CIRCUITOMATOGROSSO
PANORAMA
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CUIABÁ, 30 DE JANEIRO A 5 DE FEVEREIRO DE 2014
CRÉDITO RURAL
Centro-Oeste representa apenas 6%
Acordos estão concentrados num pequeno grupo que detém um quinto do valor de financiamentos agrícolas do país
Diego Frederici
A pujança do
agronegócio no Centro-
Oeste pode esconder a
concentração de
riquezas, expressa pelo
financiamento rural.
Dados do Anuário
Estatístico do Crédito
Rural do Banco Central
(BC), de 2012, apontam
que apesar de deter 21%
do valor financiado de
empréstimos rurais, a
região possui um número
relativamente baixo de
contratos em relação a
outras regiões, detendo
apenas 6% deles. A
porcentagem pode
indicar uma aglutinação
de renda e acesso ao
crédito restrita a um
pequeno grupo, no caso,
os grandes produtores.
Com uma população
de 15 milhões de
habitantes e participação
de 8% no PIB, o Centro-
Oeste responde por
impressionantes 41% da
produção agrícola
nacional. Entre custeio,
investimento e
comercialização da safra,
Orientação sobre Plano de
Desenvolvimento Rural
Representantes dos municípios que integram
o programa de apoio à agricultura familiar Voltar
a Querer vão participar de 17 a 21 de fevereiro,
na Associação Mato-grossense dos Municípios, da
oficina de elaboração do Plano Municipal de
Desenvolvimento Rural.
Um dos objetivos do Plano Municipal de
Desenvolvimento Rural é estabelecer diretrizes
para o desenvolvimento rural local de forma
sustentável e direcionar as ações fomentadas
pelos municípios no campo. A iniciativa visa
elaborar um diagnóstico da realidade local, com o
levantamento dos problemas e carências da área
rural, para subsidiar a elaboração do plano de ação
para o desenvolvimento do setor.
O Conselho Municipal de Desenvolvimento
Rural de cada município se encarregará de
selecionar 10 pequenos produtores para
desenvolver em suas propriedades um hectare de
banana, goiaba, mamão e outras frutíferas ou
legumes e verduras associados ou não. Com essa
dinâmica haverá ao todo 200 hectares de frutas,
legumes ou verduras, distribuídos em várias
regiões do estado, servindo de referência e
incentivo para o desenvolvimento da atividade no
meio rural.
A orientação ocorrerá no Centro de
Capacitação da AMM. A primeira etapa vai
contemplar 21 municípios, selecionados devido à
vocação para atividade rural e maior demanda por
atendimento: Nova Bandeirantes, Castanheira,
Novo Horizonte do Norte, Porto dos Gaúchos,
Brasnorte, Nova Maringá, Alto Paraguai, Rosário
Oeste, Jangada, Nossa Senhora do Livramento,
Planalto da Serra, Nova Brasilândia, Campo
Verde, Tesouro, Guiratinga, Pedra Preta, Itiquira,
General Carneiro, Torixoréu, Ponte Branca e Salto
do Céu.
Colheita começa e velhos problemas
de classificação reaparecem
Acompanhar a classificação e respeitar o estágio de desenvolvimento da planta para
dessecação são algumas orientações
Sandra Carvalho
Com início da
colheita, um velho
problema ressurge: a falta
de clareza no sistema de
classificação de grãos.
Com a ausência de
transparência e de uma
metodologia os produtores
somam perdas. ”Todo ano
é a mesma coisa, temos o
compromisso de entregar
a uma trading específica,
mas não há um modelo.
Um lugar é diferente do
outro”, lembra o produtor
Rogeres Cassol, de
Campos de Júlio, que
iniciou a colheita dia 26 de
janeiro passado.
Ainda de acordo com
o produtor, ocorreram
casos no município, nesta
semana, em que a
diferença de umidade
encontrada em uma
mesma carga chega a ser
de 10%, entre a medição
realizada nas fazendas e
a da empresa compradora
do grão.
ORIENTAÇÕES
Para evitar maiores
perdas, a Aprosoja orienta
os produtores a
acompanharem e ficarem
atentos à classificação,
observando se os teores
encontrados são realmente
o que corresponde à
carga. Em caso de
dúvidas, é preciso
procurar orientação
técnica.
