CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ,
31 DE JULHO A 6 DE AGOSTO
DE 2014
POLÊMICA
P
G
7
OBRAS DA COPA
“Não dá pra esperar El Rey!”
Especialista convoca população a reagir e protestar exigindo conclusão das obras prometidas para o Mundial
Rafaela Souza
Sandra Carvalho
Das 56 obras
anunciadas pela Secretaria
Extraordinária da Copa
2014 (Secopa), apenas a
Arena Pantanal ficou
pronta, ainda assim com
alguns detalhes por fazer.
As demais estão sendo
tocadas lentamente pelas
empreiteiras, o que
significa que 90% das
obras prometidas não
foram entregues e
algumas, a exemplo do
Veículo Leve Sobre
Trilhos (VLT), nem têm
data definida para serem
concluídas. Apenas
suposições.
“Não dá pra ficar
esperando El Rey”, alerta
José Antonio Lemos dos
Santos, arquiteto e
urbanista, professor
universitário em Cuiabá,
ao apontar a lentidão das
obras, especialmente a do
Aeroporto Marechal
Rondon. Ele lembra que
quando da preparação
para a Copa, um dos
grandes temores era de
que as obras que não
fossem concluídas a
tempo do grande evento
jamais ficassem prontas
depois. ”Um temor
procedente e que seria
real caso a gente mato-
grossense fosse composta
apenas de
bobós-lelés”
.
Mas não, acrescentou
o especialista, apesar de
sua excessiva boa-fé e
timidez na reivindicação
de seus direitos, o mato-
grossense, incluso o
cuiabano, é um povo
inteligente, produtivo e
lutador, que fez de seu
estado o maior produtor
Reação do trade
turístico é enaltecida
O arquiteto e
urbanista José Lemos
destaca – o que chama
de ‘sinais animadores’ –
a iniciativa do trade
turístico que na semana
passada movimentou-se
protocolando junto à
Infraero um documento
cobrando a continuidade
das obras do aeroporto.
A não conclusão,
analisa o especialista, foi
usada como motivo para
suspensão da linha
internacional para Santa
Cruz de La Sierra,
causando enormes
prejuízos ao setor que
investiu em novos hotéis
e restaurantes, bem
como no
desenvolvimento de
eventos internacionais
agendados em função da
existência da linha.
“Neste caso,
nunca é demais
lembrar a histórica má
vontade do governo
federal e ultimamente
da Infraero para com
Cuiabá quanto aos
aeroportos, desde a
construção da primeira
estação de passageiros
na década de 60 que só
aconteceu quando uma
primeira-dama do país
precisou ir ao
banheiro, até a atual e
ainda precária
ampliação, que só
aconteceu por causa
do milagre da Copa e
dos compromissos
internacionais
assumidos pelo país
para o evento”, avalia o
especialista.
Concessão da Arena deve
atender interesse público
Uma obra de mais de
R$ 500 milhões tem que
ser vista como poderosa
ferramenta de política de
Estado para o
desenvolvimento
multissetorial, e não para
ser simplesmente
concedida a algum grupo
privado sem uma clara
definição prévia de
compromissos com os
interesses públicos
locais.
Esse conceito do
arquiteto José Antônio
Lemos vem de encontro à
manifestação da nova
direção da Federação
Mato-grossense de
Futebol e do Cuiabá
Esporte Clube de cobrar
do governo estadual a
discussão pública sobre o
destino da Arena
Pantanal, visando
assegurar que ela exista
em favor dos interesses
do futebol e do povo
mato-grossense. “Afinal,
foi o povo quem bancou
sua construção”, lembra.
Na Avenida Miguel Sútil vários pontos já foram
desinterditados, restando agora a parte inferior das
trincheiras Santa Rosa e Av. dos Trabalhadores/
Jurumirim. Justamente essas duas obras foram as mais
problemáticas durante os dois anos que antecederam a
Copa do Mundo.
Marcada por diversas paralisações de funcionários e
até problemas com as empreiteiras, a trincheira Santa
Rosa, por exemplo, ficou aproximadamente quatro
meses parada devido ao rompimento de contrato com a
antiga construtora Ster. E durante todo esse tempo,
muitos comerciantes precisaram fechar as lojas e
amargar o baixo movimento.
Durante a Copa, quem passava pelo local notou um
ritmo acelerado nos serviços, que agora voltou à
morosidade habitual e com isso a empresa pediu um
aditivo de prazo para entregar a obra. Contudo, a
Secopa ainda está analisando o caso e a Trincheira
Santa Rosa segue sem prazo definido para entrega.
