CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 12 A 18 DE DEZEMBRO DE 2013
CIDADES
P
G
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MAGRELAS
Cuiabá tem apenas 20 km de ciclovias
Capital não possui infraestrutura adequada e legislação é quase que omissa no que tange à implantação dessas vias.
Por Camila Ribeiro. Fotos: Mary Juruna
Juntas, Cuiabá e
Várzea Grande registram
uma média aproximada de
54 mil viagens de bicicleta
semanalmente. O uso das
‘magrelas’ pelas ruas da
Capital mato-grossense e
da Cidade Industrial cresce
a olhos vistos,
principalmente em meio
àqueles que tentam fugir do
trânsito caótico. Em
contrapartida, os adeptos
da bike encontram
empecilhos como à falta de
ciclovias ou ciclofaixas.
Cuiabá, por exemplo,
contabiliza hoje, apenas 20
km de vias desta natureza
e, que em sua grande
maioria não apresentam
infraestrutura adequada ou
simplesmente estão
abandonadas pelo poder
público sem qualquer tipo
de manutenção.
A Secretaria
Municipal de Transportes
Urbanos (SMTU)
contabiliza na Capital, 2
km de ciclovia na Avenida
Arquimedes Pereira Lima
(Estrada do Moinho),
outros 10,4 km de
ciclofaixa na Avenida das
Torres e mais 7,5 km de
ciclofaixa na Avenida
CURIOSIDADES
·
Ciclovias
são vias exclusivas para ciclistas, separadas fisicamente das vias
de veículos por canteiros, calçadas, muretas ou meio fio. Nas ciclovias é proibida
a circulação de carros, motos e também de pedestres;
·
Ciclofaixas
são espaços pintados no piso, sinalizando onde os ciclistas devem
circular. Geralmente as ciclofaixas são pintadas nas ruas e avenidas e dividem
espaço com os carros, dando exclusividade ao ciclista em determinadas faixas;
· No Brasil, a bicicleta aparece como o 4º meio de transporte mais utilizado, a frente
inclusive das motos; (1º ônibus, 2º a pé, 3° carro);
· A Organização das Nações Unidas (ONU) elegeu a bike como o transporte
ecologicamente mais sustentável do planeta;
· A cidade brasileira com maior extensão de ciclovias é o Rio de Janeiro, com 300 km.
Dentre as obras de mobilidade urbana com vistas à Copa do Mundo, apenas duas terão
vias segregadas para o trafego de bicicletas. Uma delas é a obra de duplicação da
Arquimedes Pereira Lima, a Estrada do Moinho. Com extensão de 4,42 km, a obra consiste na
duplicação do trecho compreendido entre a Rua 20 (bairro Boa Esperança) e a avenida Dr.
Meireles, integrando-se às obras de trincheira e viaduto no Trevo do Tijucal. Com a duplicação,
serão implantados 4.8 km de ciclovias, que se juntarão 1.8 km já existentes naquela via.
Por enquanto na SMTU, ciclovias só no papel....
Enquanto a locomoção
por meio das bicicletas se
propaga na Capital, a
implantação de novas
ciclovias parece distante.
Existem alguns projetos que
preveem a construção das
faixas para os ciclistas e até
mesmo as ciclovias
temporárias – vias onde o
tráfego se torna exclusivo
para bicicletas aos finais de
semana, por exemplo –
semelhante a iniciativas já
desenvolvidas em cidades
como São Paulo e Rio de
Janeiro. Acontece, no
entanto, que estes projetos
não têm previsão para se
materializarem.
O secretário-adjunto da
SMTU, Thiago França revela
que existe inclusive um
Grupo de Trabalho criado a
partir de uma determinação
do Ministério Público
Estadual (MPE) e que está
viabilizando projetos nesta
área. “A gente sabe que é
um processo complexo e que
não acontece do dia para a
noite. Ainda assim, é uma
coisa que não dá mais para
‘ser empurrada com a
barriga’, porque o número
de ciclistas na cidade cresce
vertiginosamente”, admite
França.
Segundo o secretário,
assim como outras cidades
brasileiras, Cuiabá encontra
empecilhos para aplicar tais
projetos, já que ao longo
dos anos registrou um
crescimento desordenado e
sem planejamento. “Cuiabá
não é uma Suiça ou uma
França. Nosso sistema viário
foi concebido de forma a
privilegiar o fluxo de carros,
de forma que ônibus,
bicicletas e outros meios de
transporte foram
marginalizados”.
Entre os projetos que
devem ser implantados na
Capital, França destaca o
‘Porto Cuiabá’, que terá
aproximadamente 1,6 km
de ciclovia, bem como
bicicletários. Além disso, o
secretário revela que a
Prefeitura trabalha em
parceria com o Governo do
Estado, nas obras de
duplicação da Estrada do
Moinho e implantação da
avenida Parque do
Barbado, que
disponibilizarão mais 4 km e
1,8 km de ciclovias,
respectivamente.
A ausência de
ciclovias em Cuiabá é
fruto inclusive, de uma
legislação bastante restrita
no que tange ao
transporte cicloviário.
Hoje, o que existe
legalmente constituído
neste sentido, consta no
Plano Diretor de
Desenvolvimento
Estratégico da Capital,
ainda assim, de maneira
bastante superficial. O
artigo 10 do Plano
Diretor, que estabelece
diretrizes específicas do
desenvolvimento
estratégico na área do
sistema viário, ressalta,
por exemplo, a
necessidade de ampliar “a
extensão e implementação
de ciclovias e vias de
pedestres interligando
áreas residenciais,
preferencialmente nas
faixas marginais dos
Deficiências começam na legislação
córregos e vias
duplicadas”, diz um
trecho.
