CUIABÁ, 6 A 12 DE JUNHO DE 2013
CULTURA
Por Luiz Marchetti
Fotos: Luiz Marchetti/ Rai reis
Luiz Marchetti é
cineasta cuiabano,
mestre em design em arte
midia, atuante na cultura de
Mato Grosso e é careca.
EXPOSIÇÃO GENESIS MOSTRA MATO GROSSO
Depois de passar por Londres, Toronto e Roma, chega finalmente ao Brasil a exposição
do fotógrafo mineiro SEBASTIÃO SALGADO. São 245 fotos em preto e branco de
pontos isolados do planeta desconhecidos da civilização. São mais de 30 lugares extremos
do planeta visitados durante oito anos pelo artista, aguardando a luz exata para
momentos espetaculares. A apresentação fotográfica tem curadoria de Leila Wanick
Salgado, esposa do fotojornalista. A exposição está no Jardim Botânico, no Rio de
Janeiro, com montagem especial, inclusive com obras expostas na área externa, ao ar
livre. As fotografias foram divididas em seções geográficas. Na seção Amazônia e
Pantanal, o fotógrafo registra também a vida selvagem no pantanal de Mato Grosso. Até
o dia 26 de agosto, de terça a domingo, das 9h às 17h no Museu do Meio Ambiente do
Jardim Botânico. Entrada franca. INFO: (21) 2294-6619 Rua Jardim Botânico, nº 1008.
LUIZ MARCHETTI esteve na CAVALHADA de Poconé. Na confraternização das torcidas, de mouros e cristãos, quem vence é a
preservação da cultura pantaneira! Leia aqui o que ele sentiu e ouviu dos frequentadores, o que está perfeito e o que pode melhorar.
Poconé abrigou milhares de visitantes na maior manifestação
cultural da cidade pantaneira no domingo passado. A encenação da
batalha bélica entre mouros e cristãos hoje é um cenário de
competições em que a plateia torce pelos melhores cavaleiros. A
manifestação cultural de cunho religioso recebeu a secretária de Estado
de Cultura, JANETE RIVA enfatizando a prioridade da CAVALHADA
DE POCONÉ no calendário cultural e turístico mato-grossense.
O evento começa com a entrada do exército Mouro (vermelho) e
Cristão (azul), a entrada da rainha e dos mantenedores (pessoas que
coordenam o exército), em seguida entram o embaixador, as bandeiras
do Divino Espírito Santo e a de São Benedito.
Em seguida a lindíssima Rainha Moura é roubada pelo exército
cristão e o castelo é incendiado, daí iniciam-se as competições pela
Cabeça do Judas, Prova do Limão, Cabeça da Rainha, entre outros. No
final, o exército Mouro deposita bandeiras brancas na arena declarando
a paz entre os dois exércitos.
L I DERES POL I T I COS, FAMI L I AS E ART I S TAS COMO VERA E ZUL E I KA PRESENC I ARAM ES TE RECORDE DE PUB L I CO NA CAVALHADA 2013
A TRADICIONAL CAVALHADA DE POCONÉ
Assim que você entra na rodovia especificamente
para Poconé o asfalto piora brutalmente. Despenca de
10 pra 7 em nota de rota turística. Buracos aparecem e
aquela que deveria ser uma rota-tapete para a COPA
DO PANTANAL se torna uma realidade não muito
agradável. Logo no início do percurso saindo de Cuiabá,
há um aconchegante bar familiar, FLECHA DE OURO, na
direita de quem vai, uma casa azul com bolos de queijo
e bolos de arroz deliciosos, ainda que o banheiro seja
extremamente podre. Este é um ótimo ponto para turistas
e famílias se encontrarem na ida em grupo para a
Cavalhada. Nota dez se você não precisar de banheiro.
A chegada em Poconé é sempre aprazível, a loja
para turistas logo na direita com artesanato e
alimentação está muito bem cuidada. O Centro Histórico
está bonito, limpo, com árvores podadas e praças
arrumadas. Essa primeira impressão mostra que a cidade
inteira abraça positivamente o evento. Entretanto, eu
acho que o comércio poderia estar mais vivo também,
com ações paralelas à Cavalhada. Manifestações
simultâneas à Cavalhada poderiam oferecer mais
contraste para as crianças e os turistas que não conhecem
a cidade e vão até a região para um dia inteiro e não
somente para a festa na arena. Na praça central poderia
haver um café, uma sorveteria ou uma tenda turística
para passeios no Pantanal e difusão de possíveis trilhas e
viagens. Ficou tudo muito centralizado na arena e a
cidade vazia, ainda que bonita, parece fantasma,
perdendo-se a oportunidade de mostrar mais diversidade
e opções. Demos umas voltas na pausa do almoço, mas
tudo estava fechado, isso foi um pouco maçante para
quem não tem familiares na região ou outros lugares
para ver naquela pausa. Faltam atrações.
