CIRCUITOMATOGROSSO
PANORAMA
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CUIABÁ, 19 A 25 DE SETEMBRO DE 2013
CÂMBIO
Especialista do Imea defende equilíbrio no câmbio e afirma que o dólar sobrevalorizado também pode trazer prejuízos aos
produtores. Por: Diego Frederici. Fotos: Mary Juruna/Diego Frederici
Alta do dólar é ‘faca de dois gumes’
A valorização do dólar
frente ao real pode ser
boa ou ruim para os
negócios, dependendo da
realidade de cada
empreendedor. Em certos
tipos de empresas, como
as que têm foco na
exportação de produtos,
há um valor agregado que
incide sobre os produtos
que vão para fora,
geralmente negociados na
moeda norte-americana.
Para o cidadão, há
também o lado negativo e
o positivo dessa oscilação.
Então, de que maneira
o preço de uma moeda
estrangeira pode impactar
a economia de um país?
Embora discussões sobre
as consequências da
política monetária sejam
de grande importância
para as estratégias que um
país tem em relação à
saúde financeira dos seus
cofres, a população acaba
ficando à margem de um
discurso que pode soar
pouco compreensível aos
ouvidos de pessoas leigas.
Leonela Guimarães,
mestre em Economia e
docente da Universidade
Federal de Mato Grosso
(UFMT), aponta que há
uma relação conceitual na
valorização cambial.
Segundo ela, fatores
externos influem nessa
variação de preço da
moeda, e que no mundo
dos investidores a
confiança em determinado
ente – seja ele um país
inteiro ou apenas sua
moeda corrente – define os
investimentos (ou falta
deles) que serão
Momento favorece turismo
Além de fatores
externos tendo a
política monetária dos
Estados Unidos como
principal fator, há
reflexos na economia
nos países menos
desenvolvidos. A mestre
em Economia Leonela
Guimarães afirma que
mercadorias importadas
tendem a ficar mais caras
com a desvalorização do
real. O câmbio pendendo
para o lado do dólar,
entretanto, não traz
apenas consequências
negativas para o
consumidor comum,
segundo a economista.
“Toda vez que a
gente tem a moeda
valorizada, o preço
dos produtos
importados aumenta
em virtude da
desvalorização do real.
Por sua vez, esse
enfraquecimento
beneficia não só os
setores exportadores
como o turismo. Tendo
em vista que uma
viagem ao exterior
nessa época do ano
encarece os custos, há
preferência dos turistas
em viajar pelo país,
ajudando também a
movimentar a
economia”, pondera.
Dona de padaria fala que trigo
aumentou 30% em 2 meses
Os reflexos da
importação de
commodities –
como
também são conhecidas
as matérias-primas no
mundo dos negócios – já
são sentidos por alguns
empreendedores da
capital de Mato Grosso,
como Cenil Maria,
proprietária da Padaria
Caramellas, no bairro
Bela Vista. Segundo ela,
em menos de dois meses
o preço do trigo subiu
mais de 30%,
encarecendo os custos.
“De julho a agosto
houve um aumento de
30% da saca do trigo e a
tendência é aumentar.
Porém, não podemos
repassar tudo para o
cliente, por isso houve
aumento de pouco mais
de 10% no valor do quilo
do pão francês, passando
de R$ 9,49 para R$
10,49. Conseguimos
segurar os preços para
outros produtos derivados
do cereal, mesmo que a
concorrência do mercado
nos pressione”, diz ela.
Como sabemos, o
trigo é uma das principais
matérias-primas da
panificação, a arte de
fabricar pães e similares.
No entanto, a produção
brasileira não consegue
atender toda a demanda.
Segundo dados da
Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária
(Embrapa), o Brasil
produzirá 5 milhões de
toneladas de trigo, ao
passo que consumirá 11,2
milhões de toneladas,
transformando o país no
segundo maior importador
do produto no mundo,
perdendo apenas para o
Egito.
Já o comércio de
insumos agrícolas sofre
não apenas com a
desvalorização do real,
mas com a falta de
industrialização. Daniel
Felix Branisso é veterinário
na Agro Boi, loja do
segmento em Cuiabá, e
dá o exemplo das cercas
de metal utilizadas em
propriedades rurais que,
apesar do uso de matéria-
prima brasileira – no caso,
o ferro –, precisam ser
industrializada no exterior,
sendo necessária a
importação feita em dólar.
