CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 27 DE JUNHO A 3 DE JULHO DE 2013
POLÍTICA
P
G
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FALHA VLT
Falha de execução pode representar um risco ainda maior para as obras, já que pode significar incompetência na construção.
Por: Mayla Miranda. Fotos: Pedro Alves
Projeto executivo sob forte suspeita
Após várias tentativas de
minimizar a falha de 40 cm
apresentada em dois pilares
do viaduto da UFMT,
o Consórcio VLT Cuiabá -
Várzea Grande afirmou que
a falha consiste em um erro
exclusivamente de execução
da obra, e não na realização
do projeto. O tiro, no
entanto, parece ter saído pela
culatra, já que o Crea-MT
(Conselho Regional de
Engenharia e Agronomia de
Mato Grosso) assegura que
um erro de execução é ainda
mais grave que um erro no
projeto. De acordo com o
coordenador da Câmara de
Engenharia Civil do órgão,
Jesuel Alves de Almeida, a
postura do Consórcio pode
ser ainda um esforço para
esconder que a obra não tem
um projeto executivo.
“É muito difícil que um
engenheiro cometa um erro
deste nível na execução, já
que a medida de altura é
um ponto básico na
engenharia. Na verdade,
esta declaração pode ser
mesmo uma cortina de
fumaça para o projeto. Esta
obra ainda deve estar
sendo trabalhada com o
projeto-base apresentado
na concorrência, e não com
o projeto executivo, de
fato”, pontua. A declaração
do Consórcio ainda levanta
outros pontos bastante
polêmicos, já que no
certame foi exigido que os
Após as declarações
do professor Luiz Miguel
de Miranda ao
Circuito
Mato Grosso
sobre os
erros cometidos
pelo Consórcio VLT
Cuiabá-Várzea, que
tomaram a atenção da
mídia cuiabana, a reitoria
da Universidade Federal
de Mato Grosso (UFMT)
se posicionou favorável
aos esclarecimentos feitos
pelo especialista.
“Já ouvi muita coisa
depois que me
pronunciei, mas o
importante é que quando
fui procurado pela
reportagem fiz o meu
papel de professor e
especialista no assunto,
Em nota, o
Consórcio VLT Cuiabá
- Várzea Grande
informou que já estão
em execução as
atividades para
correção dos dois
pilares do viaduto da
UFMT que
apresentaram
problema na cota de
acabamento (altura)
para assentamento das
vigas pré-moldadas.
Os trabalhos
começaram no dia 12
de junho e estão
programados para
terminar no fim do
mês.
Reitoria apoia esclarecimentos
feitos por especialista
que não pode se calar
diante de um erro desta
magnitude. E a
Universidade me apoiou.
Já que se estamos vendo
o erro, temos de mostrar
aos alunos e à sociedade
como é o certo”, declara
Luiz.
Luiz Miguel de
Miranda trabalha há 40
anos com projetos e foi
um dos fundadores da
divisão de estudos e
projetos do antigo
Departamento Nacional
de Estradas de Rodagem
do Rio de Janeiro.
Também recebeu do
Banco Mundial toda a
estrutura de projeto de
engenharia, sendo
treinado para trabalhar na
área desde a década de
60 com consultorias
internacionais na
realização de projetos. E
continua até hoje atuando
na formação de
profissionais da área de
engenharia, uma posição
em que se calar seria
omissão.
“Ver um erro como
este me assusta
profundamente. Se no
meu dia a dia sou capaz
de cobrar duramente um
bom trabalho dos meus
alunos, como não vou
cobrar um bom trabalho
dos profissionais em
benefício de todos nós?”,
pondera.
Consórcio alega que obra
teve aprovação da Secopa
O Consórcio destaca
ainda que “não houve
qualquer falha no cálculo
estrutural do viaduto” e
que todas as obras só são
iniciadas após a
aprovação, pela
Secretaria Extraordinária
da Copa do Mundo
(Secopa), dos projetos
básicos e executivos, cuja
elaboração também faz
parte do escopo do
Consórcio VLT Cuiabá -
Várzea Grande.
Na nota, o Consórcio
VLT informa ainda que
todos os processos
construtivos dessas obras
são acompanhados
rigorosamente pelos
engenheiros
responsáveis e
também pela
Comissão de
Fiscalização do VLT,
da Secopa. Esse
procedimento teria
permitido que a falha
fosse detectada e
imediatamente
corrigida, não se
estendendo a
nenhuma outra obra
que está em
andamento na cidade
(viaduto/trincheira do
Zero Km, viadutos do
aeroporto, da MT-040
e da Sefaz).
DETRAN
Servidores paralisados em protesto
Sucateado e à beira
de uma greve por tempo
indeterminado. Esta é a
situação do Departamento
Estadual de Trânsito de
Mato Grosso (Detran) que
possui uma arrecadação
média de cerca de R$1,1
milhão por dia, mas cujos
servidores são submetidos a
situação degradante de
trabalho. Na tentativa de
sensibilizar o governo para
a precariedade do órgão,
os funcionários paralisam
as atividades em todo o
estado simultaneamente
por um dia, incluindo as
Ciretrans em 64 cidades.
