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CIRCUITOMATOGROSSO
PANORAMA
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CUIABÁ, 30 DE JANEIRO A 5 DE FEVEREIRO DE 2014
DEPRESSÃO
Doença afeta 36 milhões no país
Considerada o mal do século, a depressão causa perda da qualidade de vida e é mais comum entre as mulheres
Camila Ribeiro
Desânimo, tristeza,
falta de energia e de
apetite, dores sem
explicações clínicas,
estresse, ansiedade,
alterações no sono,
inquietação, excesso de
preocupação,
pessimismo, enfim,
rapidamente é possível
citar uma infinidade de
prejuízos físicos e
emocionais causados pela
depressão. Classificada
por muitos especialistas
como o mal do século, a
doença é mais comum
entre as mulheres e afeta
36 milhões de pessoas no
Brasil, segundo a
Organização Mundial da
Saúde (OMS). Os dados
da OMS são ainda mais
alarmantes quando
apontam para o fato de
que, no ano de 2020, a
depressão será tão
comum quanto uma
simples dor nas costas.
Hoje, a depressão é a
segunda maior causadora
da perda da qualidade de
vida e pode ser
desencadeada por uma
predisposição genética
ou, ainda, por um
conjunto de situações de
perda ou tristeza
profunda enfrentada por
aqueles que são
acometidos pela doença.
Algumas teorias explicam
que tais fatores podem
provocar uma disfunção
no sistema nervoso
central, que
consequentemente
desequilibra as
concentrações de
serotonina e da
noradrenalina,
responsáveis pelo
aparecimento dos
sintomas da doença.
POR QUE AS
MULHERES
ESTÃO MAIS
SUSCETÍVEIS?
Pesquisas apontam
que as mulheres são o
‘alvo predileto’ da
depressão. Estudiosos
acreditam que isso
pode ser explicado,
entre outros fatores,
por conta do lugar da
mulher na sociedade
hoje. Basta analisar,
por exemplo, o fato de
que grande parte das
mulheres atualmente
tem de trabalhar,
desempenhar o papel de
mãe, de dona de casa,
e não obstante, ainda
precisa estar bela e
elegante. “Existe um
peso muito grande no
lugar da mulher hoje e
que não é culpa de
ninguém. Na realidade
é nosso modo de vida e
que consiste num fator
de risco para a mulher.
Prova disso é que
existe um grande
número de mulheres
com depressão.
Considerando ainda que
a mulher por essência é
mais afetiva, mais
ligada ao mundo
emocional, os homens
têm uma característica
mais racional. E isto se
torna de fato um peso
muito grande para a
mulher, ter que dar
conta de tudo isso”,
sintetiza Mara Tondim.
Depressão pode ser um
conflito com ‘o próprio eu’
A depressão é considerada uma doença de várias faces
e analisada de diferentes pontos de vista. Do lado
espiritual, por exemplo, a doença é vista como um
distanciamento de si próprio e de Deus, como explica a
presidente da Associação Espírita de Mato Grosso, Luiza
Leontina Andrade Ribeiro. “Atualmente a sociedade é
muito materialista, busca-se o consumo e com isso, as
pessoas acabam se distanciando de si mesmas”, alega.
Segundo a presidente, o espiritismo classifica a
depressão como uma doença das emoções e da alma,
configurando-se não somente uma doença física mas
também uma questão espiritual. Luiza alega ainda que o
mundo está no ápice de um desenvolvimento tecnológico e
científico, mas por trás de todo esse cenário muitos ainda
têm dificuldades para lidar com pequenas situações
emocionais, o que ela classifica como dificuldade para
lidar com o ‘próprio eu’.
Tal dificuldade, somada ao estado emocional da
pessoa e aos pensamentos por ela cultivados, contribui
para que a depressão aconteça. Segundo Luiza Leontina, o
espiritismo defende um tratamento amparado também na
terapia espírita, para que as pessoas compreendam que os
valores materialistas não podem se sobressair às questões
espirituais, “já que estamos utilizando esse corpo
temporariamente, temos a certeza da imortalidade da alma
e, por isso, devemos buscar esse foco espiritual”, defende.
“Entrei em um vazio que
não via nem sentia nada”
Fotos: Mary Juruna
Casada com um
dinamarquês, a mato-
grossense Laura Pedersen
deu à luz a seu primeiro
filho, uma menina
chamada Michelle, no país
de origem de seu esposo.
Os problemas começaram
desde a gestação – quando
ela teve pressão alta – e
não pararam por aí. A
brasileira lembra que teve
muitas dificuldades
também durante o
nascimento da criança, já
que na Dinamarca o
trabalho de parto acontece
de forma bem natural, sem
qualquer anestesia. Laura
conta que a pequena
Michele nasceu após 11
horas de trabalho de parto.
Segundo ela, com o
nascimento de sua filha,
vieram os primeiros lapsos
de memória, junto a
espasmos nervosos. Ela
diz, no entanto, não se
recordar de nada. “Meu
marido me conta que eu
tremia muito, mas na
realidade eu não me
recordo de nada”, diz ela
ao se lembrar que passou
por dois meses de
profunda depressão pós-
parto.
Laura diz ainda
acreditar que um dos
agravantes da doença foi o
fato de ela não ter
conseguido amamentar sua
filha. Não bastasse a
dificuldade na
amamentação, os médicos
e enfermeiros ainda a
“crucificaram” por ter
feito uma plástica de
redução de mama. “Elas
forçavam para que eu
amamentasse o bebê e me
criticaram por ter feito a
cirurgia, alegando que este
seria o motivo de eu não
estar conseguindo dar leite
à criança”, lembra.
