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CUIABÁ, 27 DE JUNHO A 3 DE JULHO DE 2013
BIOCOMBUSTÍVEIS
Em tempos de pensamento global em favor da sustentabilidade, o Governo brasileiro vai na contramão e investe nos derivados do
petróleo. Por: Mayla Miranda. Fotos: Pedro Alves
Pré-sal massacra o setor do biodiesel
Enquanto o Brasil
busca investir cerca de R$93
bilhões dos US$236,7
bilhões previstos pela
Petrobras com a exploração
do pré-sal, o setor de
biodiesel, que agoniza na
pior crise da indústria
sucroalcooleira da história,
é deixado de lado pelo
governo federal. O país,
que já foi considerado o
líder em produção de
biocombustíveis, coleciona
prejuízos e o fechamento de
fábricas. O setor, que
apresentava 65% da matriz
de combustíveis brasileira,
amarga hoje 30% desta
representatividade. De
acordo com o presidente
do Sindicato das Indústrias
Sucroalcooleiras de Mato
Grosso (Sindalcool), Jorge
dos Santos, políticas
públicas conduzidas de
maneira equivocada estão
destruindo o setor que
representa um impacto
significativo na balança
comercial. Isso porque o
segmento gera mais de 1
milhão de postos de
trabalho diretos e cerca de
4 milhões indiretos no país,
e ainda reduz em 80% a
poluição por combustíveis
fósseis. “Indo na contramão
mundial, o Brasil criou uma
ilusão em relação ao pré-
Além da economia,
as indústrias de álcool
do estado também
investem em projetos
sociais nas cidades em
que estão instaladas.
Dentre as principais
iniciativas encabeçadas
pelos sindicatos, em
parceria com os
municípios, estão os
projetos de auxílio à
alfabetização nas
escolas de base, que
proporcionam melhor
qualidade de ensino a
mais de 4 mil pessoas.
Um bom exemplo é o
projeto desenvolvido pela
Barralcool, empresa que
tem o enfoque na área de
biodiesel e que
desenvolveu, junto à
comunidade e alunos das
escolas municipais, a
coleta de óleo de cozinha.
Com o incentivo, a
matéria-prima é
transformada em produtos
que são distribuídos à
comunidade e estimulam
a consciência ambiental
dos alunos.
No âmbito nacional,
Biocombustível é a solução
da energética do país
Outra grande
utilização para os
biocombustíveis
desperdiçada pelo
governo nacional é o seu
emprego na geração de
energia, indo contra o
resto do mundo, que está
incorporando em sua
matriz energética o
biocombustível. Apesar de
o megawatt ser o mesmo
produzido por outras fontes
não sustentáveis, o valor
pago pela mesma
quantidade do produto é
inferior. Outro ponto aqui
é que a carga tributaria do
biocombustível é maior do
que a dos combustíveis
fósseis.
“Nós temos condições
só no centro-sul de gerar
energia elétrica equivalente
a uma Itaipu, só com o
bagaço de cana, no
momento mais importante
da necessidade que é em
novembro e dezembro que
é o tempo da seca. Aí o
governo entende que não
precisa pagar pela energia
elétrica derivada da
biomassa o mesmo que
paga para as outras
fontes. Por quê? Como o
governo não enxerga o
todo, ele não consegue
perceber o erro e o
desperdício”, alerta Jorge
dos Santos.
A proximidade das
indústrias sucroalcooleiras
com as cidades também é
um fator que beneficia a
distribuição de energia
deste setor. Já em relação
aos investimentos na
geração de energia
eólica, algumas usinas
estão prontas, mas não
estão entregando a
energia, já que as redes
de transmissão entre a
usina e as cidades não
foram construídas,
segundo o presidente do
sindicato. A saída, para o
representante, é que o
governo veja a
possibilidade de ganho
do setor no mix de
oportunidades que eles
oferecem.
Projetos sociais geridos pela indústria
que congrega os
sindicatos e as grandes
empresas do setor, está
em ação o projeto
“Municípios Canavieiros”,
em que três municípios de
cada estado são
selecionados para receber
ações efetivas de
educação e
conscientização ambiental.
Juntamente com os alunos
da rede municipal,
diversos trabalhos são
realizados, e os melhores
são selecionados e
transformados em uma
cartilha que é distribuída
nacionalmente, ajudando
inclusive a promover e
valorizar a comunidade.
Já na qualificação
profissional, uma parceria
com o sistema “S” garante
cursos totalmente gratuitos
voltados à comunidade
com diversas opções de
cursos, que vão além das
necessidades da indústria,
formando pedreiros,
padeiros e outros. Muitos
dos alunos já começam o
curso trabalhando no setor
escolhido.
Outro bom exemplo
de projeto social está
funcionando em Nova
Olímpia: chama-se
Mulheres de Fibra. As
artesãs utilizam a o
bagaço de cana para
fazer uma espécie de
papelão e transformar em
artesanato decorativo,
como vasos de plantas,
luminárias e outros. Além
do reaproveitamento, o
projeto também garante
boa renda à
comunidade.