“A gente percebe, que
o plano fala para
implementar, mas não diz
como”, destaca Rafael
Detoni. Ele observa
ainda, que a lei de
hierarquização viária de
Cuiabá, criou uma
categoria de via,
chamada via parque ou
via verde (àquelas que
correm às margens do
córregos) e segundo
Detoni, somente nestes
casos há especificação
para implantação das
ciclovias. “Está instituído
em lei, para que quando
essas vias forem
construídas, elas sejam
dotadas de ciclovia. As
demais avenidas de
Cuiabá não têm uma
imposição ou uma diretriz
legal para implantação de
ciclovia, com exceção da
Archimedes Pereira Lima,
esta é a única onde o
escopo legal traz a
obrigatoriedade de
construção de ciclovia”,
completa o assessor.
Por fim, o assessor
alega que a engenharia é
capaz de solucionar os
problemas quanto à
ausência das vias para os
ciclistas, no entanto, para
isso, faz-se necessário que
a construção da ciclovia
seja previamente definida
e legalmente constituída.
“A engenharia resolve
tudo. Se precisar colocar
uma ciclovia numa
trincheira, num viaduto,
você coloca. Agora para
que você faça isso precisa
de uma decisão legal do
município. Decisão
política, de aprovação de
lei e definição de
critérios”.
Em entrevista ao
Circuito Mato
Grosso, o assessor de
mobilidade urbana da
Secretaria Extraordinária
da Copa (Secopa),
Rafael Detoni, negou as
afirmações divulgadas
na imprensa
recentemente e, que
davam conta de que a
Secretaria teria
descartado a
implantação de ciclovias
previstas em 19 projetos
do Plano de Mobilidade
e Transporte da Região
Metropolitana do Vale
do Rio Cuiabá, com
vistas à Copa do Mundo
de 2014.
Detoni explicou que
assim que Cuiabá foi
escolhida cidade-sede
para o Mundial, foi
elaborado o plano de
mobilidade, com o
levantamento de todo o
Secopa nega ter ‘abortado’ projetos
sistema de trânsito e
transporte da Capital e
de Várzea Grande. A
partir daí, segundo ele,
foi proposta uma série
de projetos de
intervenção no sistema
viário e no transporte
coletivo visando a
Copa.
“Aproveitaram-se os
dados e as informações
levantadas para se
propor diretrizes para
que os municípios
possam trabalhar em
cima disso, colocar em
prática futuramente.
Acontece que a Secopa,
foi instituída para
atender uma
necessidade chamada
Copa do Mundo. A
Secopa não substitui a
SMTU, a Câmara de
Vereadores, a Secretaria
Municipal de
Desenvolvimento
Urbano, a Secretaria de
Obras, a Ager, a Setpu,
que são os órgãos
responsáveis pela gestão
do transporte municipal
e intermunicipal”,
assegurou o assessor.
O assessor de
mobilidade urbana
admitiu que a questão
das ciclovias é legítima e
argumentou que,
tamanha importância do
assunto, é que a
implantação das faixas
para ciclistas foi
contemplada em uma
capítulo específico do
plano de mobilidade.
“Fizemos análises do
que pode ser elaborado
pelos municípios. Agora
dizer que Secopa pegou
esse capítulo e rasgou
ou esqueceu, é
sacanagem, a história
foi deturpada”, alegou
Detoni.
Tatsumi Koga, na região
do bairro Pedra 90.
Adepto à prática do
ciclismo, o servidor público
federal Paulo Luz, revela
que por conta da
proximidade de sua
residência do trabalho -
cerca de 2 km de distância
- ele prefere ir trabalhar de
bicicleta. Ainda segundo
ele, a escolha é não
somente pela distância,
como também pela
questão da economia com
combustível e ainda pelos
benefícios à saúde.
Acostumado também
a realizar pequenos
passeios ciclísticos em
grupo aos finais de
semana, Paulo diz que não
bastasse o fato de a
cidade ter poucas faixas
destinadas aos ciclistas, as
que existem, sequer
poderiam ser chamadas
de ciclovias. Isto porque,
segundo ele, grande parte
dos espaços é utilizada
como estacionamento para
carros, ‘ocupados’ por
caçambas de lixo,
barraquinhas de
vendedores ambulantes ou
ainda servindo como
depósito de materiais ou
restos de construção.
“Além da falta de
consciência das pessoas
que utilizam as ciclovias
para outros fins, a
infraestrutura também é de
se lamentar. Os espaços
estão tomados pelo esgoto,
buracos que mais parecem
crateras e até quebra-molas
que desafiam a nossa
pedalada”, lamenta o
ciclista.
Segundo Paulo, uma
das situações mais críticas
é a da ciclofaixa na
Tatsumi Koga, que liga o
Pedra 90 ao Distrito
Industrial. “É um trecho de
mais ou menos 7 km que
não tem asfalto. Se está sol
é só areia, se chove a
ciclofaixa vira só lama. Até
as ‘tartarugas’ que serviam
para identificar a via foram
quebradas ou
arrancadas”, relata.
Diariamente, no
entanto, Paulo relata
encontrar barreiras que vão
além da falta de ciclovias
na cidade. Ele assegura,
por exemplo, “que a
primeira grande dificuldade
é a questão cultural. Os
motoristas não conseguem
– ou não querem entender
– que os ciclistas fazem
parte do trânsito”, observa
o servidor. Ele ainda
completa dizendo que
fechadas no trânsito e
buzinadas se tornaram
comum em seu dia-a-dia.