EDIÇÃO IMPRESSA - 475 - page 14

CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 13 A 19 DE FEVEREIRO DE 2014
CULTURA EM CIRCUITO
PG 2
MAIS DOMESMO
Edmilson é arquiteto e
festeiro oficial da
Praça Popular
MÃOS DELICADAS
João Carlos Manteufel,
mais conhecido como João Gordo,
é um dos publicitários mais
premiados de Cuiabá
CALDO CULTURAL
Por João Manteufel Jr.
TENDÊNCIAS
Por Edmilson Eid
Nova década, novos tempos, tudo
se renova em todas as áreas
profissionais e a construção civil não
ficou de fora. As mais delicadas mãos
femininas enfrentam os serviços que
antes eram só executados por homens.
Elas têm seu papel de destaque na
maioria das obras, principalmente na
parte de acabamento, onde sua
sensibilidade dá o toque de um bom
resultado final.
Este aumento cada vez maior no
mercado da construção civil está sendo
impulsionado devido à falta de mão de
obra masculina e da grande demanda.
Com todos seus afazeres
domiciliares, seu comportamento
dentro do canteiro de obras é de
extremo profissionalismo, merecendo
seu mérito de grande eficiência e
capacidade.
Muitos cargos ocupados somente
por homens, elas já assumem com
respeito e humildade. São serventes,
carpinteiras, ajudantes de obra,
pedreiras, pintoras, soldadoras,
técnicas de segurança do trabalho e
engenheiras.
As mulheres
são mais atentas,
detalhistas,
cuidadosas ao
manusear os
equipamentos e ao
fazer sua adaptação
a qualquer
compromisso
dentro da obra.
Muitos órgãos e
empresas abriram
cursos
profissionalizantes
e de tecnologia para
absolver esta fatia
do mercado,
acabando com o
preconceito de que
determinadas
profissões só
podem ser
exercidas por
homens.
Siga sua
conquista: mãos à
obra!
Impressionantes são os números do
agronegócio. Somente para o Japão, Mato
Grosso exportou mais de 700 milhões de
Reais. Para a Coreia do Sul, mais não sei
quantas centenas de milhões. Pecuária
exporta milhões para a Rússia. Sem contar o
volume abissal que exportamos para a China.
Em Mato Grosso, chegamos a produzir três
safras num ano. E dizem, repetindo, dizem
pois não acredito, usando apenas 10% das
áreas férteis do Estado. Números tão gigantes
que fizeram nossa Presidente comer soja crua
no lançamento da safra em Lucas do Rio
Verde.
Por tanta bufunfa, quem não comeria?
Eu, por exemplo, gordo e guloso do jeito que
sou, comeria uma safra inteira. Para nós que
trabalhamos com cultura, são números
absolutamente surreais. Janete recebe algo
em torno de 3 milhões por ano para fomentar
todos os tipos de cultura existentes no estado,
que não são poucas, tentando alavancar a
quase phoenix cultura de Mato Grosso. E está
fazendo esta administração com muita
maestria. Está se instalando uma política de
resgate da nossa honra e cultura. Até o nosso
maravilhoso Festival de Cinema está de volta.
Mas ainda precisamos de mais.
Não é falta de boa vontade de Maria
Helena, Tânia, Janete e sua turma. Mas numa
terra onde um refrigerante custa 4 Reais,
precisamos de muito mais. Para fazer realizar
um projeto audiovisual, exemplificando,
você recebe 20 mil Reais. 20 mil não paga
a produção de nada, neste mercado
inflacionado. Uma hora de edição custa 600
Reais. Num projeto como o documentário
Ivens Cuiabano Scaff, que realizamos com
apoio do Governo, gastam-se 85 mil Reais.
Pra fazer cultura no Brasil, tem que
realmente ser artista. Dá vontade de largar
tudo e ir plantar soja.
Como cineasta, tenho a nítida sensação
de que nunca verei, nem em 3 encarnações,
esse volume de 700 milhões de Reais
exportados de cultura em nosso país. Nem
mesmo como publicitário, nunca
conseguiremos esse volume de dinheiro. É
claro que o cinema não pode ser refém de
incentivos governamentais ou da Petrobras,
que sustentou nossa arte durante tanto
tempo. Mas fale pra um desses
megaexportadores investir na cultura da
terra que eles consomem e consomem
utilizando a monocultura. Não acreditam.
Fale para um desses megaloprodutores
investir na cultura dessa terra em que eles
detonam o solo, e ter 100% deduzido do
Imposto de Renda. Não investem. Nem
imaginam quem é esse tal de Rouanet.
Dá vontade de largar tudo e criar
gado.
Talvez preocupado com estas cifras, ou
não aguentando mais o pirex que temos de
segurar para fazer cultura, que meu tio
Jonas Barros, um dos mais proeminentes e
bem-sucedidos artistas plásticos da história
de Mato Grosso, se dedica, cada dia mais, à
criação de gado. Ele está trocando o pincel
pelo chicote. É verdade que na minha
família, o único dos 11 tios que tenho que
não aproveitou a época que meu avô
Almerindo criava gado foi ele. Mas garanto
que seus motivos são mais complexos. Ele
investiu a vida em sua vida de artista. E não
teve sua independência garantida. Como ele,
Gervane, Irigaray e tantos outros que
precisam trabalhar dia a dia para o sustento
de sua casa. É, Dilma. Infelizmente, vamos
todos comer grãos de soja crus. Afinal,
nesse centro-oeste brasileiro, quem não
estiver na onda do agronegócio vai sumir na
poeira do desmatamento provocado por ele.
Que pena.
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