovens
no Brasil, representando
29% dos 119 milhões de
habitantes que o país
tinha na época. Em 2012
esse número subiu para
52,2 milhões de
pessoas, no entanto, sua
proporção diminuiu em
comparação com a
população, caindo para
26,9% dos 194 milhões
de residentes de nosso
país, de acordo com
estimativas do próprio
Ministério.
Para o
Mapa da
Violência
, um dos fatos
mais preocupantes e que
recebeu destaque
especial no estudo é a
faixa etária que se
encontra mais vulnerável
a mortes por causas
externas. O texto
qualifica como “brutal”
o incremento de
homicídios a partir dos
13 anos de idade, que
nessa época são de 4 a
cada 100 mil habitantes,
subindo para 75 ao
atingir os 21 anos – um
aumento de quase
1.900%.
O texto ressalta que
nessa faixa jovem os
índices de homicídio são
tão altos que nem
“países em conflito
armado conseguem
alcançar”.
Em Mato Grosso as
mortes violentas de
pessoas com idade entre
15 e 29 anos cresceram
nos últimos anos,
passando de 425 em
2002 para 531 em 2012
– aumento de 25%. O
Estado ocupa ainda a
15ª colocação no índice
de mortes dessa faixa
etária, com 60 vítimas
para cada grupo de 100
mil habitantes. Posição à
frente de outros locais
considerados
“violentos”, como São
Paulo e Rio de Janeiro.
Box 01 – Jovens
socializam-se pela
violência
Dados do
levantamento
Mapa da
Violência 2014: Jovens
do Brasil
confirmam
que o Brasil é uma das
nações menos seguras
do mundo para o jovem
de 15 a 29 anos viver. O
país ocupa a 8ª posição,
com 54,5 homicídios
por grupo de 100 mil
habitantes, à frente de
Panamá, México e
Paraguai. A campeã no
quesito é El Salvador,
com 119,6 vítimas.
Para o coordenador
do Núcleo
Interinstitucional de
Estudos sobre a
Violência Pública e
Cidadania (Nievci) da
Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT),
Naldson Ramos da
Costa, a questão dos
homicídios no Brasil é
“muita séria”, e houve
um aumento vertiginoso
nas últimas três
décadas. Sublinhando
que os registros de
mortes verificados nos
últimos anos tem-se
mantido entre 50 e 60
mil pessoas, ele alerta
que o jovem é mesmo o
mais vulnerável nessa
situação.
“Enquanto esse
jovem não estiver
empoderado, enquanto
não tiver acesso a
atividades que
desenvolvam suas
capacidades motoras e
emocionais, enquanto
ele estiver fora do
alcance dos valores
socialmente aceitáveis,
ele encontrará sua
socialização por meio da
violência”, diz.
Naldson explica que
empoderar, um termo da
sociologia, nada mais é
do que incluir a pessoa,
no caso o jovem, como
sujeito de valores dentro
da sociedade, ou seja,
instruí-lo e orientá-lo
sobre quais
comportamentos são
aceitáveis do ponto de
vista da convivência
cordial entre as pessoas.
Ele diz ainda que a
política de segurança
pública contribui para
que os índices de
mortes na faixa etária
entre 15 e 29 anos tenha
explodido nas últimas
décadas, afirmando que
a repressão, isto é,
quando agentes de
segurança interceptam
criminosos no ato do
delito, no flagrante,
“não acontece”.
“Muitos homicídios
não são esclarecidos já
que os policiais chegam
muito tarde à cena do
crime. Além disso, nos
boletins de ocorrência, é
comum verificarmos que
crimes de honra sejam
computados como
disputas de poder no
tráfico de drogas, por
exemplo”, diz ele.
Naldson Ramos da Costa, coordenador do Nievci,
da UFMT, afirma que jovens precisam ser imbuídos
de valores socialmente aceitáveis
Apenas uma empresa apresentou proposta
para fazer a correção no corte do morro
Falha na obra do viaduto do Despraiado obrigou a Secopa
a indenizar 10 famílias, ao custo de R$ 2,8 milhões
Foto: Camila Ribeiro
Foto: André Romeu