De acordo com a
Sem produtos básicos de trabalho e material de higiene, servidores fazem cotinha para comprar água mineral na sede do Detran-MT.
Por: Mayla Miranda. Fotos: Pedro Alves
presidente do Sindicato do
dos Servidores do
Departamento Estadual de
Trânsito de Mato Grosso
(Sinetran), Veneranda
Acosta, a paralisação de
um dia que acontece nesta
quinta (31) em frente à
Assembleia Legislativa do
Estado e na porta dos
órgãos no interior, é em
busca de condições
mínimas de trabalho.
“Nós somos o maior
órgão arrecadador do
estado, não é possível que
tenhamos que trabalhar em
ambientes sem higiene,
tirando dinheiro do próprio
bolso para comprar
material de trabalho e
ainda correndo risco nos
prédios que estão tomados
por rachaduras”, alerta. A
sindicalista ainda lembra
que em 2011 foram
aumentadas as taxas do
Detran com a desculpa de
que o dinheiro extra
arrecadado seria investido
na recuperação do órgão,
o que até o momento não
aconteceu.
“A população está
pagando a mais e cadê o
dinheiro? As nossas
condições pioram a cada
dia. Eles (o governo) estão
matando a galinha dos
ovos de ouro do estado e
aí eu quero ver como fica a
situação de todos sem um
serviço tão importante”,
desabafa. São esperados
cerca de 300 trabalhadores
durante o manifesto que
pode ser ainda um
indicativo de greve caso as
reivindicações não sejam
atendidas, alerta o
sindicato.
A situação do Detran é
acompanha de perto pelo
Circuito Mato Grosso
que na sua edição 426
mostrou a triste realidade
enfrentada pelos servidores.
Na reportagem, o drama
dos trabalhadores que
temiam inclusive um
incêndio no local de
trabalho por conta das
fiações expostas mostrou
ainda a carga de trabalho
excessiva pelo baixo
número de servidores e
rachaduras imensas nas
paredes, além dos
banheiros totalmente
insalubres.
“É um absurdo o que
está acontecendo no
Detran. A qualquer hora
que você vir até aqui vai
poder constatar a falta de
condições de trabalho a
que os funcionários têm que
se submeter e, além disso,
ainda têm de enfrentar a
frustração dos contribuintes,
que muitas vezes acham
que os funcionários não
querem atendê-los, sem
saber que o que acontece
na realidade é que não há
mesmo condições de
realizar um melhor
atendimento”, pontuou
Veneranda.
A sindicalista se refere
ao grande número de
pessoas que esperam por
atendimento nos guichês
todos os dias, em pé, já
que o espaço, além de
pequeno, não recebe
manutenção e tem diversas
cadeiras estragadas e
imensas goteiras em dias
de chuva.
participantes tivessem a
capacidade técnica de
executar as obras –
apresentando, inclusive, o
acervo das empreiteiras,
para garantir a experiência
em obras semelhantes ou
de mesma magnitude.
Desta forma, abre-se o
precedente para investigar
se a empresa que está
realizando as obras é a
mesma que venceu o
certame, já que o erro não
seria aceitável a uma
empresa experiente e,
ainda, se houve falha na
fiscalização das obras nas
anotações básicas
controladas pelos
engenheiros responsáveis.
Ainda se constatada a
falha na execução do
projeto, é possível que os
fiscalizadores das obras e os
engenheiros que assinaram a
RT (anotação de
responsabilidade técnica), de
acordo com a Lei 6496/77,
sejam responsabilizados
pelos danos causados,
inclusive ressarcindo os custos
ocasionados pela falha.
“De qualquer forma,
este erro tem que ser
compartilhado, já que além
dos executores a Secopa
também tem a obrigação de
fiscalizar todos os
procedimentos. Então o
Consórcio, a contratante e a
empresa fiscalizadora
erraram”, sintetiza Jesuel.
Desde a divulgação das
falhas apresentadas no
viaduto, procura-se a origem
do problema. Para o
professor doutor Luiz Miguel
de Miranda, da Universidade
Federal de Mato Grosso, o
erro começa na falta de um
projeto adequado, já que
para a realização de uma
obra deste porte seriam
necessários, no mínimo, três
anos para a realização do
projeto de forma adequada.
“O projeto é uma coisa
muito complexa. Deve-se ter
o conhecimento de solo,
topográfico, conhecimento de
onde estão os postes e fios –
o projeto tem que
contemplar todos os mínimos
detalhes. Inclusive, o TCU
(Tribunal de Contas da
União) exige até que se
tenha, junto com o
acompanhamento do
projeto, fotografias de cada
estágio da obra, para ter
certeza que estão sendo
realizadas a contento”,
pontua o professor.
Reafirmando ainda as
declarações dadas ao
Circuito Mato Grosso
na
edição 445, o professor
garante que um erro desta
magnitude não pode ser
considerado pequeno nem
normal, já que haverá trilhos
em cima da estrutura. Desta
forma, um erro de 2
centímetros já seria o
suficiente para descarrilar o
trem. “Eu garanto e digo que
um erro deste não é natural, e
tudo o que for feito assim, às
pressas, não vai dar certo”.
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