CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 25 A 31 DE JULHO DE 2013
CULTURA EM CIRCUITO
PG 4
OS FILHOS DE WASHINGTON
CALDO CULTURAL
Por João Manteufel Jr
or
n
Jr.
João Carlos Manteufel,
mais conhecido como João
Gordo, é um dos publicitários
mais premiados de Cuiabá
ANTES DA MEIA-NOITE
Ligue: (65) 3023-5151
É impressionante como a
propaganda faz parte da vida
moderna. Ou pelo menos fazia.
Entrevistando alguns dos melhores
publicitários do estado para um
programa que fala sobre criatividade,
descobri que, assim como eu, muitas
pessoas tiveram sua infância marcada
por uma propaganda. Quem não
lembra a poética “Meu primeiro
sutiã”. O filme uma menina da escola
se sentia diferente das outras por não
ter um sutiã. E assim que ela chega
em casa, tem um sutiã novinho em
cima da mesa. Ou do jingle da Varig
“Voando a jato pelo céu...”, ou do
Banco Nacional “Um Natal, um feliz
Natal, com amor e paz pra vocÊ...
pra vocêêê... e essa então: numa
folha qualquer eu desenho um sol
amarelo. Toda criança da minha
época lembra de Bombril, lembra da
Estrela, não esquece a Caloi.
Antigamente construíamos marcas.
Transformávamos uma geladeira em
frigider. Uma goma de mascar em
Chiclete. Bastonete de algodão em
Cotonete. Publicidade e arte se
confundiam e entravam
intrinsecamente na carne dos
consumidores. Cada briefing era
tratado como uma chance de se
eternizar. Mas hoje tudo mudou. A
propaganda virou negócio. Quanto
mais rápido veicularmos, mais
rápido vamos lucrar. O medo de
perder dinheiro dos negócios
transformou o horário comercial de
TV numa grande feira livre onde
cada um grita seu preço. Aliás, se
me permitem a sinceridade, até as
feiras são mais criativas. E o
consumidor sente isso.
Com o advento da televisão a
cabo, o telespectador virou um
especialista em filmes de
publicidade. Assiste em média 80
comerciais por dia. E todos se
baseiam ou em ideias fúteis, ou
principalmente o preço. Pense
rápido. Qual propaganda atual que
nunca mais você vai esquecer? A
necessidade de não falhar está
matando a poesia. Sim, amigos.
Propaganda precisa de poesia.
Precisa contar uma história com
início, meio e fim. Uma propaganda
precisa transformar um simples
objeto em símbolo.
A culpa não é só das agências. A
culpa também é de quem paga.
Uma boa propaganda provém de
um bom cliente. Cada dia é mais
raro encontrar clientes que queiram
apostar em criatividade, que queiram
pensar fora da caixa, que entendam
o verdadeiro poder de uma
propaganda. Mas quem cobra tem
muita culpa nisso. Mídias com preços
estratosféricos impedem a empresa
média em investir em propaganda,
ou se investe não consegue ter
frequência. Alias frequência e
intensidade são o básico para o
sucesso de uma campanha. Você só
lembra do jingle Pipoca e Guaraná
porque escutou e viu ele na TV um
milhão de vezes. A empresa pequena
então, está refém das mídias sociais.
Hoje rádio virou produto elitizado.
Mas eu acredito no poder da
propaganda. Acredito que a
qualidade vencerá. Acredito que
Washington Olivetto vai inspirar mais
que Justus, acredito que a arte é a
melhor propaganda, acredito que o
marketing cultural será o condutor da
nova revolução.
Caio Porto Moussalem é
cinéfilo profissional... e sociólogo
nas horas vagas.
ARTE NÚMERO 7
Por Caio P
o ii
orto Moussalem
o
a
o
Antes da Meia-
Noite, de Richard
Linklater, é o último capítulo de uma
trilogia que começou em 1995 com
o filme
Antes do Amanhecer
e
continuou em 2004 com
Antes do
Pôr-do-Sol.
Há quase duas décadas
acompanhamos a história de Jesse
(Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy),
um jovem americano e uma jovem
francesa que, depois de viverem um
dia intenso e romântico em Viena, se
separam para nove anos depois se
encontrarem em Paris, onde Jesse –
agora casado, pai de um filho e
escritor famoso – está para uma
noite de autógrafos e leitura.
O fim inconclusivo do segundo
filme nos deixou sem saber se Jesse
e Celine tinham finalmente ficado
juntos, mas bem no começo desse
terceiro filme – que se passa nove
anos depois – o diretor
Richard Linklater vai direto
ao ponto: em uma cena
rápida, Jesse entra no
carro onde Celine o
esperava e a câmera vira
para o banco traseiro... e
lá estão as filhas gêmeas
do casal tirando um
cochilo. Linklater, Hawke e
Delpy sabem que o
relacionamento do público
com o casal é forte o
suficiente para dispensar
flash-backs e outras
explicações
desnecessárias.
A partir daí, esse filme
se desenrola com a mesma
naturalidade dos outros
dois. O trabalho dos atores
– que também colaboraram
no roteiro – é primoroso.
Os diálogos são tão
naturais que fica fácil nos
relacionarmos com os
desgastes comuns a esse
tipo de relacionamento... O
filme fala de amor sim,
mas com os dois pés no
chão. O produto final é
uma das mais realistas e
definitivas “fábulas de
amor ” do cinema.
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