Jonair César,
homossexual e soropositivo,
é um exemplo de
multiplicador das formas de
prevenção da Aids. Em
julho, participou em Brasília
do Encontro Nacional de
Jovens Vivendo e
Convivendo, com recursos
obtidos junto à sua irmã que
tem um salário baixo, pois a
burocracia que impera na
Secretaria Municipal de
Saúde é tão grande que
não conseguiu ajuda para
viajar. Nesse encontro,
discutiram-se políticas
públicas de Aids para
fortalecer a luta dos
soropositivos. O resultado
da participação foi a
implantação do Projeto
Play, que consiste na
entrega de kits de
CIRCUITOMATOGROSSO
POLÊMICA
P
G
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CUIABÁ, 12 A 18 DE DEZEMBRO DE 2013
AIDS
Campanhas ineficientes no combate
O advento do ‘coquetel de Aids’ proporcionou qualidade de vida e aumento de longevidade aos soropositivos.
Por: Rita Anibal. Fotos: Reprodução
Apesar da chegada
do ‘coquetel da Aids’ que
promoveu mudança
considerável na qualidade
de vida dos soropositivos,
o aumento nos casos de
Aids, hepatites virais e
sífilis pode ser decorrente
das fracas e equivocadas
campanhas de prevenção
capitaneadas pelo
Ministério da Saúde e
pela ocultação, por
alguns, de que são
portadores do vírus. No
Estado de Mato Grosso,
somente em 2013 foram
detectados 167 casos até
maio, contra 199 durante
todo o ano de 2012,
segundo a Secretaria
Estadual de Saúde (SES).
Outro dado alarmante é
a incidência da síndrome
entre gestantes: em 2012
ocorreram 53 casos e de
janeiro a maio deste ano
já haviam sido notificadas
46 pacientes grávidas.
Todas as campanhas
de prevenção são
elaboradas pelo
Ministério da Saúde que
adotou um descaso
Soropositivo é engajado
nas lutas de prevenção
Em 1995, o
coquetel de
medicamentos passou a
ser prescrito para os
portadores do HIV que,
atualmente, conseguem
conviver com o vírus por
longos períodos ou até
o fim de uma vida
bastante longa. Essa
associação de várias
drogas diferentes, entre
elas o AZT, mudou por
completo o panorama
do tratamento da Aids,
que deixou de ser uma
moléstia uniformemente
fatal para transformar-
se em doença crônica
passível de controle.
Hoje, a Aids não tem
cara.
Na maioria dos
casos, os sintomas
iniciais podem ser tão
leves que são atribuídos
a um mal-estar
passageiro. Quando se
manifestam com mais
intensidade, são os
mesmos de várias outras
viroses, mas podem
variar de acordo com a
resposta imunológica de
cada indivíduo.
Os mais comuns
são febre constante,
manchas na pele
(sarcoma de Kaposi),
calafrios, ínguas, dores
de cabeça, de garganta
e dores musculares, que
surgem de duas a
quatro semanas após a
pessoa contrair o vírus. Nas
fases mais avançadas, é
comum o aparecimento de
doenças oportunistas como
tuberculose, pneumonia,
meningite, toxoplasmose,
candidíase, etc.
O vírus HIV sobrevive
em ambiente externo por
apenas alguns minutos.
Mesmo assim, sua
transmissão depende do
contato com as mucosas
ou com alguma área
ferida do corpo. A Aids
não se transmite por suor,
beijo, alicates de unha,
lâminas de barbear, uso
de banheiros públicos,
picadas de mosquitos ou
qualquer outro meio que
não envolva penetração
sexual desprotegida, uso
de agulhas ou produtos
sanguíneos infectados.
Existe também a
possibilidade da
transmissão vertical, ou
seja, da mãe infectada
para o feto durante a
gestação e o parto
(Aids congênita).
Em Cuiabá, os
portadores do vírus são
atendidos pelo SAE, que
dispõe de uma equipe
multiprofissional
composta por
psicólogos, assistentes
sociais, enfermeiros,
nutricionistas,
farmacêuticos, dentistas
e médicos capacitados
para darem tratamento
específico aos
portadores do vírus.
prevenção em locais que
predomina o público LBGTS
(Lésbicas, Bissexuais, Gays,
Travestis e Simpatizantes).
César é um dos
cadastrados no Serviço de
Atendimento Especializado
(SAE) e diz ser muito bom o
atendimento. “Algumas
vezes sinto preconceito e
receio de alguns que fazem
parte da equipe de
profissionais”, reclama.
