CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 31 DE JULHOA 6 DE AGOSTO DE 2014
POLÊMICA
P
G
8
GRITO DE SOCORRO
Servidores exigem resgate do Adauto
Pacientes com transtornos mentais estão relegados ao abandono e profissionais denunciam mortes
Camila Ribeiro
Sandra Carvalho
Falta de
medicamentos, materiais
descartáveis e
equipamentos para
desenvolver atividades
psicopedagógicas, além
de uma estrutura física
que frequentemente sofre
interdições. Há anos, esta
vem sendo a realidade do
Ciaps Adauto Botelho,
unidade para tratamento
psiquiátrico em Mato
Grosso e que apresenta
problemas antigos e
crônicos, que acarretam
inclusive a suspensão da
internação de novos
pacientes. Muitos já
teriam morrido por conta
da falta de assistência.
Inconformados com a
situação enfrentada pela
unidade e buscando uma
melhoria imediata,
servidores e usuários do
Ciaps Adauto Botelho
realizaram uma
manifestação esta semana
na Praça Ulysses
Guimarães, em frente ao
Pantanal Shopping.
Os profissionais
cobraram a efetivação dos
princípios da Reforma
Psiquiátrica, além de
melhorias das condições
de trabalho dos
profissionais que atuam
nas sete unidades do
Ciaps. Eles exigem, ainda,
ações rápidas para que os
Conforme relatou a
reportagem do
Circuito
Mato Grosso
no último
dia 18, a unidade está há
dias sem receber novos
internos, o que gera,
inclusive, uma lista de
espera de pacientes com
Serviços nas unidades
estão comprometidos
O Ciaps Adauto
Botelho é composto
por sete unidades,
sendo: Central de
Vagas, Centro de
Atenção Psicossocial
para Dependentes
Químicos (Caps-AD),
Centro de Atenção
Psicossocial Infantil
(Capsi), Unidade I
(Internação Masculina
e Feminina para
pessoas em surto
psicótico), Unidade II
(Pascoal Ramos),
Unidade III
(Internação masculina
para dependentes
químicos) e Lar Doce
Lar.
As unidades
trabalham com
diferentes modalidades
de atendimento, que
compartilham do
mesmo objetivo, o de
prestar atendimento
aos cidadãos
portadores de
transtornos mentais
graves e severos, e
dependência de álcool
e drogas.
No entanto, os
serviços estão
praticamente
comprometidos por
conta da falta de
condições de trabalho,
como relatam os
servidores.
Paciente indignado com descaso
Jandir Alves Almeida,
de 28 anos, participou do
protesto em defesa da
retomada dos serviços no
Adauto Botelho e
reaparelhamento da rede de
assistência à saúde mental.
Ele frequenta um Centro
de Atenção Psicossocial
(Caps) desde os 19 anos e
às vezes acaba precisando
ficar internado no Adauto
Botelho. “O SUS não é
meu, é de todos. Peço a
Deus que o secretário de
Saúde atenda nossos
apelos”. Durante a
manifestação, Jandir
cantou um rap que
começava com a seguinte
frase: “Se você não me
ama, pra que me iludir?”.
Internações continuamsuspensas
graves transtornos
mentais e que não têm
outra opção de
internação além do
Adauto.
Além disso, a
estrutura precária da
unidade principal,
localizada no bairro
Coophema, também gera
transtornos recorrentes,
como a falta de energia
elétrica. Em junho, por
exemplo, a reportagem
teve conhecimento de
que o Ciaps ficou com o
fornecimento de energia
elétrica interrompido por
mais de 48 horas.
Em episódios como
este a situação se agrava
ainda mais no período
da noite, já que boa
parte dos pacientes tem
pânico de escuro e o
uso de velas e lanternas
não ameniza os
transtornos.
OUTRO LADO
A reportagem mais
uma vez procurou
respostas e informações
sobre a situação das
unidades junto à
Secretaria de Estado de
Saúde (SES-MT), mas
até a edição desta
matéria as ligações não
foram atendidas.
pacientes sejam atendidos
com qualidade.
“Estamos
impossibilitados de
realizar o atendimento.
Não temos sequer
medicamentos
psicotrópicos que são
indispensáveis para o
tratamento dos
pacientes”, alegou a
presidente do Sindicato
dos Servidores Públicos
da Saúde e do Meio
Ambiente (Sisma-MT),
Alzita Ormond.
A sindicalista também
confirma as denúncias já
feitas inúmeras vezes
pelo
Circuito Mato
Grosso
de que faltam os
mais simples utensílios e
materiais necessários no
dia a dia da unidade,
como, por exemplo,
copos descartáveis e
papel higiênico.
Recentemente, uma
funcionária de uma das
unidades, em entrevista
ao
Circuito
, disse que os
profissionais chegam a
ponto de terem de fazer
‘cotinha’ para comprar
materiais para a unidade.
“Certa vez, não tínhamos
copo descartável.
Tivemos que dar remédio
aos pacientes utilizando
um único copo, sem
deixar encostar na boca
de cada um deles”, disse
a funcionária à época.
Alzita Ormond lembra
que existe total abandono
e descaso tanto com os
funcionários como dos
pacientes, e mesmo com
reiteradas denúncias a
situação permanece no
caos. Veline Simione,
psicóloga do Adauto
Botelho, relatou durante a
manifestação que o déficit
de profissionais faz com
muitos não tenham direito
ao devido descanso. Ela
também denunciou as
precárias condições de
higiene, inclusive no
refeitório, por conta do
mau cheiro que exala dos
banheiros, mesma
situação a que estão
submetidos os pacientes.
Há anos os servidores do Adauto Botelho denunciam problemas gravíssimos na instituição
e que afetam diretamente os pacientes, além dos profissionais lá lotados
Cansados de esperar resposta da Secretaria de Estado
de Saúde, servidores foram às ruas protestar
Fotos: Sandra Carvalho