CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 19 A 25 DE SETEMBRO DE 2013
POLÊMICA
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Secopa estaria atrasando o repasse às construtoras que, por sua vez, não estariam pagando em dia às subempreiteiras.
Por: Camila Ribeiro e Sandra Carvalho. Fotos: Mary Juruna
CALOTE
Sem salários, operários deixam obras
Empresas que
venceram licitações para
boa parte das obras de
mobilidade urbana, que
estão sendo realizadas em
Cuiabá e Várzea Grande
com vistas ao Mundial de
2014, estariam
enfrentando um sério
dilema: a falta de
pagamento por parte da
Secretaria Extraordinária
da Copa (Secopa). Os
constantes atrasos nos
repasses ou a falta de
pagamento geram uma
“reação em cadeia”, já
que as empresas
contratadas que
terceirizaram alguns
Consórcio Marechal Rondon
também enfrenta problemas
Em Várzea Grande,
outra terceirizada estaria
sem receber sob a
alegação de que a
empreiteira contratada
pela Secopa não estaria
recebendo em dia os
repasses devidos. O
empresário Jailson da
Silva Barbosa, dono de
uma empresa que
trabalha como prestadora
de serviços na obra de
ampliação e readequação
do Aeroporto Internacional
Marechal Rondon, diz que
está sem receber do
Consórcio Marechal
Rondon há pelo menos 70
dias.
Ele conta que
procurou o consórcio e foi
informado que lá também
estavam sem receber da
Secopa. Formado pelas
empresas Engeglobal
Construções Ltda, Farol
Empreendimentos e
Multimetal Engenharia, o
consórcio tem um contrato
de R$ 77,2 milhões para
realizar a obra.
O
Circuito Mato
Grosso
Grosso
procurou a
Engeglobal para
confirmar o atraso e
recebeu a seguinte
resposta: “A diretoria da
empresa não vai se
pronunciar. Quem deve
falar sobre isso é a
Secopa”, disse a
secretária.
“O que me deixou
indignado é que a gente
trabalha e é humilhado,
perde tempo. Tenho
despesas com a
manutenção do
caminhão, tenho que
pagar salários. Cadê a
seriedade da empresa,
do governo?”, completa
Jailson Barbosa diante do
impasse.
O secretário extraordinário da Copa 2014,
Maurício Guimarães, garante que as
empreiteiras não estão recebendo com
atraso. “Em regra geral essa informação de
atraso não é verdadeira. Nós tivemos alguns
atrasos pontuais dos recursos do Dnit, que
todos sabem que passou por greve, então
houve dificuldades em fazer a aprovação de
nossas contas e liberar mais recursos”.
Mesmo com esse problema, segundo
Maurício Guimarães, o Governo do Estado
conseguiu aportar esses recursos apesar de o
sistema Fiplan mostrar o contrário. “Hoje nós
não temos atrasos de pagamentos, o que às
vezes demora é uma medição tramitar e
dentro dessa questão dessa burocracia, fecha
na construtora, vai pro gerenciamento, vai
pros fiscais, aí depois vai pro financeiro, isso
às vezes tem um deadline de 20, 30 dias.
Mas atrasos de pagamento não há”.
Secretário nega
atrasos e culpa Dnit
serviços consequentemente
não conseguem efetuar os
pagamentos.
É o caso da obra da
Trincheira do Santa Rosa,
por exemplo. A construtora
responsável pela obra –
Camargo Campos S.A
Engenharia e Comércio –
tem empenhado R$
32.877.812,00 em 2013,
mas só recebeu até agora
R$ 2.998.534,00, de
acordo com o Sistema
Integrado de
Planejamento,
Contabilidade e Finanças
(Fiplan).
A Camargo Campos
terceirizou a FCA
Engenharia para a
realização de alguns
serviços. No entanto, a
terceirizada não estaria
efetuando devidamente os
pagamentos aos
trabalhadores, sob a
alegação de que não está
recebendo os repasses da
construtora.
Muitos funcionários,
inclusive, já abandonaram
o canteiro de obras,
alegando que, não
bastassem os atrasos
quanto ao recebimento
dos honorários, a FCA
ainda estaria efetuando
pagamentos ‘picados’. “O
funcionário trabalha
certinho, mas chega no
dia de receber não
recebe. A gente procura o
responsável pela empresa
e ele vai ‘empurrando
tudo com a barriga’, a
situação fica insuportável,
porque a gente tem
família para sustentar.
Onde é que já se viu
trabalhar e não receber?”,
questionou o mestre de
obras Pedro Pereira da
Costa.
O trabalhador relata
que permaneceu na obra
somente 45 dias, que é o
tempo de experiência. Isto
porque ele começou a
trabalhar no local no dia
1º de julho e já no
primeiro mês recebeu o
salário atrasado e
‘pingado’. “A minha
remuneração era de R$
3.500, sendo R$ 2.100 na
carteira de trabalho, mas
no dia de receber o
responsável me entregou
R$ 200”, alegou Costa,
mostrando indignação
com a situação.
Ele explicou, ainda,
que permaneceu mais 15
dias do mês de agosto no
canteiro de obras apenas
para cumprir o contrato de
experiência. “Já passamos
da metade de setembro e
ainda não recebi esses dias
trabalhados. Estou com
prestação do carro
atrasada; esse problema
atrasa a vida de nós
trabalhadores e por isso
perdemos a paciência”, diz.
O ajudante de obras
Agnaldo Matos também
mostra desespero com a
situação. Ele também
pediu demissão por não
mais suportar os atrasos
salariais. “Esse atraso não
é de hoje, já houve greves
aqui, os trabalhadores
estão indignados, e com
razão. Chega a um ponto
em que a gente precisa
pedir a conta”, afirmou
Matos. O problema,
contudo, é que os
profissionais que pediram
demissão alegam que a
FCA Engenharia estaria
retendo a carteira de
trabalho dos
trabalhadores.
“Veja só: a gente não
recebe, sai do lugar,
encontra outro emprego,
mas não pode trabalhar
porque a empresa, além
de não pagar o
trabalhador, ainda se
recusa a devolver a
carteira de trabalho. Hoje
mesmo um homem que
trabalhava na obra veio
aqui e armou uma
confusão, porque já
arrumou outro serviço, mas
já está perdendo, porque
não apresenta a carteira
de trabalho. Teve até
polícia aqui, as pessoas
acabam perdendo a
cabeça”, relatou o
ajudante de obras.
QUADRO MOSTRA ATRASO NOS PAGAMENTOS
Con s t r u t o r a Cama r go Campos , r e s pon s áv e l pe l a
Con s t r u t o r a Cama r go Campos , r e s pon s áv e l pe l a
ob r a da T
b r a
r i nche i r a , t em empenhados pouco ma i s de
R$ 32 milhões, mas recebeu apenas R$ 3 milhões
a
O a j udan t e de ob r a s
Agna l do Ma t o s a l e ga
que j á ped i u demi s s ão ,
ma s , a l ém de não
r e c e b e r s a l á r i o s , a i nda
t e v e a ca r t e i r a r e t i da
pe l a emp r e s a
Te r c e i r i z ada que p r e s t a s e r v i ço ao con s ó r c i o Ma r e c ha l Rondon t ambém a l ega
f a l t a de r epas s e po r pa r t e da emp r e sa con t r a t ada pe l a Secopa
“...Hoje mesmo um homem
que trabalhava na obra veio
aqui e armou uma confusão,
porque já arrumou outro
serviço, mas já está perdendo,
porque não apresenta a
carteira de trabalho. Teve até
polícia aqui, as pessoas
acabam perdendo a cabeça...”