EDIÇÃO IMPRESSA - 458 - page 4

CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 19 A 25 DE SETEMBRO DE 2013
POLÊMICA
P
G
4
HORA DA MORTE
Problemas na transfusão de sangue e agressão a uma servidora da Farmácia de Alto Custo soam como o limite do sucateamento do
SUS. Por: Rita Anibal. Foto: Mary Juruna.
Transfusão em risco e agressões no SUS
O MT Hemocentro,
setor da Secretaria de
Estado de Saúde (SES)
responsável pelo processo
de coleta e preparação do
sangue para doação, vive a
pior fase de sua história. Os
funcionários são obrigados
a recorrer ao Hospital e
Pronto-Socorro Municipal de
Cuiabá ou a secretarias de
Saúde do interior do Estado
para garantir a realização
do teste de compatibilidade
de sangue para transfusões.
Quando não conseguem o
kit, o teste é feito
manualmente, procedimento
que leva quase duas horas
para ser concluído. Já o
teste rápido não passa de
40 minutos. Isso significa
que uma transfusão está
sendo realizada com pelo
menos duas horas de
atraso, colocando em risco
a vida do paciente.
De acordo com
profissionais do
Hemocentro, mesmo que
um sangue seja do mesmo
tipo do paciente que
aguarda a transfusão, faz-
se necessário o exame de
compatibilidade. Além
disso, também é preciso que
o sangue passe por exames
para detectar doenças
como sífilis e Chagas, o que
Desde que a Farmácia
de Alto Custo sofreu
intervenção da Secretaria
de Estado de Saúde (SES),
por conta de denúncias
contra o Instituto
Pernambucano de Saúde
(Ipas) – Organização Social
de Saúde que tinha a
concessão da gestão da
farmácia – o ambiente
naquela unidade tornou-se
uma bomba-relógio. Na
manhã de 17 de setembro,
uma funcionária foi
agredida fisicamente por
uma usuária – que é
soldado do Corpo de
Bombeiros –, irritada com a
demora no atendimento.
De acordo com
relatos, a funcionária teria
explicado que não era por
“Estado aposta na
desinformação do cidadão”
EDUCAÇÃO
Sintep chama governo de “mentiroso”
Governo estadual anuncia em propaganda o piso dos professores, que não condiz com a realidade, segundo o Sintep.
Por: Rita Anibal. Fotos: Mary Juruna
A população de Mato
Grosso está sendo
bombardeada, através de
propagandas na televisão,
de que o piso salarial de
um professor do Estado é
de R$ 2.353,77, dado
esse contestado pelo
Sindicato dos
Trabalhadores do Ensino
Público (Sintep). O
presidente do Sintep,
Henrique Alves, ao ser
procurado pelo
Circuito
Mato Grosso
Mato Grosso
para
explicar a divergência,
enfatiza que o piso é de
R$ 1.569,18 para os
técnicos de Magistério, o
equivalente ao diploma
de Ensino Médio, mesmo
piso dos técnicos
administrativos
educacionais. “O que o
governador Silval mostra
na TV é o piso de
professores graduados,
classe B e nível 1”,
explanou o presidente.
Alves também
denuncia que quase
metade dos 22.982
professores é contratada
temporariamente e sobre
eles não recaem os
benefícios dos professores
efetivos que recebem as
horas-atividade e,
somente nesse item, o
Governo do Estado deixa
de ‘desembolsar’ um
montante significativo em
salários. Todos esses são
motivos que levaram a
categoria a manter a
greve na última
assembleia. Nesta quarta-
feira (18), o governador
Silval Barbosa, diante da
resistência dos
profissionais da Educação
e da manutenção da
greve, elaborou proposta
de aumento real de 7,18%
para a categoria.
Segundo o Sintep, a
Constituição estadual, em
seu artigo 245, determina
que 35% das receitas
constitucionais devem ser
aplicadas na educação,
mas os últimos governos
têm se recusado a chegar
a esse patamar de
investimento e que o
‘governo mente’ ao
justificar a falta de
recursos para investir na
educação de crianças,
jovens e adultos.
O piso usado como
parâmetro pelo Sintep foi
confirmado pelo
coordenador da
Conferência Nacional de
Educação (Conae) de
2014 e do Fórum
Nacional de Educação,
Francisco das Chagas
Fernandes: “O piso
salarial é referente ao
Ensino Médio com plano
de carreira para que o
técnico em magistério não
fosse prejudicado; o piso
aumenta significativamente
se o professor tiver
graduação em alguma
área e o valor é
estabelecido em nível de
cada estado”. Chagas
explica que o plano de
carreira contempla, além
da graduação, os cursos
extras de especialização,
mestrado e doutorado.
Francisco Chagas
esteve em Cuiabá para o
Conae Intermunicipal que
estaria esvaziado não
fosse a presença maciça
dos professores grevistas e
vários estudantes
representando algumas
entidades como União
Nacional dos Estudantes
(UNE), União Estadual dos
Estudantes (UEE) e União
Brasileira dos Estudantes
Secundaristas (Ubes),
dentre outras.
Durante o Conae, que
não contou com a
presença do secretário de
Estado de Educação,
Ságuas Moraes (PT),
gritando palavras de
ordem, professores e
estudantes protestaram
contra a atual organização
educacional em Cuiabá e
no Brasil durante a
conferência, onde
aplicaram retumbante vaia
a Rosa Neide Sandes de
Almeida, secretária adjunta
de Políticas Educacionais e
à atual secretária de
Educação de Barra do
Garças, Fátima Resende
(PT), que recentemente
ocupava um dos cargos
adjuntos da Secretaria de
Estado de Educação
(Seduc).