“O Brasil exporta os
minérios para siderúrgicas
do exterior. Essas
empresas, por sua vez,
transformam o material
bruto num produto
comercializável, já
industrializado, no caso,
uma cerca que pode
delimitar uma propriedade
rural. Além de pagar pelo
valor agregado da
confecção do material,
pagamos a importação
negociada em dólar”,
afirma ele. (Colaborou:
Valquiria Castil)
CUIABANOS SENTEM ALTA DO PÃO
O panificador Milton
Ramos reforça que de
fato houve um
aumento do valor do
pão francês, passando
de R$ 7,90 o quilo
para R$ 9,90 o quilo.
Ele explica que o
aumento do dólar fez
subir não só o pão
francês mas também
outros produtos à base
do trigo importado.
O s e r v i do r púb l i c o
Robe r t o Amo r i m no t ou
a d i f e r ença do va l o r na
comp r a do s pãe s , que
an t e s e r am c i n co
un i dade s e ho j e s ão
apena s t r ê s , pagando o
me smo v a l o r. A
i n f l ação “r e f l e t e no d i a
a d i a , s e vê pe l os
g ê n e r o s a l i me n t í c i o s
c u j o p r e ç o aume n t ou
mu i t o ” , s i n t e t i z a .
O c l i en t e Á t i l a
Ca l ç ada Ga r c i a
r e conhe c e que o
aumen t o do dó l a r é
bem s i gn i f i c a t i v o e
que s en t i u pe s a r no
bo l so o aumen t o do
pão . E l e c omp l e t a
d i z e ndo qu e i n c l u s i v e
j á no t a um va l o r bem
d i f e r en t e na comp r a
do mê s em r e l ação ao
p e r í odo an t e r i o r.
realizados, bem como o
preço final de
determinadas mercadorias
ou serviços.
“O dólar é um
produto. Como qualquer
produto, sempre que a
oferta supera a demanda,
o preço cai, e vice-versa.
O mercado também
funciona de acordo com a
confiança dos investidores.
Se o presidente do Banco
Central dos EUA anuncia
que há uma tendência
para aumento dos juros,
por exemplo, há uma
corrida pela retirada do
dólar que está investido
nas economias
emergentes, pois juros
maiores nos EUA
significam maior
rentabilidade do capital.
Com pouco dólar
disponível, seu preço
aumenta”, analisa a
docente.
No caso da
agricultura, a vantagem da
alta do dólar pode ser
relativa. Para o analista de
grãos do Instituto Mato-
Grossense de Economia
Agropecuária (Imea),
Angelo Ozelame, é preciso
cautela na euforia
proporcionada pela
valorização do dólar, pois
o incremento de ganhos
varia de acordo com o
planejamento da
produção que cada
agricultor faz, isto é, o
levantamento de custos e
recursos disponíveis para o
desenvolvimento da safra.
“O dólar é uma faca
de dois gumes que
depende do modo como
você faz o manuseio. Uma
valorização dessa moeda
em relação ao real pode
ser benéfica para os
exportadores de grãos, por
exemplo, apenas quando
o custo que engloba
insumos necessários ao
desenvolvimento da safra
já foram planejados.
Nesses casos, o dólar só
traz ganhos. Do contrário,
irá aumentar os recursos
necessários à produção”,
diz ele.
De junho até a última
semana de agosto de
2013, houve valorização
de 10% na moeda norte-
americana. Nesse mesmo
período, o preço da saca
de soja teve incremento de
15% na sua
comercialização no
mercado interno, de
acordo com Ozelame. O
especialista do Imea, no
entanto, defende um
equilíbrio entre o valor da
moeda brasileira e o da
norte-americana, dizendo
que um câmbio muito
desigual também cobra
seu preço.
“É preciso haver um
equilíbrio nessa diferença
de uma moeda para a
outra, pois, do contrário,
alguns podem realmente
se beneficiar, mas outros
poderão ter grandes
prejuízos, sobretudo
aqueles que não têm os
custos fechados de
produção, como o
investimento necessário em
maquinário e demais
insumos agrícolas. Quem
quer vender terá seu lucro,
mas o custo de produção
também cobrará seu
preço”, afirma ele.
Ange l o Oz e l ame , ana l i s t a de g r ão s do I n s t i t u t o
Ma t o -Gr o s s e n s e d e E c onom i a Ag r op e c uá r i a
L eone l a Gu ima r ãe s , me s t r e em Economi a e docen t e
da Un i v e r s i dade F ede r a l de Ma t o Gr o s s o
A s be l e z a s na t u r a i s do mun i c í p i o
de Nob r e s s ão um dos ma i o r e s
a t r a t i vo s pa r a o t u r i s t a no E s t ado