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CIRCUITOMATOGROSSO
PANORAMA
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G
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CUIABÁ, 5 A 11 DE DEZEMBRO DE 2013
HELICOVERPA
Monitoramento é a saída contra a praga
Diretor técnico da Aprosoja afirma que apesar da voracidade da lagarta houve quem tenha se aproveitado da situação para fazer
“terrorismo”. Por Diego Frederici. Fotos: Diego Frederici
Mato Grosso é a
unidade da Federação
mais importante na
produção de grãos. Um
estudo do Instituto Mato-
Grossense de Economia
Agropecuária (Imea)
indica que o Estado
produzirá 40,2 milhões de
toneladas desse tipo de
commoditie em 2013, o
que representa 22% de
tudo o que o país colherá
Ferrugem asiática preocupa
safra 2013/2014
Numa postagem em
sua página pessoal no
Facebook,
em 29 de
novembro de 2013, o
coordenador da Comissão
de Defesa Sanitária
Vegetal do Ministério da
Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa),
Wanderlei Guerra,
confirmou o primeiro caso
de ferrugem asiática no
Estado na safra 2013/
2014. A amostra foi
coletada no dia 21 do
mesmo mês, no município
de Alto Araguaia (410 km
de Cuiabá).
De acordo com
Guerra, o indício aferido é
de uma “planta guaxa”,
isto é, pés de soja que
nascem de grãos que se
espalharam por lugares
diferentes daqueles dos
quais foram inicialmente
planejados, como os
transportados por
caminhões nas estradas,
além das sementes
residuais que caem dos
maquinários agrícolas
durante a plantação da
safra. A “soja guaxa” é
hospedeira do fungo da
ferrugem asiática, uma
praga de difícil controle
que pode devastar culturas
inteiras.
O coordenador do
Mapa afirma ainda que o
local onde foram colhidas as
amostras foi roçado para
impedir o surgimento de
novos vegetais contaminados.
Controle biológico pode ser o caminho mais eficaz
O controle eficaz de
pragas que atacam as
lavouras não depende
apenas de produtos
químicos, geralmente mais
agressivos ao meio ambiente
e à saúde das pessoas. No
caso da
helicoverpaarmigera, praga
encontrada em diversos tipos
de cultura – da soja ao
tomate –, a utilização de
inimigos naturais, como
vespas, pode ser uma
poderosa aliada dos
produtores nesse combate.
Segundo o doutor em
Entomologia pela
Universidade de São Paulo
(USP) e professor da
Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT)
Orlando Sales Júnior, o foco
ao problema da
helicoverpaarmigera
não
deve ser alarmista, e sim, ser
encarado como um
“desafio”. Ele discorre
também sobre algumas das
características biológicas que
chamam a atenção sobre a
lagarta. “Trata-se de uma
lagarta de difícil controle
devido a seus hábitos, como
a polifagia – que é a grande
variedade de plantas que
consome –, alta mobilidade,
alta fecundidade e a
diapausa facultativa, ou
seja, a capacidade de
interromper seu
desenvolvimento conforme
mudanças climáticas”, diz
ele.
O pesquisador acredita,
porém, no grande potencial
de parasitoides para
combater a praga, como a
vespa
trichogrammapretiosum
, que
deposita seus próprios ovos
no interior daqueles que a
helicoverpaarmigera
põe.
Ele também destaca um
inimigo natural da sub-
família
heliothinae,
da qual
também fazem parte a
helicoverpazea
e a
heliothisvirescens
,
respectivamente, as lagartas
da espiga do milho e do
algodão e da maçã, além
de dar dicas também no
controle químico do mal.
“A vespa
campoletisflavicincta
ataca
especificamente os membros
da sub-família
heliothinae,
da qual a
helicoverpaarmigera
faz
parte. Pessoalmente
apostaria nela. Quanto ao
uso químico nas lavouras,
sugiro que a pulverização se
dê por gotas maiores na
vazão”, diz ele.
desses produtos no ano.
Assim, o monitoramento
das lavouras tem papel
fundamental para aqueles
que miram a maximização
dos resultados no campo,
sobretudo para o controle
de pragas que não
existiam nas plantações,
como é o caso da
helicoverpaarmigera
.
O diretor técnico da
Associação dos Produtores
de Soja e Milho de Mato
Grosso (Aprosoja), Luiz
Nery Ribas, acredita que a
praga não existia no Brasil
até o ano passado,
embora pondere que sua
similaridade física com
outros insetos pode tê-la
ocultado nas plantações,
dificultando sua
identificação. Ele critica
ainda a desinformação de
algumas pessoas que, na
sua opinião, fizeram
“terrorismo” com o
assunto.
“O desconhecimento
levou as pessoas a
fazerem coisas absurdas.
A lagarta é voraz, ataca
diferentes tipos de cultura,
mas teve gente que fez
terrorismo. Quando o
alarme foi feito, algumas
pessoas se aproveitaram
da situação”, diz ele.
Um levantamento da
Associação de Agricultores
e Irrigantes da Bahia
(Aiba), primeiro local no
Brasil onde o inseto foi
detectado, aponta
prejuízos de mais de R$
1,4 bilhões que já teriam
sido causados na safra
2012/2013 daquele
Estado. Ainda não existe
um estudo indicando que
a lagarta tenha causado
perdas econômicas nas
propriedades rurais de
Mato Grosso.
Nery afirma,
entretanto, que não há
motivo para alarde,
explicando que a
helicoverpaarmigera
,
apesar da sua
capacidade de
adaptação, não deixa de
ser um mal agrícola que,
como qualquer outro,
necessita de um manejo
integrado de pragas (MIP)
e que o acompanhamento
e o monitoramento das
plantações devem ser
prioridades para o
controle eficaz desses
animais. “A palavra-chave
é monitoramento das
lavouras por meio de
anotações em planilhas ou
computadores, de modo a
verificar a existência de
pragas, além do tipo e
severidade delas. Com
base nessas informações,
profissionais capacitados
podem ajudar o produtor
a escolher medidas
eficazes de controle, sejam
elas fisiológicas,
biológicas ou químicas”,
diz ele.
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