EDIÇÃO IMPRESSA - 458 - page 18

CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 19 A 25 DE SETEMBRO DE 2013
CULTURA EM CIRCUITO
PG 6
Info: (65) 3365-4789
CADEIRA DE BALANÇO
PPor Carlinhos Alves Corrêa
r
r
Carlinhos é jornalista
e colunista social
Rosemar Coenga é
doutor em Teoria Literária e
apaixonado pela literatura de
Monteiro Lobato
ALA JOVEM
PPor Rosemar Coenga
o
ENTRE A SAUDADE E A ESPERANÇA
BOM JESUS DE CUIABÁ
O templo que um dia foi Matriz,
depois Catedral, e hoje Catedral Basílica
do Senhor Bom Jesus de Cuiabá,
padroeiro da Cidade Verde, é venerável
por diversos fiéis. Segundo narram as
histórias, a imagem chegou à Villa Real
em 1729, foi fabricada de madeira na
Villa de Sorocaba por mãos de uma
mulher. Bons tempos quando na Catedral
do Bom Jesus as senhoras Aidinha
Epaminondas, Lourdes Campos Oliveira,
Elza Nigro, Maria Latorraca, Tutica de
Oliveira, Vidú Bastos, Isaura Biancardini,
Libânia Lobo, e algumas devotas faziam
parte da irmandade do Senhor Bom Jesus
do Cuiabá. Em setembro, prestavam justa
homenagem ao padroeiro. É bom
lembrar que a irmandade começou por
volta do ano 1728. Hoje, vejo um
setembro na Catedral do Bom Jesus sem
vida, a falta de fé está distanciando as
famílias deste encontro na Casa de Deus.
O imaginário da sociedade cuiabana
teve no signo componente fundamental.
Antigamente, em momentos de
dificuldades, era calorosamente invocado
pela população, que saía às ruas em
procissões, cantando louvores e
solicitando sua proteção ao Bom Jesus de
Cuiabá.
RESIDÊNCIA DOS
GOVERNADORES
Tem muita gente que trafega entre a Rua
Barão de Melgaço, esquina com a Rua
Cândido Mariano, nº 3.565, e não sabe
que ali está edificada a antiga Residência
dos Governadores. Tombada para ser
Museu dos Governadores, tudo aconteceu
na gestão do governador Júlio Campos.
Infelizmente muitos governadores que
passaram não se preocuparam em preservar
a memória dos fatos marcantes que
ocorreram nesta residência. O projeto
elaborado pelo arquiteto Humberto Kaulino
obedeceu ao estilo usado no Rio de Janeiro
na década de 30: neocolonial foi a
prioridade das “obras oficiais”, determinada
pelo governo Julio Müller. Assim era a
Residência dos Governadores. O ideal seria
que voltasse o Museu dos Governadores,
sendo que possuem um acervo catalogado
de objetos que pertenceu à Residência,
podiam transformá-la num espaço de
visitação publica com dados históricos,
principalmente em 2014, quando Cuiabá
estará recebendo inúmeros visitantes para a
Copa do Mundo. Não adianta contar fatos
sem mostrar as verdadeiras identidades,
como no caso da Catedral do Bom Jesus
que doaram as suas imagens sacras para o
Museu do Seminário, onde a sua história nos
conduz à data de 1729. É bom lembrar: as
tradições são as rugas e os cabelos brancos
da história.
LEMBRADA: PARTEIRA
Antigamente, em Cuiabá havia muitas
parteiras, mas dentre as mais lembradas
estava Dona Micaela. Ela dispunha, sem
dúvida, de uma robustez física pelo seu
porte e pelo incansável trabalho que
assumia exercendo a missão de amor à
vida, como “parteira”. Elegante, vestia-se
bem e tinha profunda sensibilidade na
escolha de suas roupas. Era uma mulher
pobre com alma de luz, mas sua aparência
era de uma ilustre dama da sociedade
cuiabana. E de fato era, pela nobre missão
que cumpria. Moradores dos bairros
Coxipó, Araés, Morro do Tambor, Baú,
Areão e grande parte da área central de
Cuiabá devem se lembrar de Dona
Micaela. Viveu 86 anos e desde a década
de 20 fazia parto. Atendeu parturientes,
desde as mais humildes até as famílias
nobres e de tradição da cidade. Essa
mulher, que realizou em Cuiabá uma obra
social primorosa, ainda não recebeu a
recompensa de uma vida gloriosamente
fraternal. Em sua condição de mulher negra
e pobre, ela jamais poderia receber dos
seus conterrâneos a perpetuidade do seu
exemplo dedicado com a denominação do
seu nome a um posto de saúde, rua ou
praça pública. A sociedade preconceituosa
ainda é dirigida pelo discurso que
emociona e não pelo exemplo que arrasta.
Tanto ela como muitas outras parteiras
mereciam estar na galeria dos nossos heróis.
A chegada
(2011) foi escrito por Shaun
Tan e publicado pela Editora SM. Shaun
Tan é formado em Belas Artes e Literatura
Inglesa. A obra
A chegada
recebeu o
prêmio de Melhor Ilustração e foi
nomeado melhor artista no World Fantasy,
pelo conjunto de sua obra.
O livro em quadrinhos sem palavras
conta a história de cada refugiado, cada
migrante, cada deslocado à força, em
diferentes países e períodos históricos,
homenageando todos aqueles que tiveram
de fazer uma viagem desse tipo. Shaun Tan
apresenta essa intrigante sensação do
recomeço, do ser estrangeiro, do
estranhamento.
O enredo é bastante enxuto: um
homem deixa a mulher e a filha pequena
em sua antiga cidade, muda-se para uma
nova e tenta trazê-las posteriormente, em
busca de uma vida melhor. A narração de
tal
deslocar
pode não ser nova, mas o
artista australiano a constrói de modo
bastante delicado – e com uma visão muito
particular. Em pouco mais de 120 páginas,
a história, aparentemente simples, revela
sua força.
De início, se o protagonista encontra
uma cidade absolutamente nova para si, a
impressão não será menos estarrecedora
para o leitor. Tal “novo mundo” é por
completo desconhecido. Estranhas formas,
construções incomuns, maquinarias de difícil
entendimento, seres fantásticos. A metrópole
à qual se lança é um pequeno universo de
tons oníricos, do qual pouco se apreende.
A obra promove o compartilhamento
das percepções do protagonista, ou, de
fato, de toda uma infinidade de imigrantes
que tentam recriar suas vidas em uma
grande metrópole, entre saudades,
esperanças e descobertas.
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