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POLÍTICA
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CUIABÁ, 27 DE JUNHO A 3 DE JULHO DE 2013
VALE DO ARAGUAIA
‘Vale dos Esquecidos’ pelo governo estadual poderia ser mais eficiente com ações concretas e necessárias. Por: Rita Anibal
Região desperta para suas vocações
A parte norte do
Araguaia, que ficou
conhecida por “Vale dos
Esquecidos”, sofreu uma
mudança nos últimos dez
anos, senão pela classe
política, mas principalmente
pela insistência e
determinação do povo da
região. Tendo a pecuária
como carro-chefe, a soja e
o calcário são de vital
importância para o
desenvolvimento do extremo
nordeste de Mato Grosso. A
partir do início deste século,
com a melhoria dos preços
da soja, a agricultura passa
a ter acelerado crescimento
e ser bastante representativa
na economia do vale que
também se destaca como
referência em
comercialização de bovinos
com o maior leilão de gado
do mundo, em Água Boa, a
745 km de Cuiabá. Essas
intensas atividades
explicam, por si sós, a
impulsão desenvolvimentista
que ocorreu na região nos
últimos anos. Mas, para se
transformar no novo “Vale
da Prosperidade”, ainda
enfrenta grandes desafios.
Além do setor
produtivo, destaca-se com
áreas naturais de infinita
beleza, tendo o rio
Araguaia como propulsor
do turismo com suas praias
fluviais que despertam
grande procura na época
da vazante. Visitantes do
Brasil todo e alguns
estrangeiros procuram a
região para desfrutar das
belezas naturais. O pôr do
sol visto das margens do rio
Araguaia é uma das
imagens mais belas
captadas por turistas e
veículos de comunicação.
Suiá-Missú: retrato da
inoperância dos governos
A atuação direta dos
governos federal e estadual
implicou num “calcanhar-de-
aquiles” na região. Durante o
governo militar, os índios
xavantes que habitavam
Suiá-Missú foram deslocados
para o Território Indígena de
Maraiwatséde, em Alto Boa
Vista (1.065 km de Cuiabá).
Depois de uma epidemia de
sarampo que provocou a
morte de mais de 70
xavantes, eles resolveram
ocupar as terras de Suiá-
Missú, seu território original,
mas que estava ocupada por
posseiros incentivados pelo
governo federal para a
colonização e o
desenvolvimento do nordeste
de Mato Grosso. Essa volta
provoca um imbróglio que
não foi resolvido até hoje. De
um lado, os xavantes,
oriundos naturais da terra; de
outro, pequenos lavradores
que investiram sua vida para
produzir e enriquecer a
economia há mais de 30 ou
40 anos.
Por decisão do Tribunal
Regional Federal da 1ª
Região (TRF-1) pela
desinclusão imediata dos
fazendeiros e pequenos
produtores da reserva dos
xavantes, o conflito
estabeleceu-se e ambas as
partes estão insatisfeitas e
levando todos a vidas
miseráveis. Os índios
acuados numa pequena
parte da área e sem
condições de impor
produtividade às terras; os
pequenos agricultores
jogados às margens da BR-
158, em galpões cedidos
pelas igrejas, ou em
loteamentos cedidos por
municípios sem nenhuma
infraestrutura, provocando
uma miserabilidade geral
entre eles.
O impasse está longe de
ser resolvido. Some-se à
ineficácia da Fundação
Nacional do Índio (Funai) a
pouca atuação de soluções
proativas dos governos
estadual e federal. Os
indígenas e posseiros foram
jogados numa luta desigual
pela sobrevivência, reclamam
todos os envolvidos.
Saúde e Educação
são setores cruciais
Questão crucial
em todo o Mato
Grosso, os setores da
Educação e Saúde
do Araguaia pedem
socorro: “O governo
estadual precisa
intensificar suas
ações na saúde. É
necessário, em
caráter de urgência,
a construção do
Hospital Regional de
Porto Alegre do
Norte, devidamente
aparelhado e,
sobretudo, que haja
pontualidade nos
repasses financeiros”,
cobra o presidente.
“Todo o norte do
Araguaia é
desprovido do serviço
de Unidade de
Terapia Intensiva
(UTI)”, denuncia o
presidente. No setor
educacional, Lazari
reclama que muitas
prefeituras ainda
terceirizam o
transporte de alunos
por não dispor de
ônibus suficientes
para atender a sua
demanda.
Reclamação que há,
também, no serviço
de telefonia móvel e
internet, cujo serviço
oferecido aos
moradores é muito
precário. Lazari cobra
um plano diretor
para a região como
um todo: “O Estado
precisa se fazer
presente através de
políticas em todos
os setores, a
exemplo do turismo.
Temos vários
municípios com forte
vocação turística,
porém carentes de
uma política
permanente para o
incremento dessa
atividade que tem se
destacado nos
últimos anos como
uma das mais
importantes
atividades
econômicas em todo
o mundo”.
“Bola da vez”, Araguaia cobra mais atuação
Considerada na
atualidade a bola da
vez, a região do
Araguaia conta com
6,9 milhões de
hectares reservados à
pecuária e 3,1 milhões
de hectares favoráveis
ao plantio de grãos, e
já é a maior área do
estado dedicada aos
setores. Como a
última fronteira
agrícola de Mato
Grosso e com os olhos
do agronegócio
voltados para o
Araguaia, os prefeitos
cobram uma ação
mais efetiva do
governo.
Gaspar Domingos
Lazari, prefeito de
Confresa e presidente
da Associação dos
Municípios do Norte
Araguaia (AMNA) – e
que acaba
representando 21
municípios da
macrorregião –, diz
que “o principal
mandamento é fazer
valer a voz do
Araguaia junto aos
governos estadual e
federal e fortalecer a
região”. Lazari cobra
uma ação mais
contundente
principalmente do
governo estadual.
Percebendo esse
potencial, grandes
grupos de investidores
têm chegado à região
e o Araguaia precisa,
agora mais do que
nunca, de investimentos
dos governos federal e
estadual,
proporcionando mais
infraestrutura,
principalmente em
logística de transportes.
Ele cobra a
conclusão da BR-158,
espinha dorsal que
corta a região de norte
a sul, mas lembra que
há um emaranhado de
estradas estaduais na
região e por todas elas
se dá o escoamento de
safra. Lazari cobra
pontes definitivas de
concreto e “mais
investimentos em
aeroportos” pois é
preciso ampliar o
número de cidades
atendidas.
Mas não é difícil também
ver botos subindo
rapidamente para respirar,
gaivotas, mergulhões,
jacarés e até cardumes de
peixes subindo o rio durante
a piracema – período em
que é proibida a pesca de
qualquer espécie. Já três
espécies são proibidas de
serem pescadas em
qualquer época do ano:
pirarucu, pirarara e filhote.
Juntamente com o Javaés, o
rio forma a maior ilha fluvial
do mundo, a Ilha do
Bananal, onde estão
localizados o Parque
Nacional do Araguaia e o
Parque Indígena do
Araguaia.
Todo esse “boom” de
positividade é contrastado
com a atuação dos
governos estadual e federal.
Estradas em péssimas
condições, balsas para
travessia dos rios das Mortes
e Araguaia em estado de
precariedade absoluta,
questões fundiárias sérias
em que os poderes
constituídos pouco atuam
para encontrar soluções que
atendam de maneira justa
os envolvidos. Caso haja
essa positividade na
atuação política, o vale
deixará de ser “dos
Esquecidos” para ser o
“Vale da Prosperidade”,
segundo relato dos
moradores da região.
“A melhor coisa que
aconteceu nos últimos
tempos foi a chegada de
novas pessoas que
alavancaram,
principalmente, o comércio
do norte do Araguaia”, diz
a empresária Neila
Godinho, do ramo de
calcário, em Água Boa.
Grande defensora da
melhora na infraestrutura da
região, Neila destaca os
entraves para transformar o
Norte e Médio Araguaia na
região mais próspera do
estado de Mato Grosso.
Por ser desbravadora
que chegou para ajudar no
desenvolvimento do
Araguaia, Neila se diz
inconformada com a pífia
atuação dos governos
estaduais. “Hoje temos
estradas ainda em chão
batido que, nas chuvas, se
tornam verdadeiros
lamaçais; sete pontes
condenadas e inúmeras
outras quedas”, denuncia a
empresária.
Esse descaso com a
logística chega a onerar em
até 60% o preço do frete do
calcário e de outros
produtos, além “das balsas
em situação crítica para
escoamento da produção”,
relata Neila.
FERROVIA
Uma denúncia muito
séria é feita pela
empresária: “Pagamos
altos tributos e ainda
assumimos
responsabilidades do
governo estadual para
mantermos, pelo menos
transitáveis, nossas
estradas”. Está descrente
com a ferrovia anunciada
recentemente que irá cortar
a região: “Se espero as
pontes de concreto há mais
de dez anos, ferrovia, que
demanda altos custos e
projeto específico, deve
demorar uns 30”, afirma
Neila Godinho. Na outra
ponta, Luís Pichetti,
secretário de Administração
de Água Boa, garante: “A
ferrovia terá licitação do
projeto executivo no final
do ano e, no segundo
semestre de 2014,
começam as obras”. Um
ponto convergente entre o
secretário e a empresária é
o inoperante plano de
logística imposta pelos
governos. “Nossa região
tem no agronegócio sua
principal fonte e precisamos
de estradas e pontes para
escoar a produção”,
sentencia Pichetti.
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Cami nhão c a r r egado de c a l c á r i o
t omba em e s t r ada p r ecá r i a
Reg i ão de s pon t a como uma da s ma i o r e s
p r odu t o r a s de gado do E s t ado
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