Outro ponto
fundamental é atentar para
as dessecações,
verificando sempre as
previsões climáticas para
que a soja seja colhida
dentro dos padrões
exigidos. A Fundação
Mato Grosso também tem
alertado aqueles que
antecipam a dessecação do
grão. Segundo estudo do
pesquisador Claudinei
Kappes, essa antecipação
pode gerar perda de 8 a 12
sacas por hectare,
dependendo do estágio de
desenvolvimento. A
recomendação é que a
aplicação de dessecantes
seja na fase R7, quando
acontece a maturação
fisiológica.
Projeto Classificação
de Grãos – Frente a isso,
a Aprosoja trabalha por
meio do Projeto de
Classificação de Grãos,
com o “simulador”, em
que os produtores podem
consultar os descontos
praticados por algumas
empresas. A base de
dados é pautada em
romaneios de safras
passadas cedidos por
produtores de todo o
estado. Para usar o
sistema o produtor
alimenta a planilha com
suas informações e
observa qual trading aplica
um menor desconto.
O produtor pode
contar ainda com as
Cartilhas de Procedimento
de Desconto, com a forma
correta de classificação,
segundo as normativas do
Ministério da Agricultura.
os produtores de Mato
Grosso obtiveram
financiamento de R$ 8,39
bilhões, totalizando mais
de 51 mil contratos
celebrados entre as
instituições financeiras e
os empresários.
Santa Catarina, que
teve acesso a um
montante um pouco
menor, de R$ 7,78
bilhões, firmou quatro
vezes mais acordos que
MT – mais de 211 mil.
Os valores indicam
que o acesso ao crédito
pode ser mais difícil para
os pequenos
empreendedores, que não
possuem tantos recursos
disponíveis quanto os
grandes fazendeiros e
investidores do campo.
Osvaldo Pasqualotto
é produtor em
Rondonópolis (216 km de
Cuiabá). Ele afirma que
as taxas de juros
proporcionadas pelas
principais linhas de
financiamento para
maquinários agrícolas,
como o Fundo
Constitucional de
Financiamento do
Centro-Oeste (FCO), o
Finame Rural PSI
(Programa de
Sustentação do
Investimento) e o
Moderfrota, por exemplo,
são atraentes, mas
pondera que os
agricultores de menor
porte geralmente
encontram dificuldades
para atender às
exigências das
instituições financeiras.
“Alguns produtores
conseguem adquirir
facilmente os
maquinários agrícolas
para trabalhar em suas
lavouras. Muitos outros,
no entanto, não estão
tendo acesso ao crédito,
devido a pendências
financeiras com os
bancos e exigências
ambientais”, diz ele.
Entre as principais
linhas de financiamento,
o FCO, o Finame Rural
PSI e o Moderfrota
destinam-se à aquisição
de maquinários agrícolas
(ver quadro abaixo). As
taxas variam de acordo
com o porte do produtor
– mini, pequeno,
pequeno-médio, médio e
grande – além de outros
fatores, como
adimplência dos
contratantes desses
empréstimos.
A analista de política
agrícola da Famato,
Karine Gomes Machado,
pontua as diferenças
entre os investidores
agrícolas em relação aos
ganhos. Segundo ela,
aqueles que possuem
faturamento bruto anual
até R$ 360 mil são
considerados “mini”,
seguidos pelos
“pequenos”, que faturam
entre R$ 360 mil e R$ 3,6
Fonte: Banco do Brasil
milhões. Há também o
“pequeno-médio”, que
ganha entre R$ 3,6
milhões e R$ 16 milhões,
o “médio”, que
anualmente possui
rendimento que varia de
R$ 16 milhões e R$ 90
milhões e, por fim, o
grande produtor, que
consegue extrair de suas
terras valores que
ultrapassam R$ 90
milhões, todos os anos.
Apesar de considerar
as taxas atraentes, e
reconhecer que, desde
2009, o Governo Federal
vem baixando os juros do
crédito agrícola para
incentivar o consumo,
Karine afirma que há
previsão de alta em 2014
nas linhas de
financiamento. Ela
pondera, contudo, que o
sindicato está em
constante negociação
com instituições públicas
e privadas e que existe
até a possibilidade de
retrocesso dos encargos.
“Estamos em
constante negociação e
não descartamos a
possibilidade de as taxas
de juros retornaram a
patamares mais baixos
num eventual acréscimo
desse valores”.
Pequenos produtores têm dificuldade de acesso a crédito e financiamentos
Pesquisador diz que antecipar a dessecação
do grão pode gerar perdas aos produtores