EDIÇÃO IMPRESSA - 458 - page 8

CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 19 A 25 DE SETEMBRO DE 2013
CAPA
P
G
8
Caso a Secopa não consiga fazer a contenção em tempo hábil, poderá ocorrer desmoronamento no período chuvoso.
Por: Rita Anibal. Fotos: Mary Juruna
DESPRAIADO
Encosta corre risco de deslizamento
A obra do viaduto do
Despraiado, uma das obras
mais adiantadas para a
Copa 2014, está sendo
motivo de preocupação
para moradores do bairro
Santa Helena, em uma área
localizada no ponto mais
alto do corte de solo feito
pela empreiteira para a
construção
da
passagem
viária. Esse
corte
originou
uma
encosta
íngreme,
livre de
vegetação,
ao final dos
quintais das
casas,
colocando
os
moradores
em iminente
risco de
desmoronamentos. Mário
Cavalcanti de Albuquerque,
geólogo do Conselho
Regional de Engenharia e
Agronomia (Crea-MT), fez
uma vistoria informal na
região a pedido do
Circuito Mato Grosso
e
comprovou que o talude
Casas já apresentam fissuras
e deslocamento de muros
Famílias inteiras estão
vivendo momentos de
indecisão quanto ao futuro
de suas casas, uma vez
que não foram notificadas
sobre qualquer
intervenção da Secretaria
Extraordinária da Copa
(Secopa). Sob o manto de
boatos, essas pessoas
estão preocupadas, pois
algumas casas já
apresentam fissuras nas
paredes e deslocamento
dos muros.
Moradora há 29 anos
na mesma casa, dona
Vani Zaneti se preparou
para uma reforma no
início do ano, depois de ir
até a Secopa saber se sua
residência iria ser afetada
pela construção do
viaduto. Recebeu como
Após vários
anúncios de
inauguração,
Secopa
recua
Em coletiva de
imprensa, o secretário
extraordinário da
Copa 2014, Maurício
Guimarães, não falou
em falha na
condução da obra da
trincheira do
Despraiado, mas,
usando termos
técnicos, anunciou
que ela não será a
primeira a ser
inaugurada: “Só
vamos entregar a
qualidade contratada
e até agora não se
fechou efetivamente
um traço (qualidade
da última capa)”. O
Viaduto do
Despraiado está
pronto, mas de
acordo com o
secretário, a obra
compõe 1,8 km de
recuperação da
Miguel Sutil. “Essa
camada de
recapeamento que
está sendo exigida e
que foi contratada
não tinha sido
encontrado o traço
que permitisse validar
a qualidade”.
Falha grosseira no viaduto
do trevo da UFMT
Erro gritante na
construção do viaduto da
UFMT foi constatado
recentemente, o desnível
de 40 cm entre dois
pilares de sustentação. O
executor da obra é o
Consórcio VLT Cuiabá -
Várzea.
Depois de quase um
mês em sigilo, a Secretaria
Extraordinária da Copa
(Secopa) e o governador
Silval Barbosa admitiram
a falha e informaram que
o consórcio VLT-Cuiabá já
estava corrigindo os
desníveis dos pilares do
viaduto, por onde passará
o modal de transporte que
está sendo implantado na
Capital. Em resposta à
imprensa, a Secopa e o
Consórcio afirmaram ser
“um erro exclusivamente
de execução da obra, e
não na realização do
projeto”.
Mesmo com o
Consórcio VLT Cuiabá -
Várzea Grande ter iniciado
a reparação do erro, o
Ministério Público Estadual
(MPE) abriu inquérito para
apurar o acontecido e
solicitou uma avaliação
técnica da obra ao
Conselho Regional de
Engenharia e Agronomia
de Mato Grosso (Crea-
MT) que, após vistoria,
constatou que as falhas
eram em quatro pilares e
não em apenas um, como
noticiado.
À época, o
Circuito
Mato Grosso
ouviu o
professor-doutor do
Departamento de
Engenharia da UFMT, Luiz
Miguel de Miranda, que
relatou sobre o risco que
uma diferença de 40 cm
pode representar numa
obra. “Apenas 2
centímetros já seriam
suficientes para
descarrilhar um trem”,
alertou o especialista, que
trabalha há 40 anos com
projetos e foi um dos
fundadores da divisão de
estudos e projetos do
antigo Departamento
Nacional de Estradas de
Rodagem do Rio de
Janeiro. A declaração do
Consórcio sobre o erro
apresentado levou o
professor e engenheiro a
ser enfático: “É muito
difícil que um engenheiro
cometa um erro deste nível
na execução, já que a
medida de altura é um
ponto básico na
engenharia. Na verdade,
esta declaração pode ser
mesmo uma cortina de
fumaça para o projeto.
