CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ,
27 DE FEVEREIRO A 5 DE MARÇO
DE 2014
POLÊMICA
P
G
7
VLT
Silval já compromete 90% da verba
Apesar de já ter empenhado essa soma vultosa para a obra, modal só deve chegar à Copa com 5 km de trilhos
Mayla Miranda e
Sandra Carvalho
Mesmo o próprio
governador já tendo
admitido que apenas 5 km
do Veículo Leve Sobre
Trilhos (VLT) ficarão
prontos até junho próximo,
a Secretaria Extraordinária
da Copa 2014 (Secopa) já
empenhou R$ 1,3 bilhão
em nome Consórcio VLT
Cuiabá-Várzea Grande.
Estes dados estão
disponíveis no Sistema
Integrado de Planejamento,
Contabilidade e Finanças
(Fiplan), alimentado pela
Secretaria de Estado de
Fazenda (Sefaz).
Em 2013, como
mostra o Fiplan, a Secopa
pagou R$ 587,7 milhões ao
consórcio e já se apressou
em empenhar R$
726.893.091,00 em 2014
para a obra, que só deve
mesmo ser concluída em
2016. Isto segundo
previsões do engenheiro
Luiz Miguel de Miranda,
especialista em trânsito e
transporte urbano, membro
do Departamento de
PROJETO INICIAL
EXTENSÃO:
22 km
TRAJETO:
Av. João Ponce de Arruda
(Aeroporto Marechal Rondon), Av. da
FEB (Várzea Grande), XV de
Novembro, Tenente-Coronel Duarte,
Historiador Rubens de Mendonça,
Coronel Escolástico e Fernando Corrêa
da Costa, em Cuiabá
OBRA COMPLETA:
março de 2014
PREVISÃO ATUAL
EXTENSÃO:
5 km
TRAJETO:
Aeroporto Marechal
Rondon, em Várzea Grande, ao Porto,
em Cuiabá
PRAZO DE ENTREGA:
Maio de 2014
Circuito antecipou mico
do VLT há dois anos
O
Circuito Mato Grosso
antecipou, em sua edição
378, que o VLT não ficaria pronto até a Copa 2014 com
base em constatação da Controladoria Geral da União
(CGU), e que o Governo do Estado havia omitido
informações sobre os gastos com a obra do VLT – R$
700 milhões a mais do que a proposta original, uma
linha rápida de ônibus (BRT). A Controladoria avaliou à
época que a troca do BRT pelo VLT foi “intempestiva”.
“Eu acho que gastamos muito
dinheiro com uma Copa que vai durar
20 dias, enquanto a população morre
de violência na cidade. Não sou
contra a Copa, mas sim contra a má
gestão dos recursos públicos. Se ao
menos uma parte do montante gasto
na troca do BRT pelo VLT fosse
investida na segurança, a violência
estaria muito abaixo dos números de
hoje”.
Anibal Marcondes
,
presidente
do Sindicato dos Investigadores da
Policia Civil (Siagespoc
\MT)
“A saúde deveria vir em primeiro
lugar. Não quero dizer que o avanço
da mobilidade da cidade não seja
necessário, mas investir tanto em um
modal enquanto a população morre à
míngua por falta de atendimento
médico, para mim é um verdadeiro
absurdo”.
Djamir Soares, presidente do
Sindicato dos Profissionais de
Enfermagem (Sinpen/MT
).
“Se considerarmos o custo por aluno em
Mato Grosso e reinvestirmos o valor gasto
nesta troca a meu ver desnecessária, o
quanto melhoraria a nossa educação no
estado? Muito, principalmente no interior
que fica segregado pelos gestores. Na
verdade temos que cobrar que ao menos o
VLT fique pronto, já que não temos como
voltar atrás. Enquanto isso, segue esta
vergonha chamada de educação pelo
governo”.
Miriam Ferreira Botelho, vice-
presidente do Sindicato dos Trabalhadores
no Ensino Público (Sintep/MT).
Fotos: Mary Juruna
Engenharia Civil da
Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT).
E são vários os
motivos elencados pelo
especialista para prever
que o modal só ficará
pronto daqui a três anos.
Um deles é a ausência de
projeto executivo. “Mesmo
havendo recursos, não
seria possível iniciar a
implantação do modal sem
saber os detalhes do
projeto”, pondera o
especialista.
Outro ponto bastante
importante, de acordo com
o engenheiro, são os erros
de execução que o projeto
tem apresentado e que
agravam transtornos
ocasionados pelas
insistentes chuvas que
caem sobre a região. Para
Luiz Miguel de Miranda, se
devidamente planejada, a
obra teria sido acelerada na
seca, evitando atrasos por
conta da lentidão inevitável
do período chuvoso.
E levando-se em
consideração que até o
momento foram
implantados cerca de 50
metros de trilhos, as 13
composições – de um total
de 30 – já entregues devem
permanecer no pátio de
estacionamento do Centro
de Manutenções do VLT,
localizado próximo ao
Aeroporto Marechal
Rondon, em Várzea
Grande, por bastante
tempo. As obras estão em
ritmo lento e há indícios de
que isso também estaria
ocorrendo pelo fato de não
haver recursos para pagar
as empreiteiras, suspeita o
especialista, sugerindo que,
diante desse quadro, a Auditoria do
Estado, o Ministério Público Estadual e
Federal e o Tribunal de Contas da
União acompanhem mais de perto os
pagamentos das medições das
empreiteiras.
“Não se pode admitir
adiantamentos num processo que
começou errado, está eivado de
denúncias de corrupção, intromissão
indevida de decisões políticas e má
aplicação de recursos públicos”,
pondera o especialista.
Apesar de ser do conhecimento público que já foi
empenhado o montante de R$ 1,3 bilhão para
pagamento da obra de instalação do Veículo Leve
Sobre Trilhos (VLT) entre Cuiabá e Várzea Grande –
e que promete ser o maior insucesso das planejadas
para a Copa 2014 na Capital mato-grossense – o
presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE),
Waldir Teis, não poupou elogios esta semana ao
governador Silval Barbosa (PMDB) durante reunião
para tratar da retomada dos relatórios das obras que
estão sendo construídas para o Mundial.
Além disso, somente esta semana o governador
autorizou a transferência de R$ 122 milhões de
outras áreas (estradas, habitação, esportes) para
injetar nas obras da Copa, o que também não foi
cobrado durante a reunião. “O Executivo está
demonstrando comprometimento”, enalteceu o
presidente do TCE ao apresentar ao governador a
Comissão de Acompanhamento das Obras Copa do
Mundo 2014.
VLT será um grande mico
segundo especialista
“Fazer uma linha de
trem é fácil. Um aluno meu
do 5º semestre de Engenharia
Civil faz. Agora, ligar uma
cidade a outra com dutos,
empresas de telefonia, redes
de energia, saneamento
básico, operadas por
concessionárias, isso é que
eu quero ver. Hoje, para se
tirar um poste de lugar leva
cerca de quatro meses,
imagina uma obra deste
porte. Não há a mínima
condição de implantar um
modal deste porte com
menos de três anos de
projeto”. É desta forma,
contundente, que o professor
LuizMiguel deMiranda
avalia desde a escolha do
modal até o momento atual,
que aponta para um atraso de
prejuízos incalculáveis.
O especialista pondera
que a cidade não tem
disponibilidade energética
para este tipo de implantação
e ainda lembra que não existe
nenhumVLT instalado
abaixo dos trópicos. Desta
forma, nem há chance de se
Apenas 22% da obra ficarão pontos; o
presidente do TCE não aproveitou a reunião
para cobrar explicações de Silval Barbosa
Planejamento levaria
pelo menos três anos
saber se o projeto funciona.
No caso de climas tropicais,
os motores a explosão são os
mais recomendados.
Sobre o dito VLT do
Nordeste, Miguel lembra que
na verdade é um trem
adaptado que se utiliza de
linhas férreas, e que o VLT
de Campinas nunca saiu do
local, já que os trilhos eram
totalmente inadequados e
foram instalados de forma
equivocada. “A ignorância e
a falta de interesse são
tamanhas que os executores
da obra não usaram um
Georadar, umequipamento
que funciona como scanner
do solo que faria toda a
diferença. Nenhuma dessas
obras de Cuiabá fecha. Esses
carinhas (políticos gestores)
decidiram as coisas
atropelando a técnica, a
demanda e o bom-senso.
Seria bom se fossem
responsabilizados por essa
micaretagem (expressão
utilizada pelo professor como
junção de mico e
picaretagem)”, desabafa.
Waldir Teis “aplaude”
fiasco do VLT
Semeconomizar
adjetivos para criticar a
opção pelo VLT em
detrimento do BRT, o
professor LuizMiguel de
Miranda critica a opção do
Governo do Estado deMato
Grosso na escolha do modal.
“Cuiabá não temdemanda
pra o VLT, já o BRT nos
atenderia por mais de 30
anos. Nós não temos sequer
condições energéticas para
fazer o VLT funcionar e, é
claro, ninguém pensou nisso
antes de gastar milhões com
a escolha, que pra mim foi
um cinismo dos gestores”,
desabafa. Apesar de o modal
escolhido pelo governo ser
mais tecnológico, silencioso
e confortável, ele não é
viável. Quatromotivos
principais embasam a teoria
do especialista. Emprimeiro
lugar ele explica que a Capital
não tem demanda para tal
transporte – a mobilidade
urbana é pensada em escala
de necessidade e, sendo
assim, uma cidade começa
pelo ônibus comum, passa
para o BRT (ônibus
articulado), VLT, metrô e
por fim trem suburbano.
Caso houvesse a
implantação doBRT, ao
invés de contemplar 22 km
com o transporte alternativo,
seriam 40 km de BRT
expansível, que também
poderia ser estendido às
outras rotas subjacentes.
Em segundo lugar está a
viabilidade econômica: ao
invés do investimento de R$
1,4 bilhão no VLT, o BRT
seria implantado sem custo
para os cofres públicos, já
que os ônibus, articulados ou
não, são feitos através da
iniciativa privada, ou seja,
uma economia de 100%.
Outro detalhe importante:
diferentemente do VLT, o
BRT já tinha umprojeto
técnico. Em terceiro lugar o
custo operacional do modal,
que mais uma vez esbarra no
custo, primeiramente para o
povo. “É totalmente
mentiroso afirmar para a
população que o valor da
passagem será semelhante à
do coletivo. É pensar que o
povo é analfabeto e sem
noção. Não há como o custo
ser o mesmo. E dizer que
terá subsídio da passagem é
balela. Para ter um subsídio é
necessário um plano de
governo, não para ummês e
sim para 10, 20 ou 30 anos.
Você acha que um governo
que está a cerca de nove
meses para terminar vai fazer
este projeto? Não vai”,
afirmaMiranda.
Engenheiro Luiz Miguel de
Miranda, professor da UFMT