E os moradores? Com bandeiras de mouros e
cristãos nas fachadas de suas casas e todo mundo
usando as camisetas, os moradores mostram enorme
simpatia com este produto cultural. Este sinal de
participação em massa da cidade é o que mais me
emociona, crianças, idosos e jovens, todo mundo
respeitando uma tradição e consciente da força turística
do evento. Isso não pode mudar, é realmente forte e
contagiante.
A Arena da Cavalhada, diferentemente de outros
anos, tinha menos poeira. O terreno de chegada ainda
não foi asfaltado, mas haviam jogado água na área que
felizmente abafou a poeira, foi uma ideia ótima.
O calor infelizmente sacrifica as arquibancadas sem
telhado, é incabível que em pleno 2013 elas ainda
estejam descobertas. A criançada embaixo dos 40 graus
fica ensopada. Tem até famílias que tentam permanecer
ali mas não conseguem, o comentário é geral, criança
não sossega e idoso passa mal. Como havia também
barracas cobertas, talvez seja a hora de criarem uma
ARENA PERMANENTE com coberturas e banheiros com
área para troca de roupas de bebês e crianças. Ainda
que seja uma tradição de outros tempos, é preciso adotar
uma estrutura atual com um mínimo de higiene. Todas as
mulheres que entrevistei comentaram que preferiram usar
banheiros dos bares improvisados nas ruas que
margeiam a arena. A área das tendas com bares poderia
ter cadeiras e mesas, ainda que a intenção seja que as
pessoas circulem; chega uma hora em que você quer
sentar com a família e amigos para descansar um pouco.
Gostei de uma barraca onde pudemos comprar uma
revista com a história da CAVALHADA. A revista se chama
4
O
PODER, com o valor de 5 reais e um desenho gráfico
bem doméstico; ela consegue difundir a importante
história da Cavalhada, o empenho das famílias e o
endereço dos apoiadores do evento. Comprei a revista e
trouxe para minha mãe que este ano não pôde ir. É algo
que merece crescer, transformar-se em matéria escolar,
todos devem saber desta história. Esse impresso deve ser
melhorado e tomar formato de folder/catálogo turístico.
Os turistas com quem falei entretanto nem sabiam dessa
revista, pois tudo era muito casual, se você não
procurasse, não havia alguém oferecendo.
E o show? A performance no centro da arena é
espetacular, emocionante, inesquecivelmente marcante,
sorte daqueles que como eu foram prestigiar uma das
representações artísticas mais importantes do Brasil.
Parabéns Poconé, o show dos Cavaleiros, a condução
dos narradores, a presença dos pajens e a dedicação da
Rainha foram impressionantes. Nota 10!
Parabéns aos participantes, aos devotos, à
Irmandade da Ordem dos Cavalheiros de São Benedito,
à Secretaria de Estado de Cultura, à Rainha, às famílias
organizadoras, parabéns à Prefeitura Municipal de
Cultura. Eu me emocionei e trouxe comigo para sempre o
orgulho de haver assistido a essa representação.
Tomara que entendam minhas considerações, pois o
evento é um todo, é mais do que uma manifestação
religiosa, para quem vai até lá falta estrutura, faltam
mais ações pedagógicas, faltam restaurantes e atrações
paralelas que promovam a área urbana de uma cidade
arquitetonicamente tão charmosa...
(Eu ia parar por aqui. Mas devo dizer que uma turista
disse algo que me marcou bastante. É inacreditável que
você vá de Cuiabá para a área pantaneira, Poconé –
uma área alagada do mundo – e não veja nenhum
ponto turístico aquático. Inicialmente eu havia achado
bobagem esse comentário, mas pensei bem: ela tem
razão, falta um oásis, um ‘
piscinão’
, um ponto de banho
com duchas ou um refúgio aquático. Talvez seja por isso
que permaneça no final do dia essa cara de gente
cansada, de secura, de poeira. Parece pretensioso mas
vale a pena imaginar um local de banho numa das áreas
com mais água de todo o planeta, afinal pra um turista,
independente se ele vai somente para a CAVALHADA ou
não, ele está indo para uma cidade pantaneira. É o
mesmo que ir ao Rio de JANEIRO para ver o samba e
não querer tomar um banho de mar).