P r e s i den t e do S i n t ep -
P r e s i den t e do S i nt
MT, He n r i que A l v e s
l i d e r a mo v i me n t o
g r e v i s t a que t ende a
a c aba r c om no v a
p r opo s t a do Go v e r no
O Estado brasileiro
optou por não interferir,
assim, o mercado da
saúde está sendo
regulado pela iniciativa
privada. Enquanto isso,
a população está sendo
marginalizada; não se
está dando o livre
exercício de cidadania.
Esta afirmação é de
Marco Aurélio Bertúlio
das Neves,
O professor revela
que a atual gestão está
apostando na
desinformação do
cidadão: “Quando o
Estado contrata a
inciativa privada e passa
ao cidadão que os
serviços vão melhorar,
ele omite o custo dessa
parceria; ele não
informa que se esses
mesmos serviços fossem
efetuados por servidores
públicos, poderiahaver
melhores resultados se
fossem dados os
mesmos recursos dados
à iniciativa privada”.
A universalização
da saúde e o caminho
para a igualdade no
atendimento estão
longe, pois o que se vê
é que quem tem plano
de saúde particular é
considerado detentor de
certo sucesso na vida
laboral. “Portanto, o
SUS ficou para os
marginalizados, quem
não tem plano ficou
com o rótulo de
fracassado na vida
profissional”, disse o
professor.
A política atual,
voltada para atender a
determinados setores
privados, na visão de
Bertúlio, ocorre porque
a saúde tem muito
dinheiro; existem
hospitais geridos pelo
setor privado que vivem
exclusivamente do
dinheiro público.
Funcionária é agredida por paciente
Sob intervenção após denúncia contra o Ipas, Farmácia
com poucos funcionários vira palco de agressões
os
está sendo prejudicado por
causa da falta de reagentes.
Outro grave problema
enfrentado pelo
Hemocentro é com relação
à falta de seringas e
recipientes para
armazenagem de material,
o que levou a unidade a
suspender a coleta de
sangue externa por doação.
A dificuldade para
garantir a segurança na
transfusão de sangue e a
agressão a uma servidora
da Farmácia de Alto Custo
soam como o limite do
sucateamento do Sistema
Único de Saúde (SUS) em
Mato Grosso. Este é mais
um item da lista de
problemas que desfiguram
o SUS, considerado o
melhor plano de saúde do
mundo. Faltam leitos,
usuários esperam até um
ano ou mais por cirurgias
ou exames mais complexos,
o único hospital psiquiátrico
está fechando as portas e a
gestão de vários hospitais
públicos está nas mãos da
iniciativa privada que o
Governo do Estado insiste
em chamar de Organização
Social de Saúde (OSS).
Maria Ângela
Conceição Martins é
conselheira de Saúde de
Cuiabá e faz uma retomada
sobre a criação do SUS ao
lembrar que “a Constituição
Federal de 1988 traz todos
para o atendimento
promovendo a inclusão total
dos cidadãos; o povo fez a
escolha de um sistema de
saúde universal”. A história
também relata que na
década de 90 apenas
quem tinha carteira
assinada podia ser atendido
no sistema público e assim
se excluía metade da
população.
Quando da
implantação do SUS, a
conselheira explicou que o
País já entrou na contramão
do estava sendo proposto
sem definir as fontes de
recursos da União para
financiar a saúde, o que
não ocorre até hoje.
Maria Ângela coloca
questões a serem discutidas
pelo Governo do Estado:
qual a saúde que o
governo quer para a
população? Mato Grosso
quer ser referência em
produção de grãos e
maior consumidor de
agrotóxicos ou quer uma
população composta de
culpa dela, mas do
governo que reduziu a
equipe. Nesse momento a
paciente teria dado um
tapa no rosto da atendente.
Todos foram parar no Cisc
Planalto, onde foi lavrado
o Boletim de Ocorrência.
Funcionários da
Farmácia que não querem
se identificar temendo
represálias contaram ao
Circuito Mato Grosso
que dos seis guichês,
apenas cinco têm
atendentes por conta da
redução drástica de
funcionários desde a
intervenção, que ocorreu
após denúncia de que uma
grande quantidade de
medicamentos estava com
prazo de validade vencido
no estoque.
Como chegou uma
nova remessa de remédios,
até 500 pessoas têm
procurado a Farmácia por
dia e a espera tem
chegado a até três horas
pelo atendimento.
cidadãos saudáveis?”.
Segundo a conselheira, a
Lei nº 8142 propõe que a
população se organize
através de conselhos e
associações. “O cidadão é
quem deve controlar os
serviços prestados e
resultados de seus debates
devem ser agenda de
governo”.
Mesmo pensamento
tem Werley Perez, médico
que atua no Programa de
Saúde da Família: “O
desinteresse da população é
enorme, pois está descrente
do sistema atual. Os
cidadãos são meramente
figurativos na gestão e suas
pautas de reivindicações
deveriam se converter em
políticas públicas”. O
médico também relata o
desestímulo que paira sobre
a classe médica com os
poucos avanços que houve
na melhora da infraestrutura
para melhorar o
atendimento ao cidadão: “É
muito mais amplo que um
cara com estetoscópio no
pescoço e um receituário na
mão dizendo que vai
melhorar a saúde das
pessoas”, ponderou Perez.
Fa l t am s e r i nga s e k i t s pa r a t e s t e de
compa t i b i l i dade , e ma t e r i a l v em s endo
emp r e s t ado de t e r c e i r o s
Ma r i a  n g e l a Ma r t i n s
( em p é à d i r e i t a )
d e f e n d e a
p a r t i c i p a ç ã o p o p u l a r
n a g e s t ão do SUS
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