EDIÇÃO IMPRESSA - 469 - page 5

CIRCUITOMATOGROSSO
GERAL
P
G
5
CUIABÁ, 5 A 11 DE DEZEMBRO DE 2013
ATOLEIROS
Rodovia do Calcário está intransitável
Promessas do Governo do Estado não se concretizam e comprometem o crescimento da região do Vale do Araguaia.
Por Camila Ribeiro. Fotos: Reprodução/Água Boa News
Pouco mais de 110 km
de rodovia não
pavimentada, com inúmeros
buracos, atoleiros, pontes
de madeira com estruturas
comprometidas e sem
qualquer ação por parte do
Governo Estadual. Este é o
retrato da Rodovia do
Calcário, localizada num
trecho da MT-326, que liga
os municípios de Nova
Nazaré e Cocalinho, este
último já na divisa de Mato
Grosso com Goiás. Embora
seja a principal rota para o
escoamento da produção
de calcário do Vale do
Araguaia, a estrada possui
uma logística ineficiente e
que compromete o
crescimento da região e o
desenvolvimento do Estado.
Diariamente passam
neste trecho cerca de 450
carretas, que por conta das
péssimas condições da
malha viária não
conseguem trafegar a mais
de 10 km/hora. Grande
parte desses veículos é
responsável pelo transporte
das 950 mil toneladas de
calcário produzidas por
indústrias da região,
Fethab foi usado até para
pagamento de folha salarial
Criado com a finalidade de custear investimentos
na conservação de estradas e na construção de
moradias em todo o território mato-grossense, o
Fethab já teve seus recursos utilizados para as mais
diversas finalidades. Em 2011, por exemplo, após
aprovação da Assembleia Legislativa (AL-MT), o
governo estadual passou a utilizar 30% da
arrecadação do Fundo para honrar compromissos
para obras da Copa de 2014. Chegou a ponto,
ainda, de a arrecadação ser utilizada também para
quitar folha de pagamento de servidores.
Recentemente, no entanto, a AL propôs nova
mudança na distribuição dos recursos do Fethab. Da
arrecadação, que gira em torno de R$ 700 milhões
por ano, serão destinados 50% para os municípios
investirem em estradas e os outros 50% continuam nas
mãos do Governo do Estado para que sejam
aplicados na finalidade legal de sua criação:
habitação e estradas, com proibição expressa de
utilizar em folha de pagamento.
“Fonte” secou e obras serão
paralisadas na região no Norte de MT
Por meio de um
convênio firmado com o
Estado, o Sindicato das
Indústrias Madeireiras e
Moveleiras do Noroeste de
Mato Grosso (Simno) vinha
realizando obras de
restauração de pontes e
estradas não pavimentadas
nas rodovias MT-170 e MT-
208, entre Cotriguaçu e Alta
Floresta. Acontece, no
entanto, que o valor liberado
pelo governo chegou ao fim,
impossibilitando a entidade
de dar continuidade aos
trabalhos.
“É lamentável ter que
interromper a manutenção
neste momento tão
importante e decisivo para a
conclusão dos trabalhos.
Alguns pontos poderão se
tornar uma grande dor de
cabeça para a população,
caso não recebam os serviços
necessários”, argumentou o
presidente do Simno, Roberto
Rios. Além da paralisação
das obras, existe ainda o
prejuízo acumulado pelas
empreiteiras contratadas para
execução dos serviços. Muitas
empresas já haviam, inclusive,
comprado materiais em
grande quantidade para
execução total da obra
prevista no convênio 010/
2013. “Comprei muitas
ferragens, encomendei
madeira também em grande
quantidade, contratei e
registrei diversos funcionários
e agora estou muito
preocupada com o futuro do
meu empreendimento”,
desabafou a proprietária de
uma das construtoras que
executam a obra, Cleuza
Justino de Moraes.
Investimentos sem efeito
Ano a ano a
situação de caos e
descaso se repete em
cidades no interior de
Mato Grosso.
Investimentos milionários
do governo em
programas como o MT
100% Equipado –
orçado em R$ 241
milhões – e o MT
Integrado – com custo
total de R$ 1,5 bilhão –,
não conseguem
solucionar problemas
crônicos, como as
dificuldades, ou até
mesmo a
impossibilidade de
veículos trafegarem em
algumas estradas na
época das chuvas, por
exemplo. Um dos casos
retratados com
frequência é a situação
na saída do município
de Colniza para
Aripuanã (1.114 e 1.014
km de Cuiabá,
respectivamente), onde,
chegada a temporada
de chuva, a população
começa a sofrer com os
atoleiros encontrados no
local. Por se tratar da
principal rota de entrada
e saída da cidade,
rapidamente os
munícipes começam a
ser penalizados com o
desabastecimento de
alimentos,
medicamentos,
combustível e produtos
em geral.
Quando “a coisa
aperta”, são tomadas
medidas emergenciais e
que nem de perto se
aproximam daquilo que
é almejado pela
população. “Toda ano é
a mesma coisa, não sei
se falta maquinário, se
falta vontade política,
mas o que a gente
observa é que falta
principalmente que as
coisas sejam bem feitas
para evitar que uma
nova chuva traga todos
os problemas de volta”,
alega o vereador por
Colniza Francisco Borges
dos Santos, o ‘Chicão’
(PPS).