Já a trincheira Jurumirim, além da parte inferior,
não está totalmente liberada na parte superior. Marcada
por diversas greves de funcionários, a obra tinha a
previsão de ser entregue no início deste ano, contudo
três aditivos de prazo e um de valor foram pedidos. E
com isso, a Trincheira deve ser totalmente entregue,
segundo a Secopa, no dia 29 deste mês.
Trincheiras ainda
sem prazos definidos
COTs só devem ficar
prontos no final de agosto
De acordo com a
assessoria da Secopa,
entre os trabalhos que
faltam ser finalizados
estão as atividades no
interior do prédio, a área
do estacionamento e a
região no entorno do
Centro Esportivo. A
previsão é que a obra
seja entregue no dia 31
de agosto. Em relação à
entrega do COT da
UFMT, a Secopa
informou que o prazo
será o mesmo e que entre
as obras que precisam
ser finalizadas está o
interior do prédio e a
instalação da pista oficial
de atletismo de padrão
internacional.
VLT fora dos trilhos
O governador Silval
Barbosa (PMDB) já
assumiu o que todo
mundo já suspeitava, que
era a perda de controle
sobre a entrega da obra
do Veículo Leve sobre
Trilhos, o VLT, cujo
custo já chega a R$ 1,5
bilhão.
Silval lembrou que
prometeu entregar o
modal até o final de sua
gestão, mas agora
reconhece que somente
em 2015 a obra será
concluída. “Não depende
só de mim a entrega do
VLT, pois há uma série de
outras circunstâncias que
fugiram do meu alcance.
E assim como eu queria
ter terminado tantas
coisas que eu planejava
fazer”.
O projeto está tão
fora do planejado que
somente a obra do VLT
ficou sem contrato
durante quatro meses.
Somente na semana
passada a Secretaria
Extraordinária da Copa
(Secopa) publicou no
Diário Oficial o primeiro
termo aditivo de prazo ao
contrato N° 037/2012.
De acordo com o
quarto e último relatório
emitido pelo TCE, a data
de conclusão indicada
pela Secopa de dezembro
de 2014 é inexequível,
principalmente se for se
realizar um comparativo
com o histórico das obras
desde março de 2012,
quando teve o seu início.
agropecuário do país e
um dos maiores do
mundo, apesar de sempre
tão abandonado pelos
governos, em especial o
federal.
“Entretanto, há sinais
preocupantes, pois,
passada o grande
dinamismo nas obras nos
últimos meses
precedentes à Copa, elas
hoje estão praticamente
paradas, com exceção das
ligadas ao VLT, ainda que
em ritmo lento”, detalha,
ressaltando o fato de que
os gestores seguem
falando em ajustes de
cronogramas, acertos dos
turnos extraordinários de
trabalho, dentre outros, e
que o governador
continua garantindo que
tudo estará pronto ao final
de seu governo.
Quanto à
complexidade e
importância das
intervenções, o assunto
não pode ser deixado
apenas a cargo do
governo estadual, de
acordo com o
especialista, porque a
maioria das obras envolve
também o governo federal
e até o municipal. ”Será
preciso muito protesto e
muita cobrança
organizada da população,
aproveitando que o pós-
Copa ainda interessa à
imprensa mundial”,
observou o arquiteto.
E ele chamou ainda a
atenção para um fato: “a
história vem ensinando
dolorosamente ao mato-
grossense, e muito
especialmente ao
cuiabano, que não dá para
ficar só esperando El-
Rey, não só porque ele já
era, como também porque
seus sucessores têm
pouco ou nenhum
compromisso com o
interesse público”.
E se o Mundial já
passou e as obras não
ficaram prontas, José
Lemos aponta um
caminho: “Antes, a Copa
forçava a conclusão das
obras. Agora, só nos
resta a cobrança eficiente
e as armas que temos são
o protesto organizado e o
voto”.
A trincheira do Santa Rosa foi parcialmente liberada
para os jogos da Copa e segue a passos lentos
José Antônio Lemos,
arquiteto e paisagista, diz
que população deve cobrar
conclusão das obras
A obra do VLT, a mais cara e a mais
atrasada, só deve ser concluída em 2015
Os dois Centros Oficiais de Treinamento
também não foram entregues no prazo
Não há prazo para conclusão da Trincheira
Jurumirim, a maior de todas
Fotos: André Romeu