Esta obra ainda deve estar
sendo trabalhada com o
projeto-base apresentado
na concorrência, e não
com o projeto executivo,
de fato”.
resposta que estava tudo
certo e, caso algum
pedaço do terreno fosse
usado na construção, ela
seria ressarcida.
A família se junta
para comprar material de
construção e contratar um
arquiteto, mas sua casa já
apresenta fissuras e ela
acredita que perderá tudo:
“Meu filho está a poder
de remédio ‘tarja preta’
com essa situação
indefinida e pensando na
quantia que vamos
perder”, relata em
desespero.
Vani conta que
durante as obras houve
muitos abalos sentidos por
todos os vizinhos e que
tem até medo de ir ao
fundo do quintal: “Antes
era uma descida suave,
agora virou um precipício;
tenho medo de quando
começar a chuva e ir
levando tudo, até minha
casa”.
Lidiane da Silva,
moradora ao lado de
dona Vani, informa que
funcionários da Secopa
estiveram lá fazendo
pesquisas, tirando fotos e
perguntando se havia
rachaduras nas casas, mas
não deixaram nada
‘oficial’. Além da Secopa,
assistentes sociais
“estiveram aqui para
verificar a situação das
famílias, já que a maioria
é humilde”, explicou
Lidiane. Ela relata que um
funcionário da Secopa
disse que as casas seriam
desapropriadas “porque
os moradores estão
impedindo o andamento
da obra” e um geólogo
contou que o barranco vai
cair aos poucos.
Todas essas
indefinições estão
provocando revolta entre
eles e uma das moradoras
chegou a fazer uma
pergunta contundente: “De
que adianta essas obras
para melhorar Cuiabá se
está prejudicando tanta
gente?”.
Moradora do local, D.
Vani tem medo de sua casa
ser levada com as chuvas
da com as chuvas
Mo r ado r a há 40 ano s
na me sma c a s a , N i l da
l amen t a s e t i v e r de s a i r
l amen t a s e
(corte) praticado colocou a
rocha em exposição,
abrindo a possibilidade de
deslizamentos na época das
chuvas.
O geólogo explicou
que o solo é constituído de
rochas metamórficas,
sedimentadas “em folhas”,
e o corte provocou falhas e
fraturas,
ocasionando
a perda de
estabilidade
(veja
infográfico).
Essa
instabilidade
pode ser
corrigida
com a
construção
de um
muro de
arrimo, mas
a um custo
muito alto.
Caso
a
contenção tivesse sido feita
previamente, com a
correção da instabilidade
do talude, não haveria
riscos de um possível
solapamento [erosão].
Consequentemente, não
haveria situação de
insegurança para a
população local.
O elevado risco de
desmoronamento e queda
de barranco é causado pela
perda da coesão do
material. As intempéries, isto
é, a sucessão de períodos
de chuva seguida de
períodos de estiagem [sem
chuva] começam formar no
solo trincas e rachaduras
que vão aumentando com o
tempo. Como o solo está
‘em camadas’, há um
deslizamento da camada
mais externa que pode
causar danos irreparáveis,
como a perda de vidas
humanas.
Albuquerque constatou
que uma das rochas com
fraturas está como um
‘iceberg’ e um bloco já foi
solapado: “Mexeram numa
caixa de marimbondos”,
comparou o profissional.
Enquanto isso, na
Avenida Miguel Sutil, no
início do viaduto, operários
da construtora Dracon
realizam a construção da
calçada sem haver a devida
contenção da encosta. O
Circuito Mato Grosso
perguntou ao responsável
da obra, que não quis se
identificar, sobre a
construção do muro de
arrimo: “Nossa empresa foi
contratada apenas para
fazer as obras do viaduto. A
Secopa é quem tem que
responder isso!”. A
reportagem reiterou a
“Como o solo está
‘em camadas’, há
um deslizamento da
camada mais
externa que pode
causar danos
irreparáveis, como a
perda de vidas
humanas.”
pergunta sobre o muro e ele
foi categórico: “Do jeito que
está, se não construírem um
muro com alta sustentação,
cai muro e caem as casas”.
De acordo com o chefe
de fiscalização do Crea,
André Schuring, a entidade
não tem atribuição para
fazer nenhuma denúncia
nem mesmo junto à Defesa
Civil neste caso. “Apenas
podemos interferir se houver
um pedido formal do
Ministério Público
Estadual”, explicou.
O co r t e f e i t o pa r a a con s t r ução do
v i adu t o de i x ou o ba r r an co s em p r o t e ção
Em v i s t o r i a i n f o rma l , o geó l ogo Má r i o Ca v a l can t i
a t e s t ou o pe r i go de de smo r onamen t o
A i n s t ab i l i dade f o rmada com o co r t e pode
p r o v o c a r de s l i z ame n t o da e n c o s t a
“Do jeito que
está, se não
construírem
um muro com
alta
sustentação,
cai muro e
caem as
casas”.
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