Em Mato Grosso, o
impacto gerado pela
situação ruim das
indústrias pode ser ainda
pior. Somente no estado
são gerados mais de 16
mil empregos diretos e
praticamente o dobro de
indiretos, sendo que o
salário médio desses
trabalhadores gira em
torno de R$1.300.
Levando-se em
consideração que maioria
das indústrias se localiza
no interior do estado
(onde muitas chegam a
representar 90% da
atividade econômica do
município), a falência da
indústria pode causar um
grande dano à economia
local.
Indústrias à beira da falência e MT sem empregos
“Se há um setor que
avançou em
sustentabilidade nos
últimos 20 anos foi o
nosso, temos hoje o
melhor salário médio da
agroindústria e também
sindicatos de
trabalhadores atuantes.
Não se vê mais falar em
impactos ambientais nem
sociais gerados pelas
indústrias sucroalcooleiras,
e somos considerados de
extrema importância na
economia local”, pontua o
presidente do Sindalcool.
Ainda de acordo com
Jorge dos Santos, as
indústrias não fecharam
porque os seus
proprietários não vivem
exclusivamente do setor. O
erro, ainda segundo o
representante, está na
falta de visão política do
problema total enfrentado
pelas indústrias, que
deveriam ser tratadas de
maneira no mínimo
igualitária em relação às
políticas destinadas à
gasolina.
“Se esta discrepância
continuar, não haverá
saída para o setor. Caso
uma empresa do porte da
Brenco fechar, por
exemplo, são menos
2.500 empregos. Eles (os
políticos) não pensam
nos valores dos impostos
gerados decorrentes das
atividades econômicas
ligadas ao setor e,
principalmente, no
impacto social para a
população. Só queremos
ser tratados de maneira
igualitária”, garante o
representante.
Somente em Mato
Grosso, de acordo com o
Sindalcool, a produção
em 2012 foi de 973
milhões de litros de etanol,
e este ano deve chegar a
1.040 bilhão de litros –
um acréscimo de 6,8%.
Quanto ao açúcar, Santos
afirma que a produção
também foi um pouco
maior em função da
quebra da safra em 2011.
“Nós produzimos mais
açúcar para recompor
estoques. Volta para 420
mil toneladas em 2013,
ante 490 mil em 2012”.
sal e abandonou o setor de
biocombustíveis. Nós vemos
a nossa presidente Dilma
Rousseff discutindo os
royalties do pré-sal
enquanto abandona a
indústria que é intensiva de
mão de obra e de capital,
fazendo desaparecer todas
as políticas públicas do
setor”, declara Jorge dos
Santos, indignado.
Derrubando o principal
argumento do governo para
o investimento nos
combustíveis fósseis, o
representante afirma que
mesmo que haja um acesso
representável ao petróleo
do pré-sal – que é
considerado de alta
complexidade e de alto
custo, principalmente por
conta das distâncias da
bacia de armazenamento –,
o país não tem condições
de realizar o refino do
combustível, para
transformá-lo em gasolina.
Desta forma, o discurso de
autossustentabilidade cai
por terra.
“Se contarmos que a
última refinaria construída
no país foi há 32 anos, e
que a refinaria de Abreu e
Lima, em construção em
Pernambuco, deveria ter
ficado pronta em 2012 (e
agora a previsão é que
termine em 2016, com o
preço cinco vezes maior do
que o original), vamos
perceber que este discurso é
puramente político”, pontua.
Outro ponto que
enfraquece as indústrias de
biocombustível são as
decisões políticas de
manutenção do preço da
gasolina, subsidiada pelo
Estado, para que não haja
um impacto direto na
inflação do país. O mesmo
não acontece com o álcool,
levando-se em
consideração que o
biocombustível tem que
custar até 70% do valor da
gasolina. Com mais custos
de produção e de mão de
obra, e sem subsídios, não
há expectativa de
recuperação do setor.
”O problema é que
os defensivos agrícolas
sobem de preço, os
fertilizantes sobem de preço
e a mão de obra, no
mínimo, sofre o impacto da
inflação, que este ano foi
de 7%. Então não tem como
competir com um produto
de custo com um produto
político”, enfatiza o
presidente do Sindalcool.
Além de todos esses
fatores, o agravante da
falta de logística fecha o
cenário desolador, já que
as indústrias do estado
ficam a mais de 2 mil km
dos portos, deixando
inviáveis maiores
investimentos para o
aumento da produção.
De c i s õe s po l í t i c a s e s t a r i am en f r aque c endo a s
i ndú s t r i a s de b i ocombu s t í v e l de t odo o pa í s
A p r odução em Ma t o Gr os so , somen t e em 2012 ,
f o i de 973 mi l hões de l i t r os de e t ano l
Ma t o Gr os so ge r a em t o r no de 16 mi l emp r egos
d i r e t o s no s e t o r s u c r oa l coo l e i r o
Jo r ge dos San t os , p r e s i den t e do S i nda l coo l ,
r es sa l t a pape l soc i a l das empr esas do se t or em MT