CUIABÁ, 25 A 31 DE JULHO DE 2013
CULTURA
Por Luiz Marchetti
Fotos: José Medeiros
e Luiz Marchetti
Luiz Marchetti é
cineasta cuiabano,
mestre em design em arte
midia, atuante na cultura de
Mato Grosso e é careca.
O OLHAR
CACIQUE
Sim, eu concordo, o tema ajuda, e muito,
mas convenhamos, as fotografias de JOSÉ
MEDEIROS possuem um desenho de luz que
até mesmo se não fossem índios, seriam obras
de extrema delicadeza. O registro destas
culturas indígenas é rico porque a sensibilidade
e a técnica desse artista são realmente ímpares.
As fotografias que José Medeiros apresenta em
BATARRA são belíssimas, no jogo do claro-
escuro em preto e branco, ou nas imagens
coloridas. Qualquer fotografia ali na exposição
é realmente uma obra-prima.
O fotógrafo foi premiado em 1
o
lugar no
IIF – Instituto Internacional de Fotografia/São
Paulo e no principal concurso brasileiro de
fotografia com 2
o
e 3
o
lugares do 10
o
Concurso
Leica-Fotografa, em junho, na mostra
fotográfica com 20 obras no Festival da
Amazônia, em Algarve, Portugal. E agora em
setembro participa do Brazilian Photojournalists,
uma mostra coletiva com os 22 principais
fotojornalistas brasileiros, com abertura na sede
das Nações Unidas, em Nova York, e seguindo
para Seatle, Miami, Los Angeles e Washington.
Se você ainda não teve a oportunidade de
ver a exposição BATARRA na CASA DO
PARQUE, aproveite e leve a família inteira.
Atenção nos registros de José Medeiros, o
fotógrafo amigo das diferentes tribos, o artista
que freqüenta comunidades indígenas com
frequência e talento para sempre trazer novos
olhares numa cultura que muitos acham que
parou no tempo, mas como o próprio
fotógrafo sabe, também está em mutação,
dialogando com a paisagem e o famigerado
mundo dos consumidores, cada vez mais
próximo.
Sempre que vejo os registros de José
Medeiros me surpreendo pela maneira de
inovar um tema tão exaustivamente batido,
tão amplamente fotografado. Medeiros
consegue essa façanha e outras. Vale a pena
lembrar que, para alguns, índio ser
fotografado significa perder a alma para a
câmera. E até com esse mito José Medeiros
sabe lidar com irreverência, pois muitas vezes
vemos sinal de extrema amizade entre essas
pessoas registradas e o fotógrafo.
A Exposição Batarra aguarda sua visita
e, caso queira conhecer outras obras deste
premiado artista, visite o site abaixo ou faça
uma visita ao novo ateliê de José Medeiros,
na Praça da Mandioca, Centro Histórico de
Cuiabá. Você vai gostar. Não bastasse ser
talentoso e extremamente profissional, eis
aqui um dos mais simpáticos artistas do
Estado, para conhecer de perto sua prática e
levantar um projeto com sua assinatura.
www. f o t osda t e r r a . com
Agência de Fotografia &
Banco de Imagens
INFO: (65) 3054 1080 e
65 8114 0312
j osemede i ros imagem.wordpr es s . com
A ÁRVORE CELESTIAL NAMBIQUARA
Anna Maria Costa
chegou às terras
Nambiquara na primavera
de 1982. De lá para cá, são
tempos ímpares de
convivência e de
aprendizagem junto aos
índios que lhe contaram
tantas e tantas histórias ao
redor da fogueira, em noites
de “Lua Perdida” (Nova),
“Lua Pendurada” (Quarto
Crescente), “Lua Redonda”
(Cheia) e “Lua Incompleta”
(Quarto Minguante). Foi
numa noite dessas que ela
aprendeu que “há mais
coisas entre o Céu e a Terra
do que supõe nossa vã
filosofia”.
O povo Nambiquara
vive atualmente nos estados
de Mato Grosso e Rondônia,
na fronteira do Brasil com a
Bolívia, na Amazônia Legal.
Acreditam os índios que na
abóbada celestial existe uma
enorme figueira,
Haluhalunekisu, de imensas
raízes que envolvem a terra
de todos os homens. Halu,
halu representa o choro da
mulher-espírito, dona da
figueira nativa, encontrada
nas florestas do território
Nambiquara; nekisu significa
árvore. Assim,
Haluhalunekisu é a “Árvore
do choro”. Dauasununsu, ser
sobrenatural, conhecedor de
todas as coisas, reina nesse
frondoso vegetal de copa
verdejante. Mas não está só:
em seus galhos vivem as
aves curiangos, tesoureiros
grandes e tesoureiros
pequenos. No começo da
estação chuvosa frequentam
a terra para procriar e
somente quando as asas de
seus filhotes estão crescidas e
emplumadas o suficiente
para voar, o bando retorna
à árvore celestial. Além
desses pássaros, existem as
libélulas, encarregadas por
Dauasununsu de fazer
chover. Nas ramagens de
Haluhalunekisu vive também
um gavião, ave de rapina
que constrói seu ninho feito
de ossos e cabelos humanos.
É temida tanto por aqueles
pássaros e insetos moradores
da figueira quanto pelos
experientes pajés, os únicos
que podem enxergar suas
raízes e que precisam
frequentar a árvore com
regularidade. Ao seguir por
suas imensas raízes, caminho
inversamente percorrido
pelos raios, os pajés
conseguem atingir a copa
da árvore, a fim de renovar
seus poderes espirituais junto
a Dauasununsu, momento
em que também são
presenteados com novos
nomes para dar às crianças
que estão para nascer.
Na concepção
Nambiquara, a narigueira
emplumada representa o
gavião, morador da árvore
celestial. Possuidor de
forças inumanas, ao ceder
uma de suas penas, a ave
transfere poderes ao pajé
que, ao ornar-se com tal
atavio, passa a ter o
privilégio de voar e chegar
até Haluhalunekisu. Ao
retornar com mais forças,
tem condições de combater
as ações dos espíritos
malfeitores que
costumeiramente
alimentam-se das enormes
raízes suspensas, com o
propósito de impedir o
encontro do pajé com
Dauasununsu. Para o
Nambiquara, o equilíbrio
da vida depende do
trabalho de purificação da
figueira celestial. Essa
tarefa é instigada pelo
repertório musical do pajé,
entoado nas sessões
noturnas de cura. Cantam
os índios: “O filhote de
gavião está chorando
porque debaixo dela está
muito sujo”. Essa impureza
refere-se aos desacertos
relacionados às atitudes
humanas. Mas proporcionar
harmonia à aldeia não é
uma atribuição específica
dos pajés. Todos têm a
responsabilidade de trazer
alegria ao espaço aldeão.
Dessa forma, podem
impedir que as folhas da
figueira percam sua cor
verdejante, ressequem e
caiam sobre a aldeia, sinais
de desagrado de
Dauasununsu. É importante
que satisfaçam seus desejos
de alegria, bondade e
beleza. Caso contrário,
castigará a todos,
indistintamente, com a
escuridão.
A Casa do Parque,
cada vez mais, é palco de ótima programação
musical e agora t raz com exclusividade o mais novo espetáculo da consagrada
Cia. Sinfôinca. É a vez da JAZZ BAND, com seis integrantes, reverberar os mais
célebres
hi ts
do Jazz para uma plateia seleta e l imi tada. Será dia 1
o
de Agosto,
5
a
fei ra. Reservas e Informações: 3365.4789 / 8116.8083
1...,2,3,4-5,6,7,8,9,10,11,12 14,15,16,17,18,19,20