O parlamentar alerta
para o fato de que, em
breve, poderá mais uma
vez ser noticiado o
isolamento dos
moradores dos distritos
de Guaíba e Três
Fronteiras, que
frequentemente são
penalizados pelo que ele
chama de ineficiência do
poder público.
Empresa amarga
10 anos de espera
“Há dez anos estou à
frente de uma indústria de
mineração aqui em Água
Boa e cansada de esperar
que as promessas de
Governo se concretizem. O
Vale do Araguaia está
limitado por conta da
situação calamitosa da BR-
326”. Este foi o desabafo
da empresária Neila
Godinho, em entrevista ao
Circuito Mato Grosso
.
Ela, que é uma das
proprietárias da Mineração
Serra Dourada, diz que a
situação chegou a ponto
de o produtor não
conseguir mais transportar
o calcário, dadas as
péssimas condições da
principal rota de
escoamento.
À reportagem, ela
alegou que muitos veículos
levam aproximadamente
oito horas para percorrer
um trecho de 100
quilômetros. Isso, segundo
ela, quando não estão
impossibilitados de trafegar
por conta dos atoleiros.
Engana-se, ainda, aqueles
que pensam que os
problemas limitam-se à
época das chuvas. Por se
tratar de uma região
bastante baixa e bem
próxima a alguns rios,
durante as chuvas as águas
invadem a pista; já durante
a seca, os caminhões ficam
atolados na areia. “É uma
região que precisa de
reparos o ano todo”,
admite a empresária.
Em que pese a
necessidade da
manutenção, moradores da
região dizem que as ações
do governo estadual são
quase inexistentes. Este ano,
por exemplo, a estrada não
recebeu qualquer trabalho
de manutenção realizado
pelos maquinários do
Estado. A situação só não é
ainda pior porque os
empresários se unem para
realizar alguns reparos nas
estradas.
“Além da estrada
principal que está
comprometida, as vias
alternativas também não
suportam a demanda,
então temos que nos unir e
fazer alguns reparos, caso
contrário ninguém
consegue passar pela
região. É triste ver o poder
público relegando o
problema que é de sua
competência”, lamenta
Neila.
conforme apontam dados
da Aprosoja.
Empresários e
caminhoneiros relatam que,
atualmente, o trecho de 12
km, entre a balsa de
transportes até a Calcário
Roncador – mineradora
localizada no município de
Cocalinho –, é o mais
crítico. A falta de
pavimentação, os atoleiros
e problemas causados aos
veículos transportadores
oneram, inclusive, o custo
do calcário.
Muitos contabilizam,
ainda, prejuízos em
decorrência da
precariedade das vias. Não
é raro encontrar caminhões
parados na estrada, sem
condições de seguir viagem,
devido ao abandono da
região. Na última semana,
por exemplo, motoristas
foram obrigados a
interromper as viagens,
enquanto aguardavam
alguns reparos na via. Os
reparos, contudo, são feitos
por iniciativa das próprias
mineradoras, que cansadas
de esperar as promessas do
governo acabam realizando
pequenas obras na tentativa
de dar vazão à produção.
“Não há mais
condições de tráfego neste
atoleiro. Nem trator está
conseguindo andar por
aqui; muito menos, carretas
pesadas. Precisamos de
máquinas realizando
serviços frequentes na
rodovia. Há 30 anos
trabalho carregando
calcário e, sinceramente,
nunca vi a estrada tão
detonada do jeito que está
hoje”, assegurou o motorista
Bruno Peters ao site de
notícias local, Água Boa
News. Desapontado com o
que classifica como descaso
do Governo Estadual, ele
diz acreditar que boa parte
dos recursos do Fundo
Estadual de Transporte e
Habitação (Fethab) esteja
sendo desviada. Por fim,
Peters ainda admite estar
pensando na possibilidade
de ‘abandonar’ a profissão,
já que as estradas fazem da
atividade algo
extremamente desgastante.
“A maior parte do dinheiro
do Fethab está sendo
roubada e o restante vai
para as obras da Copa em
Cuiabá. Ainda bem que as
seleções não vão passar por
aqui nesta estrada, aí não
teria Copa porque não tem
mais estrada. Acho que vou
fazer só mais esta viagem e
entregar a carreta para o
patrão”, desabafou.
Enquanto outras
centenas de motoristas já
pensam em abandonar os
serviços, por não mais
aguentarem contabilizar
prejuízos, o trecho de 112
km da MT-326 já foi
licitado, por meio do
programa estadual MT
Integrado. Dividido em três
lotes e a cargo de diferentes
empresas, a ordem de
serviço para o início deve
acontecer somente no
próximo ano.
Rodo v i a do Ca l c á r i o , l oc a l i z ada na MT- 326 , é
r e t r a t o do de s ca s o com e s t r ada s e s t adua i s
Neila Godinho diz que, na medida do possível,
empresários da região é que realizam reparos nas vias
Em mu i t o s t r e cho s , a t o l e i r o s impedem que o s
c am i n hon e i r o s s i gam v i ag em
Por falta de recursos, sindicato que realizava manutenção
de pontes no Nortão ficou impedido de realizar os serviços
1,2,3,4 6,7,8,9,10,11,12,13,14,15,...20
Powered by FlippingBook