Ela se recorda, ainda,
do dia em que os
enfermeiros faziam o
bombeamento da mama,
mas ao invés de leite saía
apenas sangue. Neste
momento, o esposo de
Laura resolveu levá-la pra
casa. Em decorrência
desses problemas, Laura
conta que passou a sentir
um vazio profundo. “Eu
já não via mais nada,
entrei em um vazio que
não via, ouvia ou sentia
nada. Eu já não
conversava, a neném
chorava e eu nem ouvia.
Já em casa, meu marido
teve que assumir
praticamente tudo e cuidar
da nossa bebê”.
Laura cita ainda,
como um dos
complicadores para a
depressão a que foi
acometida, o fato de
estar distante de sua
família, de seu país de
origem e por fim, ao fato
de que, segundo ela, à
época, a depressão na
Dinamarca era tida como
‘frescura’. Felizmente,
Laura recebeu muito
carinho e atenção do
esposo, que a animava
dizendo que em breve
eles estariam no Brasil.
“Aos poucos fui
melhorando. Depois de
algum tempo viemos para
o Brasil. Hoje minha filha
tem nove anos de idade,
tive também o Jonas, um
cuiabaninho que já está
com quatro anos e
felizmente não tive
depressão pós-parto
nesta segunda gestação”.
A psicóloga Mara
Tondim explica que o
parto é uma mudança de
vida para a pessoa, é um
momento de adaptação que
pode provocar e produzir
essas alterações, tanto em
nível emocional como
fisiológico. “A depressão
pós-parto precisa ser
atendida tão logo apareça,
para que a mulher não
perca os primeiros
momentos com a criança,
que são tão importantes
para a construção dos
laços afetivos mãe-filho e
que são fundamentais e
estruturantes para a
criança e para a mãe”.
A psicóloga Mara
Cristina Tondim ressalta
que quando se fala em
depressão, deve ser
analisada a vida social que
levamos hoje. Segundo
ela, o mundo atualmente
exige que as pessoas
sejam bem-sucedidas e
estejam sempre muito
felizes, de forma que elas
cuidem de tudo aquilo que
é objetivo (trabalho, o
desempenho de suas
funções) e deixem de lado
as questões subjetivas.
Neste aspecto,
segundo a profissional, as
pessoas não se permitem
mais um momento de
introspectividade, não se
permitem mais refletir,
estar tristes, seja por um
ou dois dias. “Então,
existe a depressão que é
real, que é um problema
de saúde, e existe a
depressão criada
socialmente, que é essa
exigência social de ser
feliz o tempo todo e de
nunca conseguirmos lidar
com a tristeza e a
frustração”, explica Mara.
A psicóloga pontua
que um dos fortes
aspectos que, somados a
outros fatores, pode
culminar em casos graves
de depressão é a atual
fragilidade dos laços
afetivos. Ela destaca que
muitos estudiosos
afirmam isto com
veemência e, no próprio
exercício da profissão, é
possível perceber que
grande parte dos casos de
depressão está associada
a uma queda muito grande
da afetividade. “A gente
vive num mundo em que
não se conserta mais
nada, porque a gente
compra e põe fora. As
coisas e as pessoas se
tornaram descartáveis,
mas chega uma hora que
nós não conseguimos
mais lidar com isso
porque nós precisamos do
afeto. Tudo que é bem
material não é suficiente
para substituir aquilo que
é estruturante, que é do
afeto, do amor, do
carinho, da proteção”,
afirma.
Mara destaca também
o fato de a doença ainda
ser vista com muito
preconceito. De acordo
com ela, isso se credita
ao fato de que, quando se
fala em doença, as
pessoas quererem logo
‘visualizar o problema’,
ou seja, se procura uma
inflamação, um exame
clínico que ateste a
enfermidade. No entanto,
a depressão se caracteriza
por uma disfunção
cerebral que tende a
mudar o comportamento
das pessoas. É neste
momento, que segundo a
psicóloga, a doença pode
ser interpretada
erroneamente e muitos
passam a alegar que a
pessoa depressiva é
mimada, está com
“frescura” ou
simplesmente querendo
chamar atenção.
“É preciso entender
que a depressão não é
uma bobagem, é uma
patologia séria, que
precisa do tratamento
adequado, caso contrário
pode comprometer a vida
social, a vida psíquica e a
vida física (o corpo) da
pessoa. Muitos dizem que
tudo pode ser resolvido
com uma ida ao shopping,
com uma viagem, mas só
trará uma felicidade
momentânea”, explica a
profissional.
De acordo com Mara
Tondim, a depressão não
pode ser tratada de forma
generalizada, já que cada
indivíduo apresenta
comportamentos
diferenciados. Segundo
ela, o tratamento é
indispensável, já que uma
leve depressão pode se
constituir num transtorno
mental severo. Por fim,
ela argumenta que é
indispensável o
acompanhamento médico,
aliado ao tratamento
medicamentoso.
Adepressão gera danos físicos ementais e é a segundamaior causadora da perda da qualidade de vida
Segundo Mara Tondin, muitos casos da doença
estão associados à fragilidade dos laços afetivos
Do ponto de vista espírita, as pessoas têm muitas
dificuldades para lidar com pequenas situações emocionais
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