Outro ponto de queixa é
sobre as condutas médicas
que tem de seguir: “Como
temos que fazer exames e
pegar remédios
constantemente, essas ações
são ‘picadas’ e, no meu
caso, preciso faltar ao
serviço e nem sempre o
patrão entende. Uma
medida que ajudaria muito
seria a unificação dos
atendimentos em um único
dia. É preciso ter
sensibilidade para a
facilitação. De três em três
meses precisamos fazer a
contagem da carga viral, o
CD4 e CD8 – contagem de
linfócitos”, sugere o
soropositivo. Engajado,
batalhador, frequentador de
academia, estuda e
trabalha para manter-se
saudável. O equilíbrio em
que se encontra atualmente
é decorrente do grande
apoio que recebe da
família. César relata que
teve medo em contar aos
familiares, mas a reação foi
tão positiva que o medo se
transformou em coragem de
luta. Ele acredita que a
segurança que a mãe passa
para ele e a coragem para
desenvolver ações vêm do
receio que ela sentiu de
perdê-lo quando descobriu
a soropositividade. “Esse
medo fez com que virasse
uma mãe de verdade!”.
Jonair critica com
veemência a política pública
de prevenção direcionada
aos jovens e a falta de
serviço de proteção nas
escolas: “Quando o Estado
não cumpre o papel de
prevenção corretamente, o
número de portadores
aumenta e os gastos ficam
muito maiores”.
temerário sobre
informações e orientações
referentes à síndrome,
acarretando aumento nas
manifestações de Aids,
hepatites virais e sífilis.
Quem faz a denúncia é a
enfermeira Maria Caroline
Lopes, do programa DST/
Aids da Coordenadoria
de Educação em Saúde
da Secretaria de Saúde de
Cuiabá.
“As campanhas são
feitas sem os cuidados na
elaboração, sem análise e
revisão comportamental
ou verbal, chegando, em
alguns casos, a escancarar
preconceitos que
provocam a ira nos
grupos atingidos pelas
más colocações, gerando
denúncias. Aí, todo o
material é recolhido e a
campanha, suspensa”,
explica a enfermeira. O
Governo Federal, autor
das campanhas, engessa
estado e municípios para
efetuarem suas próprias
diretrizes na prevenção e
cuidados com a Aids.
Maria Caroline vê a
falta de orientação nas
escolas para alunos que
estão iniciando a vida
sexual como uma
contribuição para a
incidência das doenças
sexualmente transmissíveis
(DST). “Eles estão órfãos
da presença do poder
público nessa área”,
explica a enfermeira.
Quem também
lamenta a ineficiência das
campanhas de prevenção
é a coordenadora do
Serviço de Atendimento
Especializado em HIV/Aids
(SAE), Cleciane
Maximiano Tabile. “Elas
são irrisórias perto das
necessidades” e explica
que, por falta de
profissionais na equipe de
suporte, não ocorre oferta
preventiva, sendo o setor
privado quem procura por
palestras de prevenção,
quando deveria ser o
contrário. “O ideal seria
que todos os soropositivos
se cadastrem e façam o
tratamento no SAE para
evitar contágio, pois
muitos acabam
procurando tratamento
particular de doenças
oportunistas decorrentes
da Aids e mantêm sigilo
da soropositividade,
aumentando o risco de
proliferação da doença”,
alerta a coordenadora.
Ela informa que são mais
de 2.000 soropositivos
cadastrados. Segundo a
coordenadora, muitos
abandonam o tratamento
por um período que
compromete,
sobremaneira, o sistema
imunológico. Quando
voltam, as ‘justificativas’
são das mais variadas e
necessitam passar por
uma nova bateria de
exames para ser prescrito
novo tratamento a partir
dos resultados. Cleciane
explica que tiveram
problema por cerca de
três meses na realização
do exame de carga viral
devido a reformas
estruturais no prédio, mas
o serviço já está
normalizado.
A equipe do SAE está
passando por curso de
capacitação em testes
rápidos de HIV e hepatites
virais para,
posteriormente,
desenvolver ações
pontuais incentivando a
população a realizar os
exames. “Muitos pacientes
ficam com medo de fazer
exame e dar positivo. Teve
um que chegou a pular o
muro do SAE para fugir
do exame”, relatou
Cleciane.
A coo r denado r a do SAE , C l e c i ane Tab i l e , conc l ama o s
s o r opo s i t i vo s pa r a cada s t r o e t r a t amen t o
Campanha s de p r e v en ç ão con t r a A i d s /DS T do Mi n i s t é r i o
da Saúde s ão i n s í p i da s e s em ab r angênc i a
J ona i r Cé s a r é vo l un t á r i o a t uan t e em d i s s emi na r
f o rma s de p r e v en ção da doen ça
Re c ebe r r e s u l t ado po s i t i vo de i x ou de s e r
a l a rman t e depo i s do ‘ coque t e l da A i d s ’
AIDS é doença crônica