CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 27 DE JUNHO A 3 DE JULHO DE 2013
ESPECIAL
P
G
4
Pressão popular já garantiu importantes mudanças na política nacional e o povo ainda quer ações mais enérgicas.
Por: Sandra Carvalho e Diego Frederici. Fotos: Pedro Alves
BASTA!
O grito do povo contra a corrupção
Em junho de 1968, 100 mil pessoas foram às
ruas do centro do Rio de Janeiro para a primeira
manifestação popular de resistência à ditadura
militar no Brasil. O povo cobrava democracia.
Agora, em junho de 2013, 45 anos depois, o
brasileiro volta às ruas para mostrar indignação,
reagir contra a corrupção. E a população mato-
grossense se junta ao coro. Em Cuiabá, milhares
foram às ruas no dia 20 para o grande protesto e
nelas ainda continuam se manifestando em busca
de seus direitos. “Basta!” é a palavra de ordem.
Para o doutor em Sociologia e coordenador do
Núcleo Interinstitucional de Estudo da Violência e da
Cidadania (NIEVCI) da Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT), Naldson Ramos da Costa, os
sucessivos governos democráticos, eleitos após a
ditadura, não conseguiram tirar toda a corrupção
existente nas estruturas institucionais. E a
precariedade dos serviços públicos motivou as
pessoas a irem para as ruas lutar por seus direitos.
“Essas manifestações foram superadas apenas
pelas Diretas Já, e marcam um momento muito
importante para a sociedade, que vivenciou longos
regimes de exceção com os governos ditatoriais”,
pontua o especialista, lembrando que governos
legitimamente eleitos, em pleitos limpos, vêm há
décadas frustrando a sociedade, que ainda espera
por serviços públicos – saúde, educação, transporte
e segurança – de qualidade. “A população quer
meios mais transparentes e eficientes de controle
fiscal”, diz ele.
Vilson Nery, um dos líderes do Movimento de
Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE),
comemorou a grande adesão dos mato-grossenses
à manifestação nacional e pontua alguns motivos
que favoreceram o cenário atual. “A corrupção no
serviço público e nos contratos com a administração
desviam bilhões de reais do dinheiro que seria
destinado a dar escolas com ensino de qualidade e
merenda decente para nossas crianças e jovens. A
corrupção desvia o sagrado dinheiro dos remédios e
hospitais para os cofres de empresas privadas
(geralmente de propriedade de políticos, seus
parentes ou correligionários)”, pontua o ativista.
“Esperamos que este seja apenas um começo e
que traga bons hábitos ao cenário político
brasileiro”, opina o juiz federal Julier Sebastião ao
comentar a grande onda de manifestações que
invade o país, especialmente contra a corrupção.
No que se refere à Copa 2014, que também
tem sido alvo de protestos, o magistrado observa
que esses questionamentos são válidos na medida
em que várias prioridades sociais do Brasil não têm
sido atendidas e os governos federal,
estaduais e municipais não têm investido. “Nosso
país tem, sim, condições de realizar um evento de
grande porte, ao mesmo tempo em que prioriza os
setores essenciais”.
As manifestações continuam em Cuiabá, no
interior do Estado e Brasil afora. A pressão popular
já levou o Governo Federal e o Congresso a
votarem, em caráter emergencial, medidas para
atender o clamor das ruas. A presidente Dilma
Rousseff anunciou que vai destinar 75% do pré-sal
para a educação e 25% para a saúde, o Senado
aprovou projeto que torna a corrupção
crime hediondo, e também foi anunciado um
plebiscito para definir as prioridades do
país. A PEC 37, que diminuía o poder do
Ministério Público, também foi reprovada.
“ Fr u s t r ada , a popu l a ç ão que r me i o s ma i s
t r an s pa r en t e s e e f i c i en t e s de con t r o l e f i s ca l ” .
Na l d s on Ramo s , dou t o r em Soc i o l og i a
“E s pe r amos que e s t e s e j a apena s um começo e
que t r aga bon s háb i t o s ao c ená r i o po l í t i co
b r a s i l e i r o ” .
J u l i e r Seba s t i ão da S i l v a , j u i z f ede r a l
O
Ci r cu i t o Ma t o Gr os so
t ambém f o i à s r ua s pa r a p r o t e s t a r con t r a a co r r upção , man t endo a me sma l i nha comba t i va imp r imi da em 10 anos de j o r na l i smo