CIRCUITOMATOGROSSO
PANORAMA
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CUIABÁ, 12 A 18 DE DEZEMBRO DE 2013
COMÉRCIO EXTERIOR
Porto Seco é refém da logística de MT
Custos do transporte e falta de estrutura nas opções de escoamento de produtos também prejudicam comércio exterior mato-
grossense. Por Diego Frederici. Fotos: Diego Frederici
Unidade da
federação que está na
linha de frente em relação
a agricultura e produção
de grãos, Mato Grosso
possui um potencial
econômico subutilizado,
principalmente quando o
assunto é transporte. Sexto
maior exportador do país,
responsável por 6,88% de
tudo o que é vendido a
outros países, segundo
dados da Secretaria de
Estado da Indústria,
Comércio e Minas e
Energia (SICME), o Estado
poderia ter maior
protagonismo na área, se
empresas e governos se
unissem na discussão de
soluções para o
problema.
Para o presidente do
Porto Seco Cuiabá,
Francisco Antônio de
Almeida, “o problema do
custo logístico é crônico”.
Segundo o administrador
da estação aduaneira -
única do tipo em Mato
Grosso, responsável, entre
outras coisas, por
nacionalizar os produtos
de origem externa -, o
fato de estar no centro
geodésico da América do
Sul (com a capital distante
dois mil quilômetros tanto
do oceano pacífico
quanto o atlântico) não
pode ser justificativa para
Criação dos
dry ports
é
uma alternativa
inteligente
Só no período de
janeiro a outubro de
2013, Mato Grosso
exportou U$$ 13,79
bilhões, um aumento de
18% em relação ao
mesmo período do ano
passado quando o
movimento foi de U$$
11,67 bilhões. A soja e
o milho são os produtos
mais exportados,
enquanto o cloreto de
potássio, gás natural e
ureia com teor de
nitrogênio são os mais
importados, de acordo
com a SICME. O
especialista Antônio
César Santos exalta a
criação dos
dry ports
dizendo que essa é uma
alternativa “inteligente”.
“O porto seco é uma
alternativa inteligente,
que ajuda a desafogar
os postos alfandegários
dos portos molhados,
por exemplo, uma vez
que a documentação de
desembaraço pode ser
realizada nesses locais”,
acrescenta.
Estados que ficam
distantes dos portos
marítimos, ou que não
possuem portos fluviais, além
daqueles desprovidos de
aeroportos estruturados de
maneira adequada a atender
grandes demandas de
importação e exportação,
encontram no porto seco
uma alternativa para
viabilizar seus negócios, ou os
negócios dos empresários e
comerciantes, com clientes e
fornecedores que encontram-
se fora do país. Assim, os
dry
ports
, do inglês porto seco,
também conhecidos como
Estação Aduaneira do Interior
(EADI), funcionam como uma
alfândega que faz a
recepção e o despacho de
produtos que chegam de
fora do país, ou que serão
fornecidos a empresas ou
governos do exterior, como
explica o Professor Dr. em
Economia Internacional da
Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT) Antônio
César Santos. Ele afirma que
esses tipos de
estabelecimentos ajudam a
descentralizar a atividade de
nacionalização de produtos.
“O porto seco é uma
alfândega, uma divisa de
territórios onde há confrontos
de jurisdição. Quando um
bem fabricado em outro país
chega ao Brasil ele deve ser
nacionalizado por meio do
recolhimento de impostos e
inspecionados, senão será
considerado contrabando”,
diz. O especialista em
comércio exterior afirma que
em locais onde há grande
fluxo não apenas de
mercadorias, mas também
de pessoas, há possibilidade
de integração territorial
maior, por meio de ferrovias
e rodovias, citando o caso
das fronteiras entre o Brasil e
Paraguai, Uruguai e
Argentina. Dando o exemplo
da Bolívia, onde esse fluxo é
menor, o governo federal
pode fazer uma concessão a
uma empresa privada para
que explore outro ponto
alfandegado, o porto seco,
que se encontra geralmente
no interior da unidade da
federação.
“Para agilizar o processo
de nacionalização de um
produto que vem de fora, e
que não se destina ao Estado
em que desembarcou, há a
possibilidade de
deslocamento da fronteira
para efeito tributário, que
pode ocorrer nos portos
secos”.
Porto Seco é solução para
desafogar outras alfândegas
A logística pouco
desenvolvida em Mato
Grosso afeta outras áreas
dos negócios além do
segmento tradicional da
agricultura.
No comércio de
cervejas especiais desde
1992, o comércio de
bebidas Serra Grande, de
Cuiabá, também paga
pelo custo logístico
imposto a todos os
empresários e
comerciantes que
negociam seus produtos
dentro e fora do país.
O proprietário da
empresa, Elvio Resende,
contou ao
Circuito Mato
Grosso
que paga em
média R$ 0,80 por cada
garrafa para fazer o
transporte logístico, que,
segundo ele, “possui um
custo muto alto”,
“impactando no preço
final das bebidas.”
“Utilizando o modal
de transporte rodoviário,
pagamos em média R$
0,80 por garrafa.
Infelizmente, nosso setor
ainda não possui
representatividade
“Logística custa R$ 0,80
por garrafa”, diz empresáro
suficiente para pleitear
outros meios como o
ferroviário, que seria muito
mais barato”, analisa.
deixar de investir em
meios alternativos, como o
transporte fluvial, por
exemplo.
“Estamos no centro do
Brasil e da América do
Sul, e temos apenas uma
linha férrea com preços
altíssimos. O Rio Araguaia
seria uma excelente
oportunidade para
escoarmos produtos de
baixo valor agregado,
como os grãos produzidos
aqui”, diz ele.
Maior produtor
brasileiro de soja e carne
bovina, ao passo que, no
mundo, o Brasil ocupa o
primeiro e segundo
lugar, respectivamente,
na produção dessas
commodities
, de acordo
com o Instituto Mato-
Grossense de Economia
Agropecuária (IMEA), o
Estado tem no Porto Seco
Cuiabá papel chave na
industrialização, uma
área que ainda carece
de investimentos e
iniciativas públicas e
privadas, de modo que
não deixe os mato-
grossenses numa
dependência econômica
apenas do agronegócio,
que necessita de
máquinas e insumos
fabricados lá fora.
Nesse sentido, o
executivo do único
dry port
de Mato Grosso faz duras
críticas a falta de
planejamento, estrutura e
condições de escoamento
oferecidas aqui. Para ele,
o governo federal deveria
“olhar para a gente com
outros olhos”, citando o
protagonismo que o
agronegócio possui na
economia.
“Se cai uma ponte,
toda a logística do maior
produtor de soja,
algodão, carne bovina e
milho segunda safra do
país para. Essa realidade
é inadmissível”, diz ele.
Só em 2012 o Po r t o Seco Cu i abá mov imen t ou R$ 474 mi l hõe s em p r odu t